O Ministro da Educação e da Ciência afirmou na passada semana em Bragança que Portugal precisa de mais engenheiros e técnicos e que os Institutos Politécnicos, entre os quais os do interior do país, podem ter um papel fundamental na formação destes profissionais.
Paralelamente, ficámos a conhecer os resultados da 2ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior (universidades e politécnicos), onde se destacam a diminuição de candidatos face ao passado ano e a existência de dezenas de licenciaturas praticamente desertas de interessados, nomeadamente 36 cursos sem qualquer colocação, sendo que apenas 3 deles não têm “engenharia” no nome do mesmo, revelando a quebra de candidatos nesta área. Em contrapartida, os cursos oferecidos pelas mesmas instituições de ensino superior nas áreas das ciências da educação e das ciências sociais humanas, não figuram na lista em causa, revelando uma elevada procura na sua maioria.
Ora, se o aumento do desemprego registado nos Centros de Emprego do IEFP em Agosto e Setembro, tem uma forte componente de jovens, candidatos ao primeiro emprego, com qualificações de nível superior nas áreas da educação e da ciências sociais e humanas, em consequência da redução do emprego público e associativo e da diminuição do número de alunos inscritos nos vários níveis do sistema de ensino, isso deveria induzir desde logo nos jovens estudantes e suas famílias a reflexão sobre a rentabilidade futura da aposta da educação/formação que estão a realizar.
Mais ainda porque igualmente elevado e pesado nos ficheiros dos Centros de Emprego do IEFP é o volume de candidatos ao primeiro emprego oriundos de cursos profissionais de escolas que, para manterem o nível de atividade necessário à sua sustentação financeira oferecem e ministram formação em áreas que são apelativas do ponto de vista da hierarquia social das profissões, mas o qual tem, no entanto, uma correspondência inversa no que à empregabilidade regional e nacional diz respeito.
Se é verdade que a teoria do capital humano continua atual no que corresponde à maior taxa de empregabilidade, progressão na carreira, remuneração ao longo da carreira, proteção contra a probabilidade de desemprego, probabilidade de sair da situação de desemprego, dos que mais estudam e se qualificam face aos que menos apostam na sua qualificação, também é verdade que cada vez mais que compensa estudar mas não em todas as áreas e que a informação e a orientação profissional sobre as tendências do mercado de trabalho é um recurso determinante para aconselhar nas escolhas que podem condicionar o resto de toda uma carreira profissional e, em consequência, toda uma vida.
A melhoria dos sistemas de educação e formação tem vindo a ser aconselhada e exigida pela OCDE e pela Comissão Europeia, apontando para que os estados membros reorientem os seus sistemas para a apresentação de uma oferta de qualidade, qualificante e relevante para o mercado de trabalho, transmitindo adequadamente capacidades e competências profissionais desejáveis e necessárias ao sistema produtivo e ao seu processo de transformação, em direção ao indispensável aumento de competitividade para nos fazer sair da crise.
Esse apelo qualificado deverá traduzir-se, numa altura de diminuição de oportunidades de emprego geradas pela economia, nas escolhas quanto à educação-formação, as quais devem ter em conta a relevância e o grau de qualidade da oferta, mais do que a simples e por vezes ilusória valorização social associada à representação social das profissões.
Neste sentido, a análise custo-benefício e dos indicadores de empregabilidade são cruciais, a par da análise prospetiva das qualificações e das profissões, enquanto coordenadas para melhorar a organização do mercado da educação-formação e da relação deste subsistema com os mercados de trabalho nacional e regionais, tendo por base que a elevação dos níveis de qualificação da população ativa são uma condição indispensável ao aumento de competitividade da economia mas, por si só, não suficiente para que tal aconteça, antes se traduzindo em mais desemprego qualificado sem a correspondente absorção pelo mercado de trabalho como agora acontece, consequência da disfuncional articulação entre as diversas componentes.
Até que tal articulação não seja substancialmente corrigida, continuaremos envoltos no persistente paradoxo do défice de qualificações que, mesmo em tempos de crise e de elevado desemprego, teima em marcar os mercados de trabalho regionais, traduzido na oferta de qualificações em recursos humanos que não encontram procura por parte do sistema produtivo a par da existência de ofertas de emprego em carteira que permanecem por largos períodos de tempo sem candidatos com perfil ajustado ao seu preenchimento, no serviço público de emprego.
É nesta linha que se enquadra a intensificação da oferta de formação para jovens inserida no Sistema de Aprendizagem, que procura reforçar o sistema dual de alternância entre entidade formadora e a empresa (com maior envolvimento do tecido empresarial no desenho e na produção de qualificações), investindo nas áreas e nos públicos mais importantes e adequados às necessidades da economia e das empresas, nomeadamente na componente tecnológica e no aumento de competitividade das empresas, garantindo a dupla certificação dos jovens (12º ano, escolar e nv 4, profissional), entre os 15 e os 25 anos, que podem continuar os seus percursos formativos de nível superior de seguida ou mais tarde.
As opções dos jovens sobre as áreas e saídas profissionais que escolham para aquisição das competências que sustentarão os seus percursos profissionais futuros são determinantes na facilitação da sua transição e inserção na vida ativa e, aqui, a informação e a orientação profissional sobre os diferentes níveis de empregabilidade, embora não necessariamente coincidente com a atratividade do ponto de vista social, é cada vez mais indispensável porque se situa na esfera de responsabilidade de quem escolhe e decide qual o caminho a escolher e a seguir.
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