A
recente alteração da terminologia da organização territorial da JSD,
introduzindo a dimensão regional em detrimento da distrital e o desafio lançado
no momento da sua tomada de posse na passada sexta-feira pelo recentemente
eleito Presidente do Secretariado Distrital de Évora dos TSD (Nuno Alas) de
encetar a discussão sobre a dimensão regional de abordagem de problemas como o
desemprego, constituem importantes marcos de manifestação e identificação de
necessidade de modernização do discurso político, perante uma mudança social
que tem sido demasiado rápida nos últimos anos, face à capacidade instalada de
reação e acompanhamento por parte das estruturas partidárias e afins.
O
inoperacional Aeroporto de Beja e o seu suposto milagroso potencial, continua a
ser defendido por muitos como local, de Beja, cidade tão pequena num mundo cada
vez mais globalizado e não do Alentejo, da mesma forma que a Universidade de
Évora se revela incapaz de, com as restantes Instituições de Ensino Superior do
Alentejo (os Institutos Politécnicos de Portalegre e Beja), encetarem processos
de concertação e, muito menos de associação ou fusão, com dimensão regional,
com vista à criação de uma IES do Alentejo.
Em
todos os casos enunciados, a lógica que subsiste na gestão e alimentação de
interesses particulares e locais pouco revela de dimensão regional ou de
integração com vista à conciliação de missões, direcionadas a uma maior escala
para afirmação competitiva nacional e mesmo global. Predomina a matriz
gestionária da sua constituição, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, com os
quadros contextuais que justificaram as suas constituições, como seja o caso da
rede dos Institutos Politécnicos, raramente fieis à sua génese. Fará isso
sentido hoje em dia?
José
Manuel Henriques, sobejamente conhecido e reputado investigador dos ISCTE/IUL
sobre as dimensões locais do desenvolvimento e as virtuosidades das iniciativas
locais que durante as décadas de 1990 prestaram o seu contributo à
revitalização do mundo rural alentejano, chamava a atenção na passada semana em
Odemira, num colóquio sobre Economia Social e Desenvolvimento Local, para a
necessidade de revisitar o já bem gasto mas necessário conceito de
desenvolvimento local, mas nada avançava quanto à viabilidade da escala local
das iniciativas económicas de criação de negócios e emprego, nos dias de hoje,
face ao aprofundamento da globalização, a uma escala e profundidade bem
diferentes daqueles conhecidas nas décadas de 1990 ou 2000.
Ora,
o discurso político local, desajustado face a tais preocupações, continua
muitas vezes preso às formalidades estatutárias da dimensão distrital, sem
sentir nem assumir que as novas tipologias da exclusão social e territorial
atingem hoje tantos as dimensões urbanas como rurais, litorais e interiores,
indiferentes à localização, antes determinadas pela capacidade dos territórios
(estruturas políticas, económicas e sociais) desenvolverem estratégias
integradas de aproximação às oportunidades de inserção nas redes globais de
relações e de dinâmicas sociais, empresariais e económicas, evitando ficarem
excluídos das mesmas.
O
desafio é o de refletirmos sobre o quanto continuamos afastados deste patamar
de reflexão política no Alentejo, para aqueles que reflexionam efetivamente, com
uma preocupação de dimensão regional: vale o esforço falarmos de estratégias de
combate ao desemprego ao nível concelhio ou mesmo intermunicipal perante as recentes
transformações dos mercados de trabalho nacionais e que afetam as gerações Z, Y
e X de uma forma ainda pouco compreendida e para as quais ainda não temos soluções
satisfatórias, sem equacionar o seu enquadramento numa dimensão regional de
intervenção?
Precisamos
de revisitar o discurso político regional com os atuais ou com novos atores
políticos, dependendo dos mesmos saberem interpretar os desafios do futuro,
mais que a tentação de responderem aos anseios de uma segurança dos eleitores nem
sempre possível de garantir num mundo em profunda mudança.
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