O PSD tem vindo a promover por todo o país, através do Fórum das Políticas Sociais, o debate tendente à consolidação de propostas de políticas públicas em vários domínios, desde a saúde à educação, passando pelo trabalho e pelo emprego, bem como pela formação profissional, com a preocupação de que as mesmas assumam uma perspetiva contributiva para a dinamização do mercado de trabalho e para a criação de emprego de qualidade.
A
iniciativa não poderia ser mais oportuna, à luz da necessidade de que governo e
oposição discutam concertadamente a definição e desenho dum quadro de
intervenção das políticas públicas sobre a qualificação dos recursos humanos
num futuro imediato e de médio prazo. Passada a crise económica e financeira
recente, haverá que reequacionar preocupações e visões em torno do contributo
das mesmas para a afirmação e consolidação de uma matriz económica
substancialmente diferente da que antecedia a crise, bem como dos efeitos
emergentes das alterações demográficas em curso na Europa e no mundo ocidental
em geral.
A
discussão poderá por isso assumir contornos e focos de preocupação substancialmente
mais alargados em termos temporais daqueles que constituíram a recente
intervenção de emergências das políticas públicas, focadas na resposta à
requalificação e adaptação profissional dos desempregados, dispensados pelos
tradicionais setores da economia portuguesa, ou insuficientemente ajustados
pelo sistema de ensino, às necessidades emergentes do mercado de trabalho, em
profunda transformação durante a crise económica e financeira que nos afetou
durante a presente década.
Sendo
reconhecido o sucesso das políticas públicas recentes, promovidas neste âmbito
pelo IEFP por iniciativa própria e por via da mobilização de parcerias
qualificadas envolvendo associações empresariais, sindicais, agentes do
desenvolvimento local e instituições do ensino superior, a definição de futuras
políticas públicas de qualificação poderá agora acolher preocupações em torno
do modelo de intervenção sobre os jovens: formação profissional mais
qualificante e alternativa ou mais complementar ao sistema de ensino? Formação
profissional de adaptação e ajustamento à inserção profissional, ou mais
estruturada para requalificação dos jovens com dificuldades de inserção no
mercado de trabalho?
Também
sobre a formação contínua, de adultos, algumas preocupações deverão merecer
reflexão: uma formação contínua promovida pelas empresas e pelas associações
empresariais ou mais ditada pelos operadores do mercado? Uma oferta de formação
mais orientada pelo Estado ou mais aberta às intervenções no mercado de
trabalho, sejam empregadores ou operadores de formação? Uma oferta mais
condicionada pela orientação pública, ou mais aberta aos desejos e aspirações
profissionais dos destinatários da formação?
Por
último, uma preocupação que me parece relevante e urgente ser debatida,
prende-se com o modelo de qualificação destinado a abranger o prolongamento da
vida ativa da geração X, ou seja, daqueles que estão agora em torno dos 50 anos
de idade, os quais poderão ver a sua longevidade profissional prolongada por
mais 20 a 25 anos, decorrente das alterações demográficas em curso.
Trata-se
de uma geração que beneficia de intensos ganhos da vida biológica, para os quais
não se preparou adequadamente em termos de poupanças económicas e que se depara
com a incerteza da continuidade dos atuais contornos do Estado Social,
obrigando-se ao prolongamento da vida ativa, que ultrapassa largamente o
entendimento até agora alimentado do envelhecimento ativo. As ameaças de desemprego
e de precariedade laboral que sobre eles penderão, obrigarão por certo ao
ensaio de novos modelos de intervenção pública no domínio das qualificações profissionais,
pessoais e sociais desta geração, seja do seu aprofundamento, do reforço, ou
mesmo da requalificação, ou ainda do estímulo ao empreendedorismo que explore a
vasta experiência profissional acumulada.
Sejam
quais forem os modelos a pensar e a ensaiar, poucas dúvidas restarão sobre a
elevada probabilidade de dever ser o Estado a avançar nesta matéria, dada a
expectável indisponibilidade dos atores
e agentes do tecido empresarial para um investimento com um prazo bastante
limitado de retorno no âmbito das qualificações destes recursos humanos.