2006-03-09

NÃO É SIMPÁTICO DE DIZER, MAS... A VERDADE É CONHECIDA!

Os senhores professores fizeram uma greve há pouco tempo, com fundamentos que, apesar de legítimos, serão sempre discutíveis, até porque não poderão considerar-se a si próprios como um classe acima de processos de avaliação que tenham por quadro de refreência os contextos em que a escola e os "agentes do sistema" de educação-formação devem procurar a sua legimitação:
  • Que o alargamento da prestação lectiva (em carga horária) prevista os prejudica, sem que tenha sido avançado qualquer outra alternativa à mais que justificável necessidade de maior ocupação dos alunos com actividades extra-escolares, no espaço da escola;
  • Que um professor, no topo da sua carreira, não tão mal remunerado como há duas décadas atrás (no quadro remuneratório da função pública) perdeu as competências adquiridas para desenvolver outras actividades (que não as lectivas) com os alunos. Desconfia-se desde logo que ainda mantenha competências para dar explicações em casa ou que esteja disponível para ministrar formação profissional remunerada pelo FSE no horário que a escola lhe foi reduzindo... Será isso justificável e defensável?

Será razoável tal atitude quando os professores conhecem as directivas comunitárias em vigor sobre a necessidade de aumento não só dos anos de vida activa ao nível profissional, bem como o momento que se vive na Alemanha em que várias categorias profissionais aceitam de forma crescente o aumento dos seus horários diários de trabalho sem compensação monetária? A mesma necessidade chegará a Portugal sob pena de, professores e outros funcionários do estado, não conseguirem ver assegurada a sua reforma... Ou haverá ilusões sobre alguma limitação apenas aos trabalhadores do sector privado, precisamente aqueles que contribuem para as remunerações dos funcionários do sector público?

Será defensável esta atitude face aos resultados mais que evidentes da falência (e urgente necessidade de revisão total) do actual modelo educativo, bem como do sistema, o qual muitos gostam de referir ser o único responsável pelos resultados? Não chega já de atribuir sempre as culpas ao sistema e ao seu funcionamento (nunca aos seus principais agentes e actores) como escapatória de diluição da responsabilidade própria?

O sistema funciona mal? Sem dúvida. Proponham os professores alterações, após identificarem qual a quota de responsabilidade que lhes cabe; Mas, por favor, não mandem folhetos para casa dos pais de alunos do 1º ciclo do ensino básico sobre as "14 regras para os pais desrespeitarem", sob pena de os pais devolverem nas costas dos folhetos um número substancialmente maior de regras para os professores cuprirem, que certamente envergonhará alguns professores quando receberem o seu vencimento no final do mês.

Os pais são agora os grandes culpados do mau funcionamento do sistema? Os sindicatos já perderam a capacidade de luta e reivindicação (credível e construtiva) junto dos Governos? Os Governos deixaram de ouvir a "cassete de sempre" que apenas reivindica a defesa de interesses de classe sem preocupações com o facto de os resultados do funcionamento do sistema a que pertencem ser cada vez pior?

É por isso que algumas escolas aconselham agora os pais a não deixarem os seus filhos na escola, sob pena de no dia seguinte os alunos não quererem regressar à mesma? Então quem foi que transformou a escola nessa instituição supostamente (assim considerada por tais professores) como repulsiva? Não foram certamente os pais.

E como se sentiriam, enquanto pais, os professores que recebessem tal folheto em casa? Como eu? E diriam o quê? Nada? Não acredito... sob pena de não contribuirem para a melhoria do funcionamento do sistema a que ambas a categorias pertencem (pais e professores).

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