As
declarações do Presidente da República relativas à espiral recessiva,
desencadearam nas oposições internas e externas ao Governo, uma eufórica
espiral de reparos e palpites que parecem caminhar no sentido da concordância com
uma ideia que supostamente encontram inerente ao discurso do Presidente da
República: a de que este não é o caminho certo, porque é doloroso e lento
quanto a resultados.
Indiferentes
ao fato de se verificarem sucessivos novos mínimos dos juros (a todos os
prazos) da dívida pública portuguesa, em queda
acentuada desde há alguns meses a esta parte, atingindo valores próximos dos
6%, quando os mesmos se situavam perto dos 20% há um ano atrás, os defensores
da tese do outro caminho (que nunca enunciam nem concretizam) querem
convencer-nos do maravilhoso mundo que nos espera depois da crise, a qual acham
que é conjuntural e poderá ser resolvida com soluções imediatas como o
investimento em obras públicas e em mais habitação, que trará aos portugueses o
regresso facilitado ao trabalho aqui e no comércio, bem como ao enriquecimento
que incentive o elevado consumo de automóveis e nos centros comerciais, a que
assistimos nos últimos anos da governação e que nos conduziu à beira do
precipício financeiro.
Não tenho a certeza de que seja pura ilusão, mas antes de pura
demagogia dos defensores de tais teses do facilitismo. A crise é profunda e não
conjuntural, antes estrutural, pelo que os seus efeitos, nomeadamente em
matéria de destruição do emprego em setores como o comércio, a banca e a
pequena indústria induzida pela construção civil, continuarão a produzir
elevados níveis de desemprego durante vários anos, talvez mesmo décadas.
Um
pouco por todo o mundo, o desenvolvimento e consolidação da economia do
conhecimento torna menos relevante a componente humana da produtividade (a nova
economia precisa de menos pessoas), em detrimento dos processos e do “software”.
Ora, os esperados ganhos de produtividade e competitividade da economia
portuguesa, que se espera possam fazer avançar a mesma no sentido do
crescimento da riqueza produzida num futuro próximo e sobre o qual se deposita
a esperança de saída da crise, com crescimento do emprego, serão sempre
insuficientes para repor os níveis de emprego anteriores, decorrentes de um
modelo de desenvolvimento económico esgotado que não nos conduziu a qualquer
outra parte que não à situação difícil em que nos encontramos.
Dito
de outra forma: se as coisas correrem bem para a economia portuguesa
(crescimento substancial da produtividade e da riqueza produzida), o futuro que
nos espera será o da manutenção de taxas elevadas de desemprego por algum tempo.
Se as coisas correrem menos bem, teremos dias ainda mais difíceis. Uma
recuperação sustentada da profunda crise em que estamos mergulhados, será por
isso não só prolongada como dolorosa. Insistir num suposto caminho mais rápido
e menos doloroso, é perder tempo, é aumentar ainda mais a dívida que deixaremos
aos nossos filhos e é, acima de tudo, enganar as pessoas.
É
um erro e uma desonestidade intelectual apontar a austeridade deste governo
como a única causa para o aumento do desemprego em Portugal, durante o último
ano. Pior ainda será iludir os portugueses com uma recuperação rápida do
emprego e diminuição do desemprego através do aumento da despesa pública, do
aumento do consumo privado, do crescimento do investimento privado interno ou
do investimento direto estrangeiro.
O
aumento do desemprego, sentido em Portugal com maior intensidade no último ano,
não é conjuntural, pois os sinais já se faziam sentir desde 2004 e acentuaram-se
em 2008, mas foram ignorados na prospetiva académica e nos discursos políticos,
onde apenas se relevou durante as últimas 2 décadas uma prospetiva otimista
quanto à expansão das atividades económicas e ao crescimento do emprego, aos
empregos do futuro e às competências a produzir para esses empregos,
nomeadamente a partir dos investimentos públicos, com efeitos pouco sustentados
do ponto de vista do emprego e por isso geradores de parte do atual desemprego.
Contam-se
pelos dedos, os académicos, políticos e decisores que, em Portugal, não
embarcaram na espiral otimista quanto ao futuro da economia e do emprego que
prevaleceu ao longo das últimas 2 décadas, distanciados das trajetórias de
aproximação das economias mundial, europeia e portuguesa à crise financeira
instalada em 2008. Ainda assim, muitos dos mesmos parecem apostados em não
reconhecer o seu erro de raciocínio e teimam mesmo em repeti-lo, procurando além
do mais arrastar outros pelo caminho que alimentaram antes e que nos conduziu
ao ponto em que nos encontramos. Convenhamos que é demais.
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