Não existem dúvidas de que seria uma boa notícia para Évora e uma esperança para o futuro do concelho, a instalação de uma plataforma logística no seu seio.
No entanto, apesar de ser a segunda vez que a notícia surge a público, imagino que a partir da Câmara Municipal, levantam-se sérias dúvidas sobre a solidez da ideia, nomeadamente pelo facto de os espanhois da Extremadura estarem determinados a avançar com a construção de uma plataforma logística de grandes dimensões, com ou sem Portugal como parceiro, o que condicionou o Governo português a decidir, por arrastamento, a construção de uma estrutura complementar no Caia, do lado português.
Bastará ler o recente estudo do Prof. Augusto Mateus, intitulado "Plano Regional de Inovação para o Alentejo", encomendado à sua equipa pela CCDRA, para constatar que Évora não figura entre os 4 locais de eleição para criação de plataformas logísticas no Alentejo: Sines e Elvas (que parecem já ter recebido aval de construção por parte do Governo), a que se somam Beja e Montemor/Vendas Novas.
Perante isto, as dúvidas que se levantam, são:
- Como pode a Câmara de Évora anunciar que o Governo está convencido das potencialidades de Évora no campo logístico e que está mesmo empenhado na construção de uma tal infra-estrutura, se a mesma iria ficar "entalada" entre as de Vendas Novas e a de Elvas? Então o TGV é algum comboio de brincar que pára em todas os cantinhos desde Lisboa até à fronteira e isto toma a configuração duma fila de plataformas logísticas qual jogo de monopólio, a ver quem dá mais? É racional esta gestão de recursos de dar uma plataforma a cada cidade alentejana por onde passe o TGV? A que modelo pertence este tipo de planeamento e ordenamento do território?
- Faz sentido e pode confiar-se na informação de empenho e concordância do Governo com a construção de uma plataforma logística em Évora, quando o mesmo Governo ainda recentemente suspendeu todos os concursos para a construção da linha de mercadorias Sines/Évora, a qual afinal parece já ter mudado de destino e abandonado Évora em troca do Poceirão?
Para além destas dúvidas sobre a viabilidade da ideia, relativamente à qual ainda nenhum membro do Governo se pronunciou ou anunciou concordância, não passando por isso mesmo de notícias que a Câmara de Évora tem feito sair para o exterior em período de campanha eleitoral, há no entanto um preocupação de fundo que subsiste:
Porque tem a Câmara de Évora que andar sistematicamente a copiar o que outras cidades alentejanas pretendem construir, antes de nós e para o que dispõem de condições mais vantajosas? Quem não se recorda das polémicas declarações do Presidente da Câmara de Évora sobre a possibilidade de "roubar" o aeroporto a Beja? Que tipo de convivência é esta com as restantes cidades do território alentejano? A que lógica preside este tipo de raciocício senão ao imediatismo eleitoralista?
Tem a Câmara de Évora alguma ideia concreta, de carácter estratégico, sobre quais os factores que a distinguem das restantes, no Alentejo, que poderão por isso alicerçar a construção de uma competitividade valorizadora desses trunfos únicos e ao mesmo tempo beneficiar todo o contexto territorial em que está inserida?
No fundo, o PS tem alguma ideia para o futuro de Évora, que tenha pés e cabeça e seja suficientemente fundamentada à luz do contexto territorial em que nos inserimos, procurando contribuir para a promoção da integração do mesmo em contextos mais amplos?
Sem ideias, não deve ser fácil gerir os destinos de uma Câmara Municipal com a dimensão de Évora. Só assim se explicam os resultados destes 4 anos.
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