2011-05-08

ACORDO COM A TROIKA SILENCIOU OS PAVÕES DE SÃO BENTO E TEIXEIRA DOS SANTOS



Aquele que não estava disponível para (des)governar com o FMI porque tal seria o fim do mundo em Portugal, veio ontem anunciar ao país que afinal o FMI não é o apocalipse e que desta vez é que a crise acabou, podendo os portugueses continuar a viver como se nada de grave ocorresse e a esbanjar o crédito que poderão continuar a pedir aos bancos que agora recebem nova injecção de capital.



Como se estivesse a anunciar o pacote de financiamento a fundo perdido de um novo Quadro Comunitário de Apoio, Sócrates nada disse sobre qual o programa do resgate financeiro do Estado que permitirá a Portugal evitar a bancarrota à beira da qual o PS nos colocou, reduzir o endividamento público (151.700 M€ - 92,4% do PIB em 2010, que o PS duplicou desde 2005) para valores sustentáveis, pagar os compromissos assumidos com as PPPs e reconstruir as bases do crescimento da economia nacional.



A responsabilidade pelos resultados da governação socialista não fez parte do discurso ao país, apesar dos insistentes pedidos de transparência e clarificação da real situação do país formulados pelos Presidentes da República e por toda a oposição.

Teria merecido a ocupação do tempo de antena a referência a alguns dos indicadores compilados por Álvaro Santos Pereira: o pior crescimento económico (desde há 90 anos), a mais elevada dívida pública em % do PIB (desde há 160 anos, sem contar com as empresas públicas, os compromissos das PPPs e as dívidas contraídas para a requalificação das escolas), a maior dívida externa (desde há 120 anos), a pior taxa de poupança (desde há 50 anos), a maior taxa de desemprego de sempre (atingindo 11,1%, contra 6,6% em 2005), o maior tempo de permanência no desemprego de que há registo, a segunda maior vaga de emigração (desde há 160 anos), uma devastadora fuga de cérebros, o colapso do sistema judicial, a pior rentabilidade do investimento no sistema de educação-formação.


A grande responsabilidade por estes indicadores não é a crise financeira internacional, da qual a quase generalidade dos países europeus já recuperou através da retoma do crescimento económico, apesar de não terem beneficiado como nós de 4 Quadros Comunitários de Apoio, mas sim das dezenas de Parcerias Público Privadas, dos milhares de organismos públicos, entidades administrativas independentes e empresas públicas criadas ao longo das mais recentes governações socialistas, aumentando todos os dias a despesa pública e o endividamento do Estado para alimentar a clientela partidária do PS. O pacote financeiro de 80.000 M€ agora contratado com a EU/FMI representa o valor acumulado desse devaneio governativo.

Resolver o problema da falta de liquidez da economia portuguesa, após o falhanço (nunca assumido pelo governo) da aplicação de 3 PECs, exigia o pedido de auxílio financeiro externo, contratualizado a uma taxa de juro aceitável (em torno dos 4,5%) e não o permanente recurso ao mercado da dívida suportando taxas superiores a 10% para o financiamento do Estado.

Neste sentido, é verdade que o acordo conseguido com a troika internacional é um bom acordo, pecando apenas por ser tardio, como denunciou Estela Barbot, a portuguesa no FMI, que a dureza das medidas a adoptar agora se deve ao adiamento do pedido de ajuda financeira externa que, por teimosia e estratégia política do PS e do Governo, custou aos portugueses 387 M€, ou seja, o equivalente as vários hospitais regionais como aquele que está projectado para Évora e que não passa do papel desde 2006.

Isso, Sócrates não disse ontem aos portugueses, tal como não explicou que a diferença entre estas medidas e as do PEC IV, que apenas representavam a 4ª vaga de sacrifícios para os portugueses (mas sem suspender as grandes obras públicas como o Aeroporto de Lisboa e o TGV), é que estas acompanham a vinda de dinheiro para Portugal, assegurando os vencimentos e subsídios de férias aos professores, aos agentes das forças de segurança, aos médicos, enfermeiros e a todos os funcionários do Estado, para não se repetirem os atrasos de que os militares foram vítimas no passado mês de Abril.

Por isso é que é condenável a encenação da comunicação do acordo do governo com a troika internacional, depois de se ter adiado por tanto tempo o pedido de auxílio externo que, afinal, mesmo com o FMI, não aprece para já acabar com o 13º mês, reduzir o salário mínimo ou os despedimentos na função pública, ao contrário do que Sócrates ameaçava em 15 de Março de 2011, com o mesmo ar com que agora anuncia o contrário.


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