O treinador da selecção nacional de futebol, indisposto com as perguntas que os jornalistas dos vários órgãos de comunicação social lhe faziam terminado o jogo com a Finlândia, referia agastado que Portugal está mal habituado.
Tenho dificuldade em concordar na totalidade com essa afirmação, identificando mesmo alguns sinais de Portugal está (infelizmente) a ficar por demais habituado ao nivelamento por baixo, à resignação, à desresponsabilização pelos resultados programados e não conseguidos, à falta de exigência e à perda de ambição.
Ao contrário de outros países europeus, bem próximos de nós, que estabeleceram um ideal de sociedade vencedora, o nosso país parece caminhar para a resignação com a sobrevivência, pouco honrosa, na cauda das estatísticas. Essa resignação nacional é visível quanto aos índices de desenvolvimento económico da União Europeia e da OCDE, de rendimento per capita, da estagnação da produtividade da economia, do aumento da carga fiscal sem contrapartidas de melhor funcionamento do Estado, da degradação continuada dos sistemas de saúde, do abandono escolar, do crescente facilitismo do sistema educativo, dos elevados gastos dos governantes e gestores públicos em tempo de crise, do constante aumento do desemprego qualificado, da gestão autárquica judicialmente acusada mas reeleita, das promessas eleitorais não cumpridas ou mesmo invertidas, entre muitos outros indícios.
A tudo isto parece o país ter-se rendido, impotente na responsabilização dos autores, descrente na capacidade activa de travar ou alterar a prática quotidiana de exercício de um poder que cada vez se sente mais distante, apesar de as dificuldades serem crescentes, os direitos diminuírem, os deveres e as obrigações aumentarem.
Vai-nos restando, aos olhos do mundo, uma esperança de recuperação da grandeza outrora ostentada, que é o futebol, pelo que se compreende a expectativa generalizada de que a exibição da selecção nacional tivesse mais brilho (não em resultados, mas sim em espectáculo) por se considerar que a mesma tem competências para tal.
Tal perspectiva de exigência, de querer mais do que o simples apuramento para a fase seguinte, argumentada pelos jornalistas em representação de uma boa parte da opinião pública nacional, não parece ter agradado ao seleccionador nacional, que considera que nos devemos acomodar ao mínimo, ao suficiente, como se exigir a excelência fosse algo condenável.
Scolari percebeu já que uma boa parte dos portugueses deixou de ser exigente com o Estado, com o Governo, com as autarquias, com a quase generalidade das instituições. Ora, deixando de ser exigentes consigo próprios, como podem vir exigir ao seleccionador nacional uma elevação do nível de desempenho?
Talvez Scolari tenha razão. O problema está do nosso lado, porque um país resignado, sem ambição, que tem pavor a exigir a excelência e banaliza a mediocridade, terá dificuldades em construir um futuro risonho.
Aos políticos cabe, a vários níveis de exercício do poder, devolver ao país a ambição, em diferentes domínios.