2005-12-21

OPÇÕES EQUILIBRADAS PARA 2006 EM ÉVORA

Na sequência da aprovação pela Câmara Municipal de Évora das Grandes Opções do Plano para 2006 bem como do correspondente orçamento e, não se esperando que tal decisão possa vir a ser alterada em sede de Assembleia Municipal, dada a maioria ali existente do partido que sustenta a maioria da CME, cabe aqui deixar uma nota de apreço pela decisão.
  • Foram colocados acima dos interesses dos partidos políticos, os interesses do município;
  • Foi tomada em consideração a situação financeira da CME e mantida em limites teoricamente controláveis, as despesas previsíveis para 2006;
  • Foram assegurados os compromissos financeiros do município relativamente ao elevado número de obras que o anterior executivo iniciou em 2005 e cujos compromissos transitam naturalmente para o próximo ano;
  • Foram garantidos os interesses dos (pequenos e grandes) fornecedores e empreiteiros da CME que não se podem ver prejudicados de um momento para o outro por qualquer leviana decisão de algum vereador menos consciente da responsabilidade do desempenho do seu papel;

No fundo, o executivo municipal mostrou que tem no seu seio vereadores responsáveis, ponderados, conscientes e com suficiente grau de bom-senso, o que nos deixará a nós, eborenses, mais tranquilos, ao vermos afastada a recorrente ameaça da instabilidade governativa decorrente da erosão das maiorias absolutas.A evidência revelou neste ano que agora termina que assim não é e, pessoalmente, estou convencido que é possível manter esta tónica e este registo de actuação para o futuro, a bem do município.

A bem de todos, que nos continuem a surpreender positivamente em 2006 como já foram capazes de o demonstrar em 2005.

2005-12-04

ANOS DE VÍCIO DA MATRIZ CULTURAL ... OU A ILUSÃO DA MODERNIDADE

Há anos que nos tentam convencer, especialmente os intelectuais e os políticos deste país que Portugal mudou substancialmente desde a revolução de Abril de 1974.
Há anos que os investigadores e pensadores das ciências sociais portuguesas nos tentam vender nas universidades a ideia de que é possível que Portugal seja diferente do aqui está descrito, numa lógica de meritocracia, justiça, igualdade e equidade perante as várias dimensões da vida quotidianda, do exercício da cidadania e do desempenho profissional.
Sinceramente vos digo que, por achar gastos os discursos nesse sentido e verificar a cada dia que passa os mesmo sinais contrários que sempre encontrei, me pergunto se o Portugal de hoje é realmente mais moderno (no sentido de livre e desprendido) nas mentalidades, do que era antes de Abril de 1974 (o que deveria constituir, especialmente para os políticos, um motivo de reflexão sobre os - talvez vãos - resultados da sua acção ao longo das 3 últimas décadas).
Ou, dito de outra forma, como podemos enfrentar a globalização com os quadros mentais que temos e os vícios que deixámos instalar?
  • Hoje em dia, muito do recrutamento e a promoção para as empreass privadas e para os serviços públicos (especialmente os autónomos e outros com margem de manobra ao nível local para contratação a termo certo) tem ou não em conta o grupo de pertença, a prevalência da relação face à tarefa, em vez de se basear nas competências e nas regras? O que mudou substancialmente?
  • A pertença das pessoas a um grupo legalmente constituído e socialmente reconhecido continua ou não a ser uma das poucas formas de participação (e de intervenção na influência dos contextos circundantes) na distribuição do leque de benefícios passíveis de acesso, numa lógica de lealdade em troca de protecção? O que mudou suibstancialmente?
  • Hoje em dia, não continua a ser valorizada a manutenção da harmonia formal (o tal país de brandos costumes) em vez de cada um dizer o que pensa? A harmonia e o consenso social não continuam a ser metas fundamentais, em vez da autorealização do indivíduo, originando uma subordinação eterna e leal ao influenciador da empregabilidade pela "cunha"? O que mudou sustancialmente?
  • Hoje em dia, não continuamos a aceitar que todos devem ser modestos, a condenar o sucesso dos que nos são próximos, continuando a rejeitar como norma o estudante e o profissional excelente? O insucesso escolar e a negligência ou o erro profissional não continuam ser considerados erros menores? O que mudou substancialmente?

Nos aspectos essenciais, profundos, enraizados e fundamentais da nossa cultura, aquels que marcam os traços da nossa matriz e que continuam a ser transmitidos nas nossas escolas, em que nos diferenciamos hoje, em termos de quadros e programação mental, do que acontecia antes de Abril de 1974?

Muitos dos que estão a ler, certamente estarão indignados com as palavras, porque lhes tocam a sério e fundo na realidade do quotidiano. Mas, ... uma coisa é a realidade e outra o que gostaríamos que ela fosse, mais ainda aquela visão do Portugal de futuro (que seria hoje) que venderam à minha geração na escola, numa visão utópica que é realmente apenas e só isso, contrastada com a realidade: utópica.

Em que medida contribuiu a nossa integração na Europa Comunitária para nos preparar cultural e mentalmente para os grandes desafios que devemos enfrentar num mundo global que cada vez menos funciona com estas referências? Fazemos realmente parte de uma Europa estruturada num eixo Oeste-Leste onde tende a imperar uma modernidade intelectual integrante do eixo norte-sul?

Em que medida tal integração e os milhões diariamente recebidos e gastos constribuiram para nos diferenciar da América do Sul, da África Ocidental e Oriental, das mais pobres regiões da Ásia, onde estes quadros mentais ainda hoje predominam?

É certo que, historicamente, esta forma de pensar e de encarar o mundo é muito característica da Europa do Sul, bem como de outros países mais desenvolvidos em que fertilizaram regimes totalitários, vulneráveis ao crescimento do fundamentalismo e intolerâncias religiosas, políticas e ideológicas. Mas, também é verdade que muitos desses outros países, bem perto de nós, partindo do mesmo estadio e influenciados pelas mesmas circunstâncias deram um salto substancial e se libertaram de tais estigmas...

E nós? A sondagem espelha bem como ainda pensamos e, mais, como funcionamos mentalmente e como agimos quotidianamente.