2016-07-08

O QUE PODE E DEVE PORTUGAL FAZER POR UMA UNIÃO EUROPEIA MAIS FORTE?

Portugal está longe de sentir alguma pressão insuportável de vagas migratórias ou de refugiados, que ameacem a integridade do seu território, a estabilidade das suas fronteiras, ou mesmo a coesão da sociedade portuguesa. Também não consta que tenha uma economia de tal forma competitiva nem umas finanças públicas de tal forma equilibradas que se vejam ameaçadas por países da União Europeia mais pobres do que nós e para os quais estejamos a contribuir de forma líquida em ajudas comunitárias há várias décadas.

Se não é essa a realidade que envolve Portugal, então que razões, de outro ou deste tipo como as que levaram o UK a optar por abandonar a U.E., poderiam mobilizar os portugueses a escolher igual caminho e o que ganhariam efetivamente, se muitos entendem que o próprio UK, uma das economias mais pujantes do mundo, terá muito mais a perder do que a ganhar com a saída? 

Os britânicos com maior poder económico, mais jovens, mais instruídos e residentes nas regiões mais urbanas, manifestaram a sua vocação europeísta, sendo os mais velhos, que menos tempo lidarão com as consequências da decisão tomada, aqueles cujo voto foi decisivo nos resultados do Brexit, entendendo que a permanência na U.E. prejudicava a estabilidade e o desenvolvimento da economia e da sociedade britânica. Ora, se tal dilema se colocasse em Portugal, como reagiria tal tipo de eleitorado, algum dele afeto ao BE, partido que se pronunciou já como favorável ao mesmo tipo de consulta popular?

Considerariam que o aumento da probabilidade de virmos a pedir um novo apoio financeiro aos nossos parceiros europeus se deve à U.E., mais do que à sistemática violação das regras de gestão das finanças públicas que assumimos cumprir mas que teimamos em desprezar, gerando mais dívida, mais défice e maior desequilíbrio orçamental, desconfiança dos mercados sobre a nossa capacidade de governação e possíveis cortes no financiamento internacional à nossa economia?

Considerariam que a estagnação da atração de investimento estrangeiro que experimentamos, do qual necessitamos para gerar riqueza e emprego em setores de tecnologia avançada se deve à U.E., mais do que à solução governativa que as esquerdas engendraram (algumas teimam mesmo na benevolência e admiração ao modelo político e económico venezuelano) e que afugenta os investidores internacionais?

Considerariam que o medíocre crescimento da nossa economia, sem influências na geração de emprego e na redução do desemprego, apesar dos milhões de €uros que diariamente recebemos em ajudas comunitárias, há 30 anos (desde 1986), se deve à U.E., mais do que à nossa incapacidade de promovermos as necessárias reformas estruturais que tornassem a matriz económica mais competitiva e sustentável?

Considerariam que a necessidade de recapitalização da nossa banca se deve à U.E., mais do que ao volume de crédito malparado e aos ruinosos negócios apoiados com manifesta instrumentalização política e financeira da banca, em detrimento de uma vocação económica politicamente relegada?

Considerariam que a fraca produtividade dos fatores da nossa economia, seja no trabalho seja no capital, se deve à U.E., mais do que à nossa incapacidade de gestão dos mesmos em benefício do crescimento do rendimento per capita, que teima em manter-se afastado da média da U.E.?

Os resultados das eleições em Espanha não apontam no sentido do populismo radical demagógico, mas sim da moderação e da opção pela responsabilidade, ou seja, dos partidos políticos situados ao centro do espectro ideológico e não nos extremos.
Confesso-me curioso para o que virá a acontecer em Portugal, nas próximas eleições legislativas, mais ainda se elas vierem a ser antecipadas, sendo que, até lá, bem que poderíamos contribuir, de forma séria e esforçada para uma União Europeia mais forte, governando com maior responsabilidade e diminuindo as fragilidades da nossa economia.

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