À
medida que surgem os sinais de confirmação da saída de Portugal da recessão
técnica vigente no período de ajustamento financeiro e económico ditado pelo
resgate internacional a que a governação socialista nos conduziu, parece
aumentar a contestação sindical estimulada e manipulada por uma certa esquerda
radical, pouco respeitadora da legitimidade que as eleições conferem aos
governantes nacionais, pois nas autarquias, quando se trata de vitórias suas,
já a legitimidade será considerada de outra forma.
Ouvem-se
na rua os gritos de contestação à troika, a qual se manda lixar a viva voz e
pede-se a sua saída de Portugal, com o argumento de que dessa forma se
recuperaria soberania financeira. Confesso não entender, tendo em conta que os
juros que pagamos pelos empréstimos concedidos pela troyca (1,5%), são bem mais
favoráveis do que quaisquer outros quando, em 2011, todos os financiadores
externos nos fecharam a torneira do crédito. Pode acrescentar-se o fato de os
défices das administrações públicas terem ficado quase 3.000M€ abaixo do limite
estimado pela execução orçamental dos primeiros 9 meses deste ano, ou ainda que
a economia portuguesa cresceu 0,5% no 3º trimestre de 2013, face ao anterior.
Ainda
assim, os sinais parecem indiferentes a uma certa esquerda radical e
anti-democrática que sai à rua pedindo a saída da troyca, o perdão da dívida e,
em consequência, a saída do Euro. No fundo, o que se pede é o colapso total do
nosso país, um reset que nos
conduziria à total anarquia social e económica, terreno propício à ascensão de
modelos totalitaristas que conhecemos, sem qualquer sucesso evidenciado, do
outro lado de um muro que caiu em 1989.
A
esquerda que sai à rua a exigir o colapso da economia e da sociedade
portuguesa, rejeita o aumento de impostos e ao mesmo tempo a redução da
despesa: no fundo, o impossível. Qual a alternativa? Sacudir a troyca e
declarar a falência, pois sem a mesma, ficaríamos com autonomia financeira para
um limite de 1 ou 2 meses de pagamento de salários e de pensões do Estado. O
que move pois esta gente que pretende deliberadamente rebentar com o presente e
com o futuro do país e comprometer todas as gerações seguintes? Não é difícil adivinhar
…
Na
verdade, o modelo de facilitismo consumista que fez crescer (ainda que de forma
insignificante) a economia nacional ao longo dos últimos 15 anos de governação
socialista, sustentado pelo assédio bancário para recurso ao crédito barato,
afetou uma significativa franja da sociedade portuguesa, com especial
incidência nas classes sociais menos favorecidas e nas classes média e
média-baixa, que se veem agora em dificuldades para cumprirem as suas
obrigações contraídas no âmbito do crédito ao consumo, mais ainda quando
diminui a cada dia o rendimento disponível, por via das medidas de política que
forçam a poupança ou a limitação do consumo das famílias.
Mas,
compreender as motivações, não significa desculpar os comportamentos, pelos que
será impossível aceitar o branqueamento da responsabilidade dos consumidores excessivos
de bens supérfluos e de crédito bancário, em parte responsável pela crise em
que estamos, como se a mesma nunca tivesse existido e se possa retomar o
caminho interrompido, no mesmo nível que tal aconteceu. Tal falsidade e demagogia
é uma perfeita ilusão, correspondente a uma alegada possibilidade de perdão da
dívida, que (mesmo a ser possível) nunca beneficiaria a sociedade no seu todo,
nem o futuro dos nossos filhos, mas apenas os próprios protagonistas e, mesmo
assim, de forma apenas fugaz, pois retomariam de forma imediata a espiral de
irresponsabilidade que nos trouxe até aqui.
O
nivelamento da sociedade portuguesa não pode fazer-se por baixo, pela
mediocridade e pelo empobrecimento que alimenta certas ideologias
totalitaristas, mas antes pela ambição de elevação dos níveis de exigência e
pelo upgrade económico, social e político, a bem dos nossos filhos.
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