Se os
mercados de trabalhos obedecem hoje a uma dinâmica cujas tendências são
difíceis de antecipar mesmo no curto prazo, então as escolhas universitárias
dos jovens não terão necessariamente que ser condicionadas excessivamente por
aquela incerteza, antes abrindo espaço à vocação pessoal e às preferências dos
próprios, que se prevê virem a permanecer menos tempo na profissão através da
qual iniciam a sua carreira laboral.
Aproximando-se
o momento de escolha de cursos e universidades a que se candidatam, jovens e
suas famílias são o alvo de muitas notícias divulgando estudos sobre o grau de
empregabilidade das várias ofertas das instituições de ensino superior. São
fiáveis os estudos e deverão os mesmos condicionar as escolhas, ou apenas
orientar as mesmas?
A
indicação dos cursos que dão maior garantia de emprego aos recém-licenciados ou
a daqueles que verificam taxas de desemprego mais elevadas entre os finalistas
deve ser lida com alguma prudência. Se é verdade que as áreas das ciências da
saúde e das TIC oferecem perspetivas de se manterem no longo prazo como
geradoras de significativas e relevantes oportunidades no mercado de trabalho,
face à expectável evolução da demografia e da mudança social e tecnológica,
outras áreas há cuja volatilidade resulta em incertezas que devem ser
equacionadas nas escolhas a fazer.
Os
estudos e as notícias que os traduzem revelam pouca informação sobre as
questões da sobrequalificação ou da subqualificação dos mercados de trabalho,
não permitindo perceber com clareza o grau de correspondência entre as áreas de
empregabilidade e as áreas de formação de base, sendo que alguma dessa
dissonância é cada vez mais frequente nos mercados de trabalho, tendo em conta
o elevado e crescente dinamismo dos mesmos.
Ora,
se a tendência marcante é a de que os mercados de trabalho diminuam os prazos
de alteração das suas estruturas e dos quadros relação entre a oferta e a
procura, tal não deve ser ignorado na implicação de menor pressão sobre os
jovens, permitindo-lhes escolherem áreas mais apetecíveis à sua vocação própria
e menos condicionadas às tendências dos mercados, no momento. A consequência é
a de que se torne cada vez mais relevante a capacidade de mobilização para o
mercado, das competências adquiridas, a acrescentar, atualizar ou mesmo a
reconverter a qualquer momento de desemprego, momentos esses que se poderão
tornar mais frequentes e intermitentes no futuro.
Nada
impedirá pois que as competências adquiridas em cursos de áreas como as artes,
as ciências sociais ou o ensino, entre outras, possam ser mobilizadas com
sucesso para atividades (existentes ou de emergência futura) algo distantes à
primeira vista, desde que ajustadas e complementadas com outras competências a
adquirir na fase pós-graduada ou de especialização. Bastará sim que haja
vontade e flexibilidade para isso por parte do detentor das mesmas. A
inflexibilidade, pelo contrário, ditará maiores dificuldades de inserção no
mercado de trabalho, como acontece não raras vezes, por resistência à necessária
adaptação à evolução social, que dita condições de maior volatilidade aos
mercados de trabalho.
Há pois, hoje em dia, uma maior margem de liberdade na escolha das áreas
de formação no ensino superior, atendendo à maior incerteza a que os mercados
estarão sujeitos no futuro, condicionados por uma evolução tecnológica e social
cujos ritmos serão por certo bem mais intensos que hoje e que no passado. É
para a adaptação a essa permanente mudança que há que estar preparado,
mobilizando, completando, atualizando, reciclando ou reconvertendo as
competências de base, seja em que área do conhecimento for.
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