2016-06-09

A INCOMPREENSÍVEL DEFESA DA DEPENDÊNCIA DO ESTADO


Parece significativamente consensual por toda a União Europeia que a promoção de um clima empreendedor que atraia investidores externos e mobilize o capital de risco em direção a novos e inovadores negócios, constitui uma oportunidade relevante para estimular e transformar o crescimento económico e a geração de emprego, sobretudo jovem, recuperando a Europa alguma da desvantagem nesta matéria face a outras economias, como a dos EUA.

Assim, justificam-se políticas públicas de incentivo do empreendedorismo, contributivas de uma maior coesão territorial e económica dos países europeus e das suas regiões, atraindo e fixando jovens, negócios e atividades económicas, que diminuam igualmente as assimetrias demográficas e contrariem as tendências de envelhecimento instaladas. Muito haverá a explorar por cá, na fixação das competências científicas e técnicas dos nossos jovens, diariamente assediados pela Europa Central e do Norte, a cujo chamamento têm dificuldade em resistir, pelas condições oferecidas por um lado e, por outro, pelo desejo de experimentação e teste das sensações e dos contextos identificados através das redes de conexão virtual.

Não poderão igualmente as políticas públicas abrandar os esforços dirigidos ao retorno destes quadros ainda jovens ao país de origem, após o enriquecimento de competências decorrente da experiência profissional internacional, com potencial de benefício para a promoção da qualidade e da criação de emprego e empresas. Mais uma vez, o apoio ao empreendedorismo tornar-se-á por certo determinante.

A considerar ainda atender ao estímulo da capacidade empreendedora de uma geração mais madura, que cresceu com o advento da internet e das tecnologias de informação e comunicação, considerada por muitos como a mais bem qualificada de sempre e marcada pela competição e pela inovação, mas que não escapou ainda assim aos efeitos da crise, vendo-se pressionada a regressar a casa dos pais em consequência das instabilidades laborais e financeiras, bem como da desestruturação familiar que afetou muitos casais dessa geração. O potencial de desenvolvimento de projetos empreendedores e geradores de empresas e empregos, explorando os espaços de localização empresarial municipais e associativos infraestruturados no país, por esta geração técnica e cientificamente qualificada não deverá ser desprezado pelas políticas públicas de promoção do emprego.

A continuidade da aposta na promoção do empreendedorismo parece óbvia e defensável, mas assim não parece ser entendido por uma certa esquerda radical que sustenta a atual governação de Portugal, que crescentemente vem a público condenar a promoção do empreendedorismo, considerando este ideologicamente justificador das situações de pobreza. Vá-se lá perceber o pretende esta gente com a condenação ao empreendedorismo por este acarretar risco, incerteza, precariedade, valorização da iniciativa individual, desejo de sucesso pessoal e liberdade de escolha… chegando à acusação de aproximação do país ao Bangladesh ao enveredar por esta via.

Pelos vistos, a autonomia na organização da vida profissional, a emancipação pessoal e profissional, a auto-regulação da relação laboral e gestão autónoma dos tempos de trabalho, a promoção da conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, são agora desvalorizados na diabolização do empreendedorismo (utopia neoliberal, dizem eles) promovido pelo anterior governo, o qual procurava estimular a iniciativa dos desempregados, alguns dos quais (seletivamente, apenas nos que têm potencial de competências a mobilizar) para que, pelos seus próprios meios e capacidades, possam desenhar uma solução e construir um caminho de saída para a situação em que se encontram.

Não é fácil entender estas posições, antes pelo contrário, é mesmo difícil e desesperante. Estimular o consumo como faz o atual governo, através do crédito bancário que gera maior endividamento para o país e compromete financeiramente o futuro das famílias, parece ser mais aliciante aos olhos desta esquerda radical. Não foi esse o caminho da Irlanda, agora novamente elogiada internacionalmente, exemplo que, curiosamente, alguma esquerda esquece e ignora propositadamente em Portugal.

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