Parece
significativamente consensual por toda a União Europeia que a promoção de um
clima empreendedor que atraia investidores externos e mobilize o capital de
risco em direção a novos e inovadores negócios, constitui uma oportunidade
relevante para estimular e transformar o crescimento económico e a geração de
emprego, sobretudo jovem, recuperando a Europa alguma da desvantagem nesta
matéria face a outras economias, como a dos EUA.
Assim,
justificam-se políticas públicas de incentivo do empreendedorismo, contributivas
de uma maior coesão territorial e económica dos países europeus e das suas
regiões, atraindo e fixando jovens, negócios e atividades económicas, que
diminuam igualmente as assimetrias demográficas e contrariem as tendências de
envelhecimento instaladas. Muito haverá a explorar por cá, na fixação das
competências científicas e técnicas dos nossos jovens, diariamente assediados
pela Europa Central e do Norte, a cujo chamamento têm dificuldade em resistir,
pelas condições oferecidas por um lado e, por outro, pelo desejo de experimentação e teste das sensações
e dos contextos identificados através das redes de conexão virtual.
Não poderão igualmente as políticas públicas abrandar
os esforços dirigidos ao retorno destes quadros ainda jovens ao país de origem,
após o enriquecimento de competências decorrente da experiência profissional
internacional, com potencial de benefício para a promoção da qualidade e da
criação de emprego e empresas. Mais uma vez, o apoio ao empreendedorismo
tornar-se-á por certo determinante.
A considerar
ainda atender ao estímulo da capacidade empreendedora de uma geração mais
madura, que cresceu com o advento da internet e das tecnologias de informação e
comunicação, considerada por muitos como a mais bem qualificada de sempre e
marcada pela competição e pela inovação, mas que não escapou ainda assim aos
efeitos da crise, vendo-se pressionada a regressar a casa dos pais em
consequência das instabilidades laborais e financeiras, bem como da
desestruturação familiar que afetou muitos casais dessa geração. O potencial de
desenvolvimento de projetos empreendedores e geradores de empresas e empregos,
explorando os espaços de localização empresarial municipais e associativos
infraestruturados no país, por esta geração técnica e cientificamente
qualificada não deverá ser desprezado pelas políticas públicas de promoção do
emprego.
A
continuidade da aposta na promoção do empreendedorismo parece óbvia e
defensável, mas assim não parece ser entendido por uma certa esquerda radical
que sustenta a atual governação de Portugal, que crescentemente vem a público
condenar a promoção do empreendedorismo, considerando este ideologicamente justificador
das situações de pobreza. Vá-se lá perceber o pretende esta gente com a
condenação ao empreendedorismo por este acarretar risco, incerteza,
precariedade, valorização da iniciativa individual, desejo de sucesso pessoal e
liberdade de escolha… chegando à acusação de aproximação do país ao Bangladesh ao
enveredar por esta via.
Pelos
vistos, a autonomia na organização da vida profissional, a emancipação pessoal
e profissional, a auto-regulação da relação laboral e gestão autónoma dos
tempos de trabalho, a promoção da conciliação entre a vida profissional e a
vida familiar, são agora desvalorizados na diabolização do empreendedorismo (utopia
neoliberal, dizem eles) promovido pelo anterior governo, o qual procurava
estimular a iniciativa dos desempregados, alguns dos quais (seletivamente,
apenas nos que têm potencial de competências a mobilizar) para que, pelos seus próprios
meios e capacidades, possam desenhar uma solução e construir um caminho de
saída para a situação em que se encontram.
Não é
fácil entender estas posições, antes pelo contrário, é mesmo difícil e
desesperante. Estimular o consumo como faz o atual governo, através do crédito
bancário que gera maior endividamento para o país e compromete financeiramente o
futuro das famílias, parece ser mais aliciante aos olhos desta esquerda
radical. Não foi esse o caminho da Irlanda, agora novamente elogiada
internacionalmente, exemplo que, curiosamente, alguma esquerda esquece e ignora
propositadamente em Portugal.
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