2014-11-16

POR UMA DIMENSÃO REGIONAL DO DISCURSO POLÍTICO

A recente alteração da terminologia da organização territorial da JSD, introduzindo a dimensão regional em detrimento da distrital e o desafio lançado no momento da sua tomada de posse na passada sexta-feira pelo recentemente eleito Presidente do Secretariado Distrital de Évora dos TSD (Nuno Alas) de encetar a discussão sobre a dimensão regional de abordagem de problemas como o desemprego, constituem importantes marcos de manifestação e identificação de necessidade de modernização do discurso político, perante uma mudança social que tem sido demasiado rápida nos últimos anos, face à capacidade instalada de reação e acompanhamento por parte das estruturas partidárias e afins.
O inoperacional Aeroporto de Beja e o seu suposto milagroso potencial, continua a ser defendido por muitos como local, de Beja, cidade tão pequena num mundo cada vez mais globalizado e não do Alentejo, da mesma forma que a Universidade de Évora se revela incapaz de, com as restantes Instituições de Ensino Superior do Alentejo (os Institutos Politécnicos de Portalegre e Beja), encetarem processos de concertação e, muito menos de associação ou fusão, com dimensão regional, com vista à criação de uma IES do Alentejo.
Em todos os casos enunciados, a lógica que subsiste na gestão e alimentação de interesses particulares e locais pouco revela de dimensão regional ou de integração com vista à conciliação de missões, direcionadas a uma maior escala para afirmação competitiva nacional e mesmo global. Predomina a matriz gestionária da sua constituição, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, com os quadros contextuais que justificaram as suas constituições, como seja o caso da rede dos Institutos Politécnicos, raramente fieis à sua génese. Fará isso sentido hoje em dia?
José Manuel Henriques, sobejamente conhecido e reputado investigador dos ISCTE/IUL sobre as dimensões locais do desenvolvimento e as virtuosidades das iniciativas locais que durante as décadas de 1990 prestaram o seu contributo à revitalização do mundo rural alentejano, chamava a atenção na passada semana em Odemira, num colóquio sobre Economia Social e Desenvolvimento Local, para a necessidade de revisitar o já bem gasto mas necessário conceito de desenvolvimento local, mas nada avançava quanto à viabilidade da escala local das iniciativas económicas de criação de negócios e emprego, nos dias de hoje, face ao aprofundamento da globalização, a uma escala e profundidade bem diferentes daqueles conhecidas nas décadas de 1990 ou 2000.
Ora, o discurso político local, desajustado face a tais preocupações, continua muitas vezes preso às formalidades estatutárias da dimensão distrital, sem sentir nem assumir que as novas tipologias da exclusão social e territorial atingem hoje tantos as dimensões urbanas como rurais, litorais e interiores, indiferentes à localização, antes determinadas pela capacidade dos territórios (estruturas políticas, económicas e sociais) desenvolverem estratégias integradas de aproximação às oportunidades de inserção nas redes globais de relações e de dinâmicas sociais, empresariais e económicas, evitando ficarem excluídos das mesmas.
O desafio é o de refletirmos sobre o quanto continuamos afastados deste patamar de reflexão política no Alentejo, para aqueles que reflexionam efetivamente, com uma preocupação de dimensão regional: vale o esforço falarmos de estratégias de combate ao desemprego ao nível concelhio ou mesmo intermunicipal perante as recentes transformações dos mercados de trabalho nacionais e que afetam as gerações Z, Y e X de uma forma ainda pouco compreendida e para as quais ainda não temos soluções satisfatórias, sem equacionar o seu enquadramento numa dimensão regional de intervenção?

Precisamos de revisitar o discurso político regional com os atuais ou com novos atores políticos, dependendo dos mesmos saberem interpretar os desafios do futuro, mais que a tentação de responderem aos anseios de uma segurança dos eleitores nem sempre possível de garantir num mundo em profunda mudança. 

Sem comentários: