2016-09-24
2016-09-23
PORTUGAL SEM SURPRESAS: O QUE SEMPRE FOMOS
Confesso
que, após alguma disciplina intelectual, já consigo hoje não me surpreender, escandalizar
ou stressar com cenários ou factos concretos que ocorram ou tenham acontecido,
no campo da política nacional, por mais esotéricos e conspirativos que possam parecer
à primeira vista. Entendo por isso como racionalmente explicável o Portugal
político de hoje, com a amarração do governo do PS aos interesses imediatistas
e politicamente “realistikes” do BE, que já tinha prometido esticar a corda, a
troco da manutenção do poder e do exercício da governação. Contaram, e, bem,
com o silêncio que sempre norteou os dirigentes do PS perante as maiores
contradições ou atrocidades económicas, sociais ou políticas da governação
socialista, porque a domesticação interna sempre foi (ao contrário do PSD, onde
a contestação interna é uma das pedras de toque da vitalidade do partido) uma
das regras da cultura interna, iniciada e cultivada por Soares por via do
despotismo, exponenciada por Sócrates, por via do sempre sujo controle de
bastidores.
Dos
militantes e simpatizantes do PS, nem valerá o esforço falar, se recordarmos a
defesa exacerbada da criminosa irresponsabilidade socratina na governação,
especialmente em 2009 quando comprou claramente os votos, mas, ainda hoje,
poucos são os que não atribuem ao governo do PSD/PP a responsabilidade pela
desgraça em que Sócrates deixou o país. Na verdade, esse governo que salvou o
país, com sacrifícios de todos, cometeu o erro de não apurar a verdadeira
situação do mesmo, quando iniciou o seu mandato, em nome da defesa da imagem
externa perante os credores. Os erros políticos pagam-se, quando não se interpreta
corretamente a matriz da cultura política do eleitorado.
As
romarias à prisão de Évora e o branqueamento e defesa da governação desastrosa
de Sócrates, poderão não representar qualquer cegueira ideológica dos
militantes e simpatizantes do PS, mas mais a desresponsabilização de cada um
dos que votaram em Sócrates e Costa pela ilusão e facilitismo popularucho e
demagogo que é atrativo aos que evitam pensar ou refletir sobre as
consequências dos seus atos e escolhas na vida futura dos seus descendentes e
familiares. É mais fácil atribuir a culpa ao sistema, dizer mal de todos os
políticos, que pensam apenas neles e não no povo e, assim, ficarem tranquilos
de consciência, susceptíveis aos renovados encantadores de serpentes.
No
fundo, a renegociação da dívida portuguesa, que tantos defendem e muitos mais
aceitariam, apenas reproduz o mesmo modelo de desresponsabilização pelos erros
passados, os quais nos recusamos a reconhecer, sendo mais fácil alinhar na
defesa da limpeza do quadro, virando o contador a zero para que, provável e
inevitavelmente, venhamos a repetir os mesmos, pelos quais pagámos, mas, por
culpa de quem os tentou corrigir, ou seja, do Passos Coelho e do Paulo Portas.
Sim, porque nós não tivemos qualquer culpa por esses erros, nem pedimos que os
corrigissem. Quais erros? Corria tudo bem …
Típico
não só das elites partidárias e do eleitorado latino e latino-americano, pelo
que a ninguém espanta que Sócrates continue a ameaçar, atacar, confrontar
juízes e todo o sistema judicial, ou que seja convidado e aplaudido pelo PS
para fazer palestras e ser homenageado por ações que estão a ser investigadas
pelo mesmo poder judicial. A justiça, esse ente abstrato, é propriedade de
avaliação de cada um de nós, que ditamos as edições das revistas e jornais e os
shares televisivos e, interessa é a
imagem de quem nos leva o voto, que nos fala ao ardor revolucionário que os
portugueses alimentam.
Desiludam-se,
pois, aqueles que considerem alterável esta matriz da cultura política portuguesa
nos próximos anos, pois, por distração, não se deram conta da produção do sistema
educativo português e dos valores que o mesmo tem vindo a transmitir e formatar
(agora revelados publicamente pela geração manas Mortáguas): o branqueamento do
ideal revolucionário e terrorista do PREC e a condenação cega e inexplicável do
sistema capitalista em que vivem e do qual sabem apenas pretender rejeitar.
No
fundo, apesar do Estado Novo, da revolução e do amadurecimento democrático da
U.E., não deixámos de ser uma sociedade submissa e temente ao poder político,
grupal, coletivista, protetora e pouco estimuladora do valor e do mérito
individual. Quem não entender isto, não ganha eleições: tirando a exceção
Cavaco (a quem a esquerda não perdoa que tenha sabido interpretar o sentimento
do eleitorado), os ciclos de governação do PS e da esquerda têm vindo a ser bem maiores (sempre
quase em dobro) que os do PSD/PP.
2016-09-19
OS CUSTOS POLÍTICOS E ELEITORAIS DO DISCURSO REALISTA
Continua, em crescendo, a pressão sobre o líder do PSD para que altere o seu discurso, na oposição, com vista a inverter as continuadas perdas de posição nas sondagens eleitorais e a deslocação das preferências de voto para os partidos do governo, nomeadamente para o PS e BE.
Interna
e externamente ao PSD, adversários e analistas elencam os riscos de Passos
Coelho repetir resultados eleitorais semelhantes aos de Manuela Ferreira Leite,
em 2009, quando tomou a mesma opção e proporcionou a segunda maioria a
Sócrates, ao seguir a estratégia de apresentar ao eleitorado a imagem real da
situação do país e os cenários negros que podem vir a traduzir as consequências
económicas e financeiras negativas de uma governação socialista rendida à
chantagem da esquerda radical.
O
governo e os partidos da esquerda que o apoiam, desafiam o PSD a apresentar
propostas concretas para o próximo Orçamento de Estado, em vez de esperar
apenas pelo vaticinado afundamento da economia e das finanças do país e em consequência,
por um provável novo resgate financeiro, que determinaria nova dose de
austeridade, reforçada, a aplicar pela governação das forças agora na oposição.
Mas, Passos Coelho repete a todos o aviso de que não vai mudar de discurso,
nomeadamente nos alertas sobre os riscos das opções da atual governação, ainda
que se tenha escusado, até agora, a apostar decididamente em recordar ao
eleitorado as suas opções alternativas de governação e que constituem o ativo
de esperança que lhe permitiria, distintivamente, valorizar a sua capacidade de
evitar hoje os problemas do país que poderá vir a ter que resolver no futuro.
A
recusa de substituição do discurso realista assenta assim na desvalorização das
possíveis consequências do mesmo nos resultados eleitorais, caso o mesmo venha
a revelar-se suficientemente preocupante e assustador aos olhos do eleitorado,
que poderá não estar disponível para o aceitar, em alternativa ao otimismo
exagerado, mas, tranquilizador do governo. Passos Coelho diz que salvar o país
é mais importante que os resultados eleitorais, mas, a preocupação de muitos,
conscientes da elevada probabilidade de concretização dos cenários previstos no
discurso realista é a de que, sem ganhar eleições (agora necessariamente com
uma maioria bem expressiva), não há forças políticas nem protagonistas que
tenham oportunidade de salvar o país. Manuela Ferreira Leite que o diga.
O
discurso realista, enquanto veículo de protesto da verdade, é sem dúvida
necessário e justificado na responsabilização do eleitorado pelas opções que
faz (ou de que se abstém) nas urnas, mas deve contar-se com as inúmeras vezes,
tornando-se facilmente em regra, em que somos derrotados a combater o erro e a
demagogia diante do eleitorado. Também não deixa de fazer sentido que o
discurso realista, coerente, repetida e prolongadamente assumido sirva o
propósito de afirmar uma verdade que, sabemos, conquista lentamente e não de
rompante, mas, há contar com a surpreendente vitalidade da demagogia, do
populismo e da ilusão, que o eleitorado alimenta, por preguiça, interesse ou
anomia social e política.
Compreender
o sentir da maioria do eleitorado, ou seja, das pessoas comuns, com vista a
adaptar o discurso, não àquilo que querem ouvir, mas àquilo que estão preparados
para ouvir, à data, tornar-se-á crucial para vencer as próximas eleições
legislativas, independentemente de quando as mesmas ocorram. Alertar para os
riscos que estamos a correr, continua a justificar-se, mas, sem um complemento
de propostas construtivas com vista a evitar esses riscos e a vencer com
mobilização e empenho os desafios daí decorrentes, constitui em si mesmo um
risco não menos elevado de assustar o eleitorado com o anúncio da catástrofe.
E, isso não salvará o país, porque entregará a continuidade da governação aos
menos capazes, mas mais convincentes.
Os
partidos políticos existem para conquistar e exercer o poder, como referiam as
leis de Duverger. Não há exercício sem conquista. Não se salva o país na
oposição. O PS é exímio na aplicação interna dessa lei da sociologia política,
o BE e até o PCP, também já perceberam que, para mudar alguma coisa, terão que
participar no sistema ou aceitar o mesmo, ainda que a contragosto.
2016-09-13
UMA AGENDA ALTERNATIVA, DE CONFIANÇA, AO (DES)GOVERNO DO PAÍS
Em vez de realizar digressão pedagógica pela Irlanda, procurando aprender com os que, assumindo opções próprias e coerentes, nos ultrapassaram no grau de autonomia atingida perante os credores internacionais que hoje confiam cegamente naquele país e ali arriscam investimentos que fazem crescer a riqueza e o emprego qualificado, o PM português opta por seguir a pobreza de espírito e de competência do governo grego, participando na primeira Cimeira dos Países do Sul da União Europeia. O espírito miserabilista nota-se, pois, ao longe, nomeadamente no intelecto e no caráter, na esteira do último PM do PS, ainda que carregado de Prada e outras marcas que, definitivamente, não fazem o monge, apenas envolvem o demagogo, para o consumo do eleitorado português que, diga-se em boa verdade, não se esforça nem exige muito mais, detestando e castigando mesmo os honestos e francos que se esforçam por tirar o país das crises ou procuram evitar as recaídas do país, noutras, sempre mais graves que as anteriores.
O
atual PM defende alternativas à austeridade e então, vai procurar conselhos,
imagine-se, nos mais depravados gastadores europeus, como os gregos, cuja
estratégia de criação de alternativas à austeridade e de autonomia face aos
credores passa por exigir o perdão da dívida, deles, para que possam retomar o
desgoverno do dinheiro alheio, gastando à tripa forra tudo o que obtiveram, a
partir do esforço dos outros, a quem dizem logo à partida que não devolverão os
empréstimos.
Que
belo exemplo que esta gente dá às gerações mais jovens, na mobilização das
mesmas para a construção de alternativas à austeridade. Sem palavras.
Decididamente
apostado em hostilizar a oposição que ganhou as eleições, o PM atual desafia,
entretanto, o PSD a apresentar propostas para o próximo Orçamento de Estado, com
vista a fazer das mesmas a bandeira do errada e propositadamente classificado
neoliberalismo que supostamente governou Portugal durante os 4 anos em que a
Troika aqui assentou praça, por culpa do desgoverno socialista a cujo governo
pertenceu, com elevadas responsabilidades, o atual PM.
Passos
Coelho respondeu, bem, que é ao governo que cabe apresentar as propostas que
revelem as suas opções de governação e, assumir a responsabilidade política
pelas mesmas. Seria aceitável e justificável que tivesse recordado ao PM atual
os contributos que o PS deu nos últimos 4 anos aos orçamentos de quem governou
o país para evitar a sua falência e promover a recuperação da economia, que
cresceu no passado ano mais do que acontecerá no corrente, ou que tivesse
questionado o atual PM sobre a decisão de chumbo parlamentar do PS ao orçamento
de quem ganhou as eleições, ainda antes de o mesmo ter sido conhecido e
apresentado no parlamento.
O PSD
decidiu assim, finalmente, bem, promover um road
show pelos distritos para escrutinar o OE2017 deste governo, permitindo
marcar a diferença entre a obra que o anterior governo promoveu e realizou pelo
país inteiro, ainda que em tempo de crise e resgate financeiro externo, com o
amorfismo que conhecemos hoje, apesar do anunciado fim da crise e da
austeridade.
Teremos
pois uma boa oportunidade para observar as opções do anterior governo no
Alentejo, durante os últimos 4 anos, em matéria de construção de novos Centros
de Saúde, de apoio aos cuidados continuados de pessoas fisicamente debilitadas,
de promoção da competitividade do tecido empresarial, de apoio à construção de
incubadoras de empreendedores de projetos empresariais, de requalificação e
construção de escolas, de apoio à modernização da agricultura, de estímulo à
valorização turística do património natural, cultural e arquitectónico, de
qualificação estratégica dos RH …
Não
tenho dúvidas de que valerá bastante o esforço do PSD em recordar aos
portugueses e aos alentejanos em particular, o leque de opções programáticas de
governação que apresentou aos portugueses e nas quais a maioria dos mesmos
confiou e sufragou, clarificando, distintivamente perante o eleitorado, o que
estaria neste momento a fazer de diferente, quem ganhou as eleições legislativas,
se tivesse tido a legítima e mais que justificada oportunidade de aplicar tal
programa, em governo.
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