Não pretendendo ir pela clássica argumentação de que o sistema educativo é reprodutor das desigualdades sociais existentes, desenvolvida e refinada pelos marxistas, há no entanto algo enigmático que nos deverá preocupar, por crescer com o aprofundamento da globalização, a qual era suposto ter trazido outros resultados:
É que a globalização da informação, afinal, não está a acarretar iguais oportunidades para todos, em consequência da difusão e proliferação das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação pelo mundo inteiro.
Antes pelo contrário, a concentração de conhecimento (o único factor com valor efectivo das sociedades modernas, que representa muito mais do que o simples acesso à informação), é cada vez maior, nos polos urbanos e nas regiões que já levavam avanço da era industrial.
As assimetrias de desenvolvimento económico e social, entre regiões do mundo, países, ou regiões internas, por isso, não se esbateram, antes se acentuam a cada dia que passa, porque os recursos financeiros e humanos, mais o conhecimento, se continuam a concentrar e não a dispersar ou isolar.
Como podem os alunos do 1º ciclo do ensino básico de uma escola de uma aldeia alentejana em processo de desertificação, aceder algum dia aos lugares de topo do ranking nacional do ensino secundário (admitindo que passem do 9º ano, quando a cada ano aumenta o abandono escolar por essa altura), partindo de uma classe mista com os 4 anos de escolaridade ao mesmo tempo e apenas um professor para um grupo de 20 ou mais (diferenciados) alunos?
Imagino que, em teoria, alguma tese de investigação já tenha alguma vez demonstrado a possibilidade de que o grau de oportunidades entre estes alunos e os do litoral, numa escola de Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro ou Braga, seja igualitário. Mas, daí até que a sua veracidade seja comprovada, na prática, vai a mesma distância que separa os resultados dos alunos do interior aos do litoral: uma enorme brecha.
Mesmo que estejam rodeados de computadores e acessos à web, porque a brecha é, desde logo, digital, mas não só.