Alberto João Jardim, à frente do Governo Regional Autónoma da Madeira (RAM), gastou sem limites, escondeu esses gastos, não contabilizou como dívida os encargos assumidos para os anos seguintes, tendo a acção da Troika permitido agora que viesse à luz uma situação pouco dignificante para o protagonista, para RAM e para Portugal. Esta declaração de interesse reprovadora dos actos que conduzirão a uma revisão e penalização em 1.681,3M€ dos défices do país entre 2008 e 2011 não justifica ainda assim o alinhamento fácil numa quase colectiva hipocrisia que pretende crucificar Alberto João Jardim e transformá-lo no bode expiatório que branqueie toda a responsabilidade de outros que fizeram o mesmo (pelo menos) que ele e sobre os quais nunca se observou a actual histeria de criminalização.
Um factor merece desde logo destaque, que é o de ter sido um governo do PSD a revelar o descalabro financeiro escondido na RAM, mostrando uma transparência e independência da governação que contrasta claramente com a opacidade e dissimulação dos últimos 6 anos em Portugal. O Primeiro Ministro e o Governo estiveram bem perante uma situação que os apanhou de surpresa mas que ocorreu durante a governação socialista e que por isso já seria certamente do conhecimento daqueles que tinham por obrigação a fiscalização das contas da RAM mas que agora parecem não ter pudor em lançar-se sobre Jardim, num aproveitamento político cobarde.
Este é aliás um segundo factor que não pode ser alheio ao debate sobre as responsabilidades pelo descalabro financeiro da RAM: Jardim é o principal culpado da situação, mas não é o único, porque outros o permitiram e, por isso, foram coniventes. Nos últimos 15 anos, vários governos (entre eles 4 governos socialistas que ocuparam o poder durante 12 anos) foram coniventes, perdoando repetidamente dívida e fechando os olhos aos alertas constantes nos relatórios do Tribunal de Contas, como recorda o actual presidente daquele órgão. Os governos socialistas fecharam os olhos, para não terem que os abrir sobre as partes dos mesmos relatórios que, desde 2005, também alertavam para o perigo de descalabro das contas públicas do país, em consequência das PPP (SCUT e Hospitais à cabeça).
Não podem por isso os socialistas lançar-se assim publicamente sobre Jardim, condenando aquilo que eles próprios fizeram, depois de terem deixado Portugal à beira da insolvência, pretendendo desculpar o aumento da dívida pública em cerca de 150% por Sócrates, que apresentou um deficit antes das eleições de 2009 e outro muito superior depois, que deixou facturas e encargos não orçamentadas (condenando a empresa Estradas de Portugal a perecer em 2014) e outras não registadas (no IPJ são cerca de 600), que teve com outros governantes o seu nome envolvido nos maiores escândalos públicos, que instrumentalizou um banco público e desbaratou 600M€ para que Joe Berardo ajudasse no assalto ao BCP e que ainda hoje vê as capas dos jornais anunciarem a investigação à fortuna da família, supostamente localizada em offshore.
Agora posta a nú, a situação financeira da RAM reproduz a do continente, onde empresas do Estado como a Parpública e a Parque Escolar foram constituídas para assumirem e esconderem dívida pública, deixando a mesma para contabilização futura, com a excepção de que até agora não há conhecimento de que Alberto João Jardim se tenha visto pessoalmente envolvido em casos de que ele ou a sua família possam ter tirado benefício patrimonial.
A dupla moralidade dos dirigentes socialistas é pois incompreensível à luz da confiança política que revelam continuar a manter em Sócrates e em todos os ex-membros dos seus governos, para os quais, apesar da responsabilidade pela dívida pública do país acima dos 100% do PIB, nenhuma crítica é formulada nem qualquer responsabilidade criminal é equacionada. Que a situação financeira da RAM já deveria ter sido posta na ordem, é verdade. Mas, não teria sido possível fazê-lo nos 15 anos em que a governação socialista preencheu 12?
Resta-nos a inquietação interior provocada pelas palavras de Medina Carreira que na estreia do programa «Olhos nos olhos», no TVI24, sobre o défice da Madeira referia de forma lapidar: «Estamos muito furiosos com a Madeira porque andaram a enganar e a gastar o que não tinham. É exactamente o que os alemães pensam de nós».
1 comentário:
Depois deste descalabro do PSD na Madeira só pode haver uma atitude: expulsá-los do PSD, averiguar as responsabilidades e fazê-los pagar o que devem e que nós, cidadãos portugueses de qualquer lado, estamos a pagar. O problema é do país e o PSD em particular tem que tomar uma decisão, porque foi alguém do PSD que fez o "buraco". Ou então é o descrédito total. Infelizmente, já com o BPN o PSD não tomou atitudes; agora ou faz alguma coisa ou acaba como a Democracia Cristã na Itália.
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