A demagogia
das esquerdas duras não encontra mais uma vez limites na argumentação perante o
recente protesto dos taxistas, para sustentar a radicalização ideológica de uma
posição anti capitalista e anti ocidental, lançando mão a tudo o que seja
populismo que renda votos, incluindo a suposta defesa dos direitos dos
trabalhadores, alegadamente ameaçados de precariedade pelo modelo Uber, cuja
erradicação defendem.
Ora, o
modelo de prestação de trabalho da Uber, revela apenas as caraterísticas
inevitáveis das tendências em curso de afirmação para um futuro que já nos
ultrapassou há muito: trabalho independente, prestado para vários operadores,
remunerado à peça, com horário flexível, suportado nas e pelas plataformas
eletrónicas na relação com o cliente e com maior autonomia do trabalhador na
atualização das suas competências profissionais. Trata-se de trabalho precário,
ou apenas de um modelo de trabalho diferente, para o qual teremos que nos
preparar porque será inevitável face ao aprofundamento da economia digital?
O
setor da comunicação social será sem dúvida um dos que melhor espelham esta
realidade em afirmação, mas também a banca e seguros, as viagens, as indústrias
gráficas, a segurança, a educação e tantos outros onde o comércio eletrónico se
impõe a cada dia que passa. A precariedade dos trabalhadores desses setores
aumentou devido ao crescimento das caixas multibanco, dos terminais ATM, do
e-banking, do e-books, do e-learning, do e-mail, do e-commerce, dos jornais
eletrónicos, da TV digital, da Administração Pública digital… ou gerou apenas
novos modelos de organização do trabalho aos quais todos tivemos que nos
adaptar?
Antecipar
e acompanhar as dinâmicas económicas e sociais em curso será uma exigência cada
vez mais premente aos trabalhadores e às empresas, muitas vezes sem apoios do
Estado, o que não aconteceu no caso dos taxistas, os quais o governo premiou
com 17M€ dos nossos impostos em março de 2016, destinados à modernização do
setor: renovação da frota, benefícios fiscais em combustível, formação e
capacitação em línguas e tecnologias digitais. A reação das associações do
setor foi curiosa, sentindo-se politicamente domesticados, pois na verdade o
que pretendiam era o fim da Uber, para o que iniciaram uma escalada de ameaças de
violência que culminaram no recente bloqueio e confrontos em Lisboa.
O
governo, refém das esquerdas duras, geriu de forma desastrosa as expetativas
dos taxistas, evitando enfrentar o problema com a criação de grupos de
trabalho, em vez de encontrar, por antecipação, soluções instrumentais que
permitam preparar a inevitável liberalização do setor (tal como já aconteceu,
paradoxalmente, na Grécia), em vez de reverter como maus exemplos as reformas
em curso na Carris e na TAP, antecipando um futuro de táxis sem condutor que já
nos está a bater à porta.
Perante
isto, faz sentido e há condições para impedir a Uber? Só se for na China, onde
a proibição do Google e a travagem à economia digital é a imagem de marca e o
modelo de uma suposta modernidade alternativa defendida pelas esquerdas duras
em Portugal. A hipocrisia não tem limites, bastando refletir sobre os efeitos
desse modelo de proteção da economia tradicional no que toca ao respeito pelos
direitos humanos, à qualidade do trabalho, ao trabalho infantil, na China.
O
problema, que se acumulará, neste domínio, é o de que a atual solução
governativa se revela impotente para enfrentar e resolver de vez o quadro de
reivindicação dos taxistas e a inevitável liberalização de um setor que não
poderá continuar protegido atrás de soluções monopolizadoras. Dar um passo em
frente na modernização e reforma profunda deste e de outros setores, obriga a
soluções não condicionáveis pelas esquerdas anti capitalistas, antes exigindo o
entendimento político dos partidos ao centro, o qual não se avizinha fácil a
curto e médio prazo, com consequências gravosas a prazo, para os contribuintes
portugueses, os que pagarão no futuro, a inoperância governativa de quem apenas
se interessa pelo poder e não pelos problemas do país.
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