2016-11-18

O FUTURO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE QUALIFICAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS


O PSD tem vindo a promover por todo o país, através do Fórum das Políticas Sociais, o debate tendente à consolidação de propostas de políticas públicas em vários domínios, desde a saúde à educação, passando pelo trabalho e pelo emprego, bem como pela formação profissional, com a preocupação de que as mesmas assumam uma perspetiva contributiva para a dinamização do mercado de trabalho e para a criação de emprego de qualidade.
A iniciativa não poderia ser mais oportuna, à luz da necessidade de que governo e oposição discutam concertadamente a definição e desenho dum quadro de intervenção das políticas públicas sobre a qualificação dos recursos humanos num futuro imediato e de médio prazo. Passada a crise económica e financeira recente, haverá que reequacionar preocupações e visões em torno do contributo das mesmas para a afirmação e consolidação de uma matriz económica substancialmente diferente da que antecedia a crise, bem como dos efeitos emergentes das alterações demográficas em curso na Europa e no mundo ocidental em geral.
A discussão poderá por isso assumir contornos e focos de preocupação substancialmente mais alargados em termos temporais daqueles que constituíram a recente intervenção de emergências das políticas públicas, focadas na resposta à requalificação e adaptação profissional dos desempregados, dispensados pelos tradicionais setores da economia portuguesa, ou insuficientemente ajustados pelo sistema de ensino, às necessidades emergentes do mercado de trabalho, em profunda transformação durante a crise económica e financeira que nos afetou durante a presente década.
Sendo reconhecido o sucesso das políticas públicas recentes, promovidas neste âmbito pelo IEFP por iniciativa própria e por via da mobilização de parcerias qualificadas envolvendo associações empresariais, sindicais, agentes do desenvolvimento local e instituições do ensino superior, a definição de futuras políticas públicas de qualificação poderá agora acolher preocupações em torno do modelo de intervenção sobre os jovens: formação profissional mais qualificante e alternativa ou mais complementar ao sistema de ensino? Formação profissional de adaptação e ajustamento à inserção profissional, ou mais estruturada para requalificação dos jovens com dificuldades de inserção no mercado de trabalho?
Também sobre a formação contínua, de adultos, algumas preocupações deverão merecer reflexão: uma formação contínua promovida pelas empresas e pelas associações empresariais ou mais ditada pelos operadores do mercado? Uma oferta de formação mais orientada pelo Estado ou mais aberta às intervenções no mercado de trabalho, sejam empregadores ou operadores de formação? Uma oferta mais condicionada pela orientação pública, ou mais aberta aos desejos e aspirações profissionais dos destinatários da formação?
Por último, uma preocupação que me parece relevante e urgente ser debatida, prende-se com o modelo de qualificação destinado a abranger o prolongamento da vida ativa da geração X, ou seja, daqueles que estão agora em torno dos 50 anos de idade, os quais poderão ver a sua longevidade profissional prolongada por mais 20 a 25 anos, decorrente das alterações demográficas em curso.
Trata-se de uma geração que beneficia de intensos ganhos da vida biológica, para os quais não se preparou adequadamente em termos de poupanças económicas e que se depara com a incerteza da continuidade dos atuais contornos do Estado Social, obrigando-se ao prolongamento da vida ativa, que ultrapassa largamente o entendimento até agora alimentado do envelhecimento ativo. As ameaças de desemprego e de precariedade laboral que sobre eles penderão, obrigarão por certo ao ensaio de novos modelos de intervenção pública no domínio das qualificações profissionais, pessoais e sociais desta geração, seja do seu aprofundamento, do reforço, ou mesmo da requalificação, ou ainda do estímulo ao empreendedorismo que explore a vasta experiência profissional acumulada.

Sejam quais forem os modelos a pensar e a ensaiar, poucas dúvidas restarão sobre a elevada probabilidade de dever ser o Estado a avançar nesta matéria, dada a expectável  indisponibilidade dos atores e agentes do tecido empresarial para um investimento com um prazo bastante limitado de retorno no âmbito das qualificações destes recursos humanos.

2016-11-04

O ORÇAMENTO DE ESTADO E O SILÊNCIO DOS NÃO INOCENTES


A deliberada e grosseira manipulação da discussão do Orçamento de Estado para 2017 (OE2017), feita pelo governo através dos ministros das finanças e da educação e acarinhada pelos parceiros de esquerda, não tem precedentes em Portugal e recupera a desonestidade governativa de má memória da era socrática.
Invocar o crescimento de despesa em áreas como a educação, tendo por base o orçamento inicial de 2016 e não a estimativa de execução real do mesmo orçamento, é de uma desonestidade sem qualificação, pois na verdade o OE2017 diminui em -2,7% as despesas na educação, -6,1% na justiça e -19% no planeamento e infraestruturas, ou seja, no investimento público em infraestruturas.
Como a inconsistência dos pressupostos de base e a distorção dos números apresentados parece ser a marca deste orçamento, será de supor que a mesma habilidade manipuladora, observada no âmbito da despesa, contamine todo o documento, incluindo os valores estimados para a receita. Trata-se de uma velha prática da governação socialista, de âmbito nacional e local.
Recordo a propósito os orçamentos do PS na CM de Évora a partir de 2001, cujos notoriamente marcados pelo empolamento da receita (cobrança de taxas, arrecadação de impostos, …) em valores que se percebia desde logo improváveis face ao historial de execução orçamental da autarquia. Ainda assim, tais estimativas eram sistemática e repetidamente mantidas para sustentar, na tabela (como diria o ministro das finanças), um orçamento de despesa que, esse sim, era sempre executado até ao limite.
O resultado foi, como sabemos, a continuação do descontrole da dívida da autarquia eborense para colmatar o diferencial da execução orçamental, continuadamente contestada pela CDU, à altura na oposição, a qual ainda hoje, novamente à frente dos destinos da CME continua a invocar o argumento do pesado legado da dívida para justificar muitas das críticas que recebe da oposição.
No entanto, aquando da governação do PSD/PP, a CDU nunca reconheceu qualquer dificuldade de governação do país decorrente do estado de pré bancarrota em que o PS deixou o país em 2011, antes tendo bombardeado quotidianamente o governo com o seu ódio ideológico a tudo o que não seja protagonizado pela esquerda, mesmo que lhe reconheça utilidade e adequação. Ainda hoje, continuamos a assistir à mesma acusação dos comunistas ao PSD, sempre que o mesmo denuncia e contesta qualquer atuação do governo atualmente por eles apoiado, invocando a não legitimidade das mesmas, decorrente da governação recente.
Curiosamente, o aumento da dívida pública que a prática orçamental subjacente ao OE2017 espelha, necessária a cobrir a diferença entre as estimativas iniciais e a execução real e final dos orçamentos de 2016 e do próximo, parece não mais incomodar a CDU, que assim perde a sua inocência e suja definitivamente as mãos na massa que tantas vezes critica quando amassada por mãos que odeia. A preocupação resume-se, pois, às mãos que amassam e não aos componentes e textura da massa, já que o aumento da dívida pública em 12mM€ durante este ano, elevando a dívida do Estado aos credores para 244,4mM€, valor que representa um recorde em percentagem do PIB, afigura-se normal para uma CDU que continua a culpar exclusivamente o predatório capitalismo financeiro e não as opções da governação que apoia e sustenta.

E ainda ouvimos todos os dias gritar contra as amarras da Comissão Europeia, contra o Tratado Orçamental e contra os credores que nos emprestam o dinheiro cuja devolução pretendem recusar e ver perdoada. O mundo está a cada dia mais esquisito e, não sei se por isso, alguns partidos políticos também.

2016-10-28

CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA DE CONFIANÇA NO PAÍS E NO ALENTEJO


O Presidente do PSD, bem, fez-se à estrada para divulgar, por todo o país, as propostas alternativas do partido ao Orçamento de Estado que o actual governo apresenta, ou seja, quais as medidas que teriam sido incluídas no OE2017 se fosse ele o Primeiro Ministro em exercício. Trata-se de um propósito dirigido não apenas à animação do partido, mas especialmente focado no eleitorado, cujos níveis de confiança haverá que manter e, aumentar substancialmente, para que o PSD possa ser encarado como alternativa de governação sólida e credível, num horizonte de curto ou médio prazo.
Passos Coelho beneficia junto do eleitorado da sua notoriedade, assente numa imagem de seriedade, responsabilidade, persistência e dedicação desinteressada às causas do país, que coloca acima dos interesses pessoais e do partido ao qual preside, numa performance de contribuição patriótica à construção de um futuro melhor para as gerações vindouras. Sendo conhecido o protagonista e reconhecidas as suas qualidades, resta encontrar a mensagem sobre o conteúdo das propostas alternativas à governação para gerar o compromisso e ganhar a confiança do eleitorado.
Trata-se de uma iniciativa que exigirá dos dirigentes regionais e locais do PSD um forte contributo de acompanhamento e reforço da mensagem, mais ajustada às preocupações e expectativas do eleitorado alentejano, com igual objectivo de ampliar substancialmente a confiança do mesmo numa solução alternativa de representação junto das instâncias políticas nacionais. Uma parte substancial desse trabalho está a ser desempenhada com reconhecida dinâmica e sustentação pelo deputado eleito pelo distrito de Évora à Assembleia da República, havendo que completar o percurso de terreno com dirigentes do PSD que gozem de elevada reputação pessoal e conceituação técnica e política junto do eleitorado.
Isto é, a confiança que o PSD gerará junto do eleitorado alentejano, enquanto solução alternativa à governação nacional e à defesa e representação dos interesses e expectativas regionais será tanto maior quanto maior for o reconhecimento do mérito dos protagonistas regionais em domínios chave do desenvolvimento como as questões do ordenamento do território e os mecanismos estruturantes da geração de emprego, onde se destaca a importância da dimensão agrícola na economia regional, as medidas de valorização dos recursos endógenos e do território, a promoção da empregabilidade e da qualidade do emprego, entre outras. Tenho alguma convicção de que não bastará apresentar pela rama estes temas ao eleitorado, para ganhar a sua confiança, antes sendo imprescindível dominá-los profundamente, conhecer por experiência própria os seus mecanismos internos e, mais ainda, ser aceite e reconhecido como competente e nas defesa dos mesmos, pelos principais atores regionais, individuais e associativos, potenciais promotores de iniciativa nestes domínios de intervenção.
O leque dos domínios de propostas alternativas à governação, do ponto de vista regional, não dispensará por certo as propostas no âmbito do acesso a um sistema de saúde moderno e de qualidade, o combate às desigualdades e à exclusão social, a valorização das pessoas através da educação e do conhecimento, a fixação da população e a atracção de novos habitantes jovens, entre outros, para os quais há que demonstrar igualmente elevadas competências de construção, apresentação e defesa de propostas ancoradas na dimensão regional.

No fundo, ganhar a confiança do eleitorado, exige a construção de propostas sólidas, credíveis, rigorosas e oportunas, mas igualmente a defesa das mesmas por quem seja visto para além da honestidade, do género, da aparência ou da preocupação com o funcionamento das estruturas partidárias, às quais esse eleitorado é alheio e nas quais rejeita participar. É na sociedade civil, empresarial, institucional e associativa que deve ser conquistado o mérito das propostas e não nas estruturas internas aos partidos, pois se assim fosse, o PCP com as sua extensa e organizada máquina seria governo há muito tempo, ao passo que o PP nunca lá teria chegado, por contraste de exiguidade organizativa. Não compreender isto, é não compreender as expectativas do eleitorado, nem os mecanismos da política nacional.

2016-10-14

GOVERNO DAS ESQUERDAS INCAPAZ PERANTE A UBERIZAÇÃO EM CURSO NA SOCIEDADE


A demagogia das esquerdas duras não encontra mais uma vez limites na argumentação perante o recente protesto dos taxistas, para sustentar a radicalização ideológica de uma posição anti capitalista e anti ocidental, lançando mão a tudo o que seja populismo que renda votos, incluindo a suposta defesa dos direitos dos trabalhadores, alegadamente ameaçados de precariedade pelo modelo Uber, cuja erradicação defendem.
Ora, o modelo de prestação de trabalho da Uber, revela apenas as caraterísticas inevitáveis das tendências em curso de afirmação para um futuro que já nos ultrapassou há muito: trabalho independente, prestado para vários operadores, remunerado à peça, com horário flexível, suportado nas e pelas plataformas eletrónicas na relação com o cliente e com maior autonomia do trabalhador na atualização das suas competências profissionais. Trata-se de trabalho precário, ou apenas de um modelo de trabalho diferente, para o qual teremos que nos preparar porque será inevitável face ao aprofundamento da economia digital?
O setor da comunicação social será sem dúvida um dos que melhor espelham esta realidade em afirmação, mas também a banca e seguros, as viagens, as indústrias gráficas, a segurança, a educação e tantos outros onde o comércio eletrónico se impõe a cada dia que passa. A precariedade dos trabalhadores desses setores aumentou devido ao crescimento das caixas multibanco, dos terminais ATM, do e-banking, do e-books, do e-learning, do e-mail, do e-commerce, dos jornais eletrónicos, da TV digital, da Administração Pública digital… ou gerou apenas novos modelos de organização do trabalho aos quais todos tivemos que nos adaptar?
Antecipar e acompanhar as dinâmicas económicas e sociais em curso será uma exigência cada vez mais premente aos trabalhadores e às empresas, muitas vezes sem apoios do Estado, o que não aconteceu no caso dos taxistas, os quais o governo premiou com 17M€ dos nossos impostos em março de 2016, destinados à modernização do setor: renovação da frota, benefícios fiscais em combustível, formação e capacitação em línguas e tecnologias digitais. A reação das associações do setor foi curiosa, sentindo-se politicamente domesticados, pois na verdade o que pretendiam era o fim da Uber, para o que iniciaram uma escalada de ameaças de violência que culminaram no recente bloqueio e confrontos em Lisboa.
O governo, refém das esquerdas duras, geriu de forma desastrosa as expetativas dos taxistas, evitando enfrentar o problema com a criação de grupos de trabalho, em vez de encontrar, por antecipação, soluções instrumentais que permitam preparar a inevitável liberalização do setor (tal como já aconteceu, paradoxalmente, na Grécia), em vez de reverter como maus exemplos as reformas em curso na Carris e na TAP, antecipando um futuro de táxis sem condutor que já nos está a bater à porta.
Perante isto, faz sentido e há condições para impedir a Uber? Só se for na China, onde a proibição do Google e a travagem à economia digital é a imagem de marca e o modelo de uma suposta modernidade alternativa defendida pelas esquerdas duras em Portugal. A hipocrisia não tem limites, bastando refletir sobre os efeitos desse modelo de proteção da economia tradicional no que toca ao respeito pelos direitos humanos, à qualidade do trabalho, ao trabalho infantil, na China.

O problema, que se acumulará, neste domínio, é o de que a atual solução governativa se revela impotente para enfrentar e resolver de vez o quadro de reivindicação dos taxistas e a inevitável liberalização de um setor que não poderá continuar protegido atrás de soluções monopolizadoras. Dar um passo em frente na modernização e reforma profunda deste e de outros setores, obriga a soluções não condicionáveis pelas esquerdas anti capitalistas, antes exigindo o entendimento político dos partidos ao centro, o qual não se avizinha fácil a curto e médio prazo, com consequências gravosas a prazo, para os contribuintes portugueses, os que pagarão no futuro, a inoperância governativa de quem apenas se interessa pelo poder e não pelos problemas do país.

2016-09-23

PORTUGAL SEM SURPRESAS: O QUE SEMPRE FOMOS


Confesso que, após alguma disciplina intelectual, já consigo hoje não me surpreender, escandalizar ou stressar com cenários ou factos concretos que ocorram ou tenham acontecido, no campo da política nacional, por mais esotéricos e conspirativos que possam parecer à primeira vista. Entendo por isso como racionalmente explicável o Portugal político de hoje, com a amarração do governo do PS aos interesses imediatistas e politicamente “realistikes” do BE, que já tinha prometido esticar a corda, a troco da manutenção do poder e do exercício da governação. Contaram, e, bem, com o silêncio que sempre norteou os dirigentes do PS perante as maiores contradições ou atrocidades económicas, sociais ou políticas da governação socialista, porque a domesticação interna sempre foi (ao contrário do PSD, onde a contestação interna é uma das pedras de toque da vitalidade do partido) uma das regras da cultura interna, iniciada e cultivada por Soares por via do despotismo, exponenciada por Sócrates, por via do sempre sujo controle de bastidores.
Dos militantes e simpatizantes do PS, nem valerá o esforço falar, se recordarmos a defesa exacerbada da criminosa irresponsabilidade socratina na governação, especialmente em 2009 quando comprou claramente os votos, mas, ainda hoje, poucos são os que não atribuem ao governo do PSD/PP a responsabilidade pela desgraça em que Sócrates deixou o país. Na verdade, esse governo que salvou o país, com sacrifícios de todos, cometeu o erro de não apurar a verdadeira situação do mesmo, quando iniciou o seu mandato, em nome da defesa da imagem externa perante os credores. Os erros políticos pagam-se, quando não se interpreta corretamente a matriz da cultura política do eleitorado.
As romarias à prisão de Évora e o branqueamento e defesa da governação desastrosa de Sócrates, poderão não representar qualquer cegueira ideológica dos militantes e simpatizantes do PS, mas mais a desresponsabilização de cada um dos que votaram em Sócrates e Costa pela ilusão e facilitismo popularucho e demagogo que é atrativo aos que evitam pensar ou refletir sobre as consequências dos seus atos e escolhas na vida futura dos seus descendentes e familiares. É mais fácil atribuir a culpa ao sistema, dizer mal de todos os políticos, que pensam apenas neles e não no povo e, assim, ficarem tranquilos de consciência, susceptíveis aos renovados encantadores de serpentes.
No fundo, a renegociação da dívida portuguesa, que tantos defendem e muitos mais aceitariam, apenas reproduz o mesmo modelo de desresponsabilização pelos erros passados, os quais nos recusamos a reconhecer, sendo mais fácil alinhar na defesa da limpeza do quadro, virando o contador a zero para que, provável e inevitavelmente, venhamos a repetir os mesmos, pelos quais pagámos, mas, por culpa de quem os tentou corrigir, ou seja, do Passos Coelho e do Paulo Portas. Sim, porque nós não tivemos qualquer culpa por esses erros, nem pedimos que os corrigissem. Quais erros? Corria tudo bem …
Típico não só das elites partidárias e do eleitorado latino e latino-americano, pelo que a ninguém espanta que Sócrates continue a ameaçar, atacar, confrontar juízes e todo o sistema judicial, ou que seja convidado e aplaudido pelo PS para fazer palestras e ser homenageado por ações que estão a ser investigadas pelo mesmo poder judicial. A justiça, esse ente abstrato, é propriedade de avaliação de cada um de nós, que ditamos as edições das revistas e jornais e os shares televisivos e, interessa é a imagem de quem nos leva o voto, que nos fala ao ardor revolucionário que os portugueses alimentam.
Desiludam-se, pois, aqueles que considerem alterável esta matriz da cultura política portuguesa nos próximos anos, pois, por distração, não se deram conta da produção do sistema educativo português e dos valores que o mesmo tem vindo a transmitir e formatar (agora revelados publicamente pela geração manas Mortáguas): o branqueamento do ideal revolucionário e terrorista do PREC e a condenação cega e inexplicável do sistema capitalista em que vivem e do qual sabem apenas pretender rejeitar.

No fundo, apesar do Estado Novo, da revolução e do amadurecimento democrático da U.E., não deixámos de ser uma sociedade submissa e temente ao poder político, grupal, coletivista, protetora e pouco estimuladora do valor e do mérito individual. Quem não entender isto, não ganha eleições: tirando a exceção Cavaco (a quem a esquerda não perdoa que tenha sabido interpretar o sentimento do eleitorado), os ciclos de governação do  PS e da esquerda têm vindo a ser bem maiores (sempre quase em dobro) que os do PSD/PP. 

2016-09-19

OS CUSTOS POLÍTICOS E ELEITORAIS DO DISCURSO REALISTA


Continua, em crescendo, a pressão sobre o líder do PSD para que altere o seu discurso, na oposição, com vista a inverter as continuadas perdas de posição nas sondagens eleitorais e a deslocação das preferências de voto para os partidos do governo, nomeadamente para o PS e BE.
Interna e externamente ao PSD, adversários e analistas elencam os riscos de Passos Coelho repetir resultados eleitorais semelhantes aos de Manuela Ferreira Leite, em 2009, quando tomou a mesma opção e proporcionou a segunda maioria a Sócrates, ao seguir a estratégia de apresentar ao eleitorado a imagem real da situação do país e os cenários negros que podem vir a traduzir as consequências económicas e financeiras negativas de uma governação socialista rendida à chantagem da esquerda radical.
O governo e os partidos da esquerda que o apoiam, desafiam o PSD a apresentar propostas concretas para o próximo Orçamento de Estado, em vez de esperar apenas pelo vaticinado afundamento da economia e das finanças do país e em consequência, por um provável novo resgate financeiro, que determinaria nova dose de austeridade, reforçada, a aplicar pela governação das forças agora na oposição. Mas, Passos Coelho repete a todos o aviso de que não vai mudar de discurso, nomeadamente nos alertas sobre os riscos das opções da atual governação, ainda que se tenha escusado, até agora, a apostar decididamente em recordar ao eleitorado as suas opções alternativas de governação e que constituem o ativo de esperança que lhe permitiria, distintivamente, valorizar a sua capacidade de evitar hoje os problemas do país que poderá vir a ter que resolver no futuro.
A recusa de substituição do discurso realista assenta assim na desvalorização das possíveis consequências do mesmo nos resultados eleitorais, caso o mesmo venha a revelar-se suficientemente preocupante e assustador aos olhos do eleitorado, que poderá não estar disponível para o aceitar, em alternativa ao otimismo exagerado, mas, tranquilizador do governo. Passos Coelho diz que salvar o país é mais importante que os resultados eleitorais, mas, a preocupação de muitos, conscientes da elevada probabilidade de concretização dos cenários previstos no discurso realista é a de que, sem ganhar eleições (agora necessariamente com uma maioria bem expressiva), não há forças políticas nem protagonistas que tenham oportunidade de salvar o país. Manuela Ferreira Leite que o diga.
O discurso realista, enquanto veículo de protesto da verdade, é sem dúvida necessário e justificado na responsabilização do eleitorado pelas opções que faz (ou de que se abstém) nas urnas, mas deve contar-se com as inúmeras vezes, tornando-se facilmente em regra, em que somos derrotados a combater o erro e a demagogia diante do eleitorado. Também não deixa de fazer sentido que o discurso realista, coerente, repetida e prolongadamente assumido sirva o propósito de afirmar uma verdade que, sabemos, conquista lentamente e não de rompante, mas, há contar com a surpreendente vitalidade da demagogia, do populismo e da ilusão, que o eleitorado alimenta, por preguiça, interesse ou anomia social e política.
Compreender o sentir da maioria do eleitorado, ou seja, das pessoas comuns, com vista a adaptar o discurso, não àquilo que querem ouvir, mas àquilo que estão preparados para ouvir, à data, tornar-se-á crucial para vencer as próximas eleições legislativas, independentemente de quando as mesmas ocorram. Alertar para os riscos que estamos a correr, continua a justificar-se, mas, sem um complemento de propostas construtivas com vista a evitar esses riscos e a vencer com mobilização e empenho os desafios daí decorrentes, constitui em si mesmo um risco não menos elevado de assustar o eleitorado com o anúncio da catástrofe. E, isso não salvará o país, porque entregará a continuidade da governação aos menos capazes, mas mais convincentes.

Os partidos políticos existem para conquistar e exercer o poder, como referiam as leis de Duverger. Não há exercício sem conquista. Não se salva o país na oposição. O PS é exímio na aplicação interna dessa lei da sociologia política, o BE e até o PCP, também já perceberam que, para mudar alguma coisa, terão que participar no sistema ou aceitar o mesmo, ainda que a contragosto.

2016-09-13

UMA AGENDA ALTERNATIVA, DE CONFIANÇA, AO (DES)GOVERNO DO PAÍS


Em vez de realizar digressão pedagógica pela Irlanda, procurando aprender com os que, assumindo opções próprias e coerentes, nos ultrapassaram no grau de autonomia atingida perante os credores internacionais que hoje confiam cegamente naquele país e ali arriscam investimentos que fazem crescer a riqueza e o emprego qualificado, o PM português opta por seguir a pobreza de espírito e de competência do governo grego, participando na primeira Cimeira dos Países do Sul da União Europeia. O espírito miserabilista nota-se, pois, ao longe, nomeadamente no intelecto e no caráter, na esteira do último PM do PS, ainda que carregado de Prada e outras marcas que, definitivamente, não fazem o monge, apenas envolvem o demagogo, para o consumo do eleitorado português que, diga-se em boa verdade, não se esforça nem exige muito mais, detestando e castigando mesmo os honestos e francos que se esforçam por tirar o país das crises ou procuram evitar as recaídas do país, noutras, sempre mais graves que as anteriores.

O atual PM defende alternativas à austeridade e então, vai procurar conselhos, imagine-se, nos mais depravados gastadores europeus, como os gregos, cuja estratégia de criação de alternativas à austeridade e de autonomia face aos credores passa por exigir o perdão da dívida, deles, para que possam retomar o desgoverno do dinheiro alheio, gastando à tripa forra tudo o que obtiveram, a partir do esforço dos outros, a quem dizem logo à partida que não devolverão os empréstimos.

Que belo exemplo que esta gente dá às gerações mais jovens, na mobilização das mesmas para a construção de alternativas à austeridade. Sem palavras.

Decididamente apostado em hostilizar a oposição que ganhou as eleições, o PM atual desafia, entretanto, o PSD a apresentar propostas para o próximo Orçamento de Estado, com vista a fazer das mesmas a bandeira do errada e propositadamente classificado neoliberalismo que supostamente governou Portugal durante os 4 anos em que a Troika aqui assentou praça, por culpa do desgoverno socialista a cujo governo pertenceu, com elevadas responsabilidades, o atual PM.

Passos Coelho respondeu, bem, que é ao governo que cabe apresentar as propostas que revelem as suas opções de governação e, assumir a responsabilidade política pelas mesmas. Seria aceitável e justificável que tivesse recordado ao PM atual os contributos que o PS deu nos últimos 4 anos aos orçamentos de quem governou o país para evitar a sua falência e promover a recuperação da economia, que cresceu no passado ano mais do que acontecerá no corrente, ou que tivesse questionado o atual PM sobre a decisão de chumbo parlamentar do PS ao orçamento de quem ganhou as eleições, ainda antes de o mesmo ter sido conhecido e apresentado no parlamento.

O PSD decidiu assim, finalmente, bem, promover um road show pelos distritos para escrutinar o OE2017 deste governo, permitindo marcar a diferença entre a obra que o anterior governo promoveu e realizou pelo país inteiro, ainda que em tempo de crise e resgate financeiro externo, com o amorfismo que conhecemos hoje, apesar do anunciado fim da crise e da austeridade.

Teremos pois uma boa oportunidade para observar as opções do anterior governo no Alentejo, durante os últimos 4 anos, em matéria de construção de novos Centros de Saúde, de apoio aos cuidados continuados de pessoas fisicamente debilitadas, de promoção da competitividade do tecido empresarial, de apoio à construção de incubadoras de empreendedores de projetos empresariais, de requalificação e construção de escolas, de apoio à modernização da agricultura, de estímulo à valorização turística do património natural, cultural e arquitectónico, de qualificação estratégica dos RH …

Não tenho dúvidas de que valerá bastante o esforço do PSD em recordar aos portugueses e aos alentejanos em particular, o leque de opções programáticas de governação que apresentou aos portugueses e nas quais a maioria dos mesmos confiou e sufragou, clarificando, distintivamente perante o eleitorado, o que estaria neste momento a fazer de diferente, quem ganhou as eleições legislativas, se tivesse tido a legítima e mais que justificada oportunidade de aplicar tal programa, em governo.

2016-07-29

AS SANÇÕES ENQUANTO BODE EXPIATÓRIO PARA ANTECIPAR ELEIÇÕES


Já todos percebemos que as metas orçamentais para 2016 nas quais o Governo teima em persistir, estão mais que comprometidas, no quadro da impossibilidade de resolver a equação que o Governo continua a apresentar: reduzir o défice a par do aumento da despesa (reversão das 35h semanais e reposição dos salários da AP) e da diminuição da receita (diminuição do IVA da restauração…). Como o suposto milagroso estímulo ao consumo enquanto indutor do crescimento económico teima em não apresentar frutos, as estimativas deste último todos os dias são revistas em baixa pelas mais variadas entidades e instituições independentes, o que agravará ainda mais a queda da arrecadação fiscal.

Antecipando a derrapagem, a Comissão Europeia tem vindo a utilizar a ameaça de sanções no âmbito do procedimento por défice excessivo da execução orçamental passada, na pressão ao governo atual, para que este ajuste as medidas em execução e adote medidas excecionais, com vista a conseguir as metas definidas, as quais, neste quadro, não serão atingidas. Com Espanha aconteceu a mesma coisa, tendo o governo espanhol proposto novas medidas como agravamento de carga fiscal sobre as empresas, ainda assim considerada insuficiente pela própria CE.

Por cá, continua o exercício de manutenção de poder pelo PS, custe o que custar ao país, para agradar aos insaciáveis PCP e BE, que só descansarão quando o sistema bancário estiver de rastos e nacionalizado, ou depois de queimada qualquer hipótese de sobrevivência das empresas privadas, dominadas por esses capitalistas exploradores dos trabalhadores e culpados da miséria que grassa pelo mundo inteiro, Venezuela incluída. Grita-se contra a CE e acusa-se a Alemanha de querer a nossa desgraça, mas nada se diz contra os países que, nas reuniões dos organismos europeus, não defendem Portugal, antes insistindo na aplicação das sanções, apesar dos seus governos de esquerda: a Holanda, a França ….

Percebendo o contexto e as expetativas de arrefecimento da economia europeia e mundial durante o segundo semestre do ano, o PS ensaia uma fuga para a frente, rumo a eleições antecipadas que diluam a sua responsabilidade na propositada inércia perante a defesa dos valores do défice de 2015, que poderia ter feito junto da CE, cuja opção prejudica Portugal, mas dá argumentos políticos ao PS para culpabilizar o anterior governo, aquele que nos salvou da bancarrota à beira da qual o PS nos deixou.

Tudo isto para o PS se apresentar ao eleitorado com um histórico de governação que afronta a CE à qual sabe que tem que ceder e cujas regras terá que acatar, o mais tarde possível e transferindo para tais imposições a responsabilidade pelos resultados da sua incapacidade governativa e das incorretas opções tomadas na reposição das medidas do anterior governo. Por outro lado, a elaboração do orçamento de 2017, no quadro das regras do Tratado Orçamental Europeu, implicará obrigatoriamente uma dificuldade negocial com o PCP e o BE cuja ultrapassagem não é garantida, antes pelo contrário.

Mas a verdade é que não será devido às sanções europeias ainda não decididas que, no primeiro trimestre de 2016 o consumo excedeu o rendimento disponível das famílias portuguesas, que gastaram muito mais do que ganharam, algo nunca visto na economia portuguesa, ainda assim sem reflexos nas elevadas taxas de crescimento que este governo prometeu. É a nós que se deve a existência desse problema que é a incapacidade de produzirmos o suficiente para as nossas necessidades e somos nós que temos que o resolver, não são os outros países nem a CE.

O mesmo acontece com os problemas que se agravam todos os dias no sistema bancário português, causados pela incompetência do governo em resolver o dossier CGD, sendo responsabilidade deste governo e não da CE ou do anterior governo. A não ser que as investigações do Ministério Público venham a estender-se a ex-governantes do PSD/PP, para além do ex-primeiro ministro socialista José Sócrates, da sua ex-mulher, do antigo ministro socialista Armando Vara e da sua filha, dos amigos de Sócrates, do ex-motorista de Sócrates …

2016-07-22

PARTIDOS E AUTOCARROS COM PAREDES E TELHADOS DE VIDRO


Um grupo de cidadãos, liderado por uma sociedade de advogados apresentou ao Ministério Público queixa contra 3 autarquias locais (Câmaras Municipais) que denunciam terem utilizado bens públicos (neste caso autocarros) para interesses e fins partidários, nomeadamente o transporte de funcionários das mesmas autarquias, dispensados do serviço para uma manifestação organizada pela CGTP. A manifestação ocorreu em novembro de 2015, contra o anterior governo, constituído na sequência das eleições legislativas do mesmo ano, o qual cairia no parlamento nesse mesmo dia, fruto da coligação de votos das esquerdas.

O Ministério Público abriu inquérito às 3 Câmaras Municipais, todas elas do Alentejo e todas compostas por executivos CDU em maioria absoluta, estando a realizar as correspondentes investigações. A comunicação social dá conta de que a decisão de dispensa dos trabalhadores e a cedência dos autocarros das autarquias em causa são assumidas pelos responsáveis autárquicos (decididas ou ratificadas em reunião do executivo camarário), os quais equiparam o tratamento dado à CGTP ao que praticam com as associações dos seus concelhos, na isenção de taxas de uso dos transportes do município, assegurando não terem prejudicado o transporte escolar dos alunos do concelho.

Mas, algumas assumem que eventuais perturbações ao normal funcionamento dos transportes escolares que tenham ocorrido, se deveram sim à participação voluntária dos trabalhadores na ação de luta da CGTP. Ou seja, se bem entendo, caso os motoristas tenham optado pela ida à manifestação, as autarquias ficaram impossibilitadas de assegurar o transporte dos alunos, nesse dia e, o mesmo terá acontecido no que respeita às cantinas escolares, asseguradas pelas autarquias.

Mais ainda, são desvalorizadas as despesas públicas decorrentes do ato e é assumido que a prática continuará a observar-se para o futuro, sempre que a estrutura sindical dos trabalhadores das autarquias o solicite. A linguagem que alguns destes autarcas expressam à comunicação social, a propósito deste assunto, não lembraria a ninguém no início do século passado, mesmo na ex-URSS, curiosamente, vinda de alguns dos concelhos que menos investimento atraem, pelo que, as duas variáveis não deverão andar muito distantes.

Percebo das palavras revolucionárias e radicais utilizadas por alguns dos autarcas da CDU, que a suposta defesa dos direitos laborais dos trabalhadores das autarquias locais por uma central sindical controlada pelo PCP constitui um direito de maior valor do que o dos alunos que nesse mesmo dia viram os seus encarregados de educação serem informados pelas escolas da impossibilidade de terem transporte escolar, refeição na escola, ou prolongamento do horário com atividades extra-curriculares.

Porque se tratou de uma ação em nome da “rejeição das políticas de direita”, os autarcas da CDU não parecem revelar qualquer incómodo pelo prejuízo causado aos pais que, eventualmente tiveram que faltar aos seus empregos para ficarem com os seus filhos, pois tratar-se-á certamente de sacrifícios individuais e particulares que serão contabilizados como danos colaterais face a essa causa coletiva que preenche os seus discursos e que é a suposta defesa duma classe trabalhadora explorada pelo anterior governo e pela Troika capitalista.

Questões do domínio ético não se põem a estes autarcas, membros de uma CDU que todos os dias vem publicamente condenar a ética de Durão Barroso porque aceitou um emprego que dizem estar ao serviço do grande capital e da finança internacional, que acusam de manipular o modelo económico capitalista. Fosse esse emprego aceite em nome de um outro sistema, comunista, totalitário, usurpador de liberdades, do respeito pela propriedade privada, pelo indivíduo, pela livre escolha e pelos seus interesses particulares e ainda veríamos a estátua de Barroso em alguma rotunda de alguma destas autarquias ser inaugurada antes das eleições autárquicas do próximo ano.

2016-07-15

POEIRAS À VOLTA DO BREXIT


 
Alguma esquerda política nacional tem vindo a passar a mensagem de que o Brexit recente terá efeitos benéficos no funcionamento da União Europeia, a partir daqui. Mas, o que aí vem será melhor do que a situação atual? Conseguiremos daí colher benefícios?

Não parece que o Brexit tenha tido por móbil a ausência de solidariedade intraeuropeia e que a mesma seja intensificada a partir de agora. Também não será de esperar um aumento do respeito pela especificidade dos países do sul, podendo sim acontecer o reforço dos poderes do eixo franco-alemão em nome de uma maior coesão económica, aumentando a clivagem entre as diferentes velocidades económicas da U.E.. O núcleo dos países fundadores do projeto europeu já começou a reunir de emergência à margem dos restantes, deixando Portugal e Espanha de fora, entre outros. O centro da Europa parece tornar-se ainda mais central e distante da periferia.

Caminharemos para uma União Europeia mais forte, mais solidária e mais coesa, ou, ficaremos apenas pelos juramentos políticos de reforma das instituições europeias a par da aceleração a caminho de mais Europa? A Europa pode desequilibrar-se ainda mais a favor dos países que defendem o reforço da integração europeia sustentada em mais transferências de poder para as instâncias comunitárias e, os défices democráticos da U.E. poderão agravar-se em vez de se diluírem.

Não acredito que a crise que a U.E. vive com o Brexit resultará em mais dinheiro e mais tolerância para as contas dos países do sul. Os eleitorados dos países do centro e norte da Europa querem e exigem precisamente o contrário, mais dureza no tratamento, indiferentes à especificidade dos países mais pobres. Mostram-se recetivos a uma nova U.E. que inclua poder de veto da CE sobre os orçamentos nacionais que violem as regras e a execução das políticas orçamentais. A recuperação da soberania perdida e da subsidiariedade não se avistam pois, para já, no quadro de um aprofundamento em curso da integração económica e política da U.E.

A diminuição do compromisso europeu, o regresso dos nacionalismos e protecionismos não podem nunca ser soluções alternativas credíveis, globalmente competitivas e sustentáveis, antes tornam aquele compromisso no bode expiatório para os fracassos das políticas domésticas, incapazes (mas não impedidas) de proceder às reformas estruturais que incentivem o investimento, gerem mais crescimento económico, promovam a criação de mais e melhor emprego, diminuam o desemprego e equilibrem as contas públicas. Curioso que sejam os países do sul, que recebem mais ajudas financeiras à sua economia e há mais anos, os que mais culpam os outros pelas suas dores.

Adiarmos a consolidação das nossas contas públicas, enquanto compromisso europeu acarretará melhorias para a nossa economia e para a confiança dos nossos credores e investidores externos? Afastar-nos-á do caminho do próximo resgate financeiro, a somar aos 3 anteriores, dos quais apenas um aconteceu depois da adesão de Portugal à U.E.?

Diminuir o nosso compromisso europeu aumentará a disponibilidade dos parceiros europeus em contribuírem para um pacote de fundos mais volumoso a atribuir a Portugal neste e num próximo quadro comunitário de apoio? Teremos deixado de precisar desses fundos para modernizarmos a nossa economia e estaremos dispostos a apostar em alguma milagrosa receita socialista que nos coloque num patamar venezuelano?

A poeira esquerdista em torno do Brexit, em Portugal, tem criado a ilusão de que temos condições de escolher entre uma prosperidade autónoma e soberana e um suposto empobrecimento dependente, no seio da U.E.. Ora, a demagogia não pode toldar o nosso discernimento na escolha entre o soberano abismo dos radicais e os custos necessariamente suportáveis de um processo integrador que teremos que acompanhar na primeira linha, sob pena de não conseguirmos alcançar nenhuma das velocidades da U.E. e deixarmos de ser rebocados.

Gritemos então por Portugal primeiro, sejamos nacionalistas, soberanos, individualistas, mais comprometidos com o que se passa cá dentro, ou seja, tratemos primeiro da resolução dos nossos problemas, que apenas de nós dependem, equilibrando as nossas contas públicas, através de uma rigorosa execução orçamental. Será que é o que estamos a fazer?

2016-07-08

O QUE PODE E DEVE PORTUGAL FAZER POR UMA UNIÃO EUROPEIA MAIS FORTE?

Portugal está longe de sentir alguma pressão insuportável de vagas migratórias ou de refugiados, que ameacem a integridade do seu território, a estabilidade das suas fronteiras, ou mesmo a coesão da sociedade portuguesa. Também não consta que tenha uma economia de tal forma competitiva nem umas finanças públicas de tal forma equilibradas que se vejam ameaçadas por países da União Europeia mais pobres do que nós e para os quais estejamos a contribuir de forma líquida em ajudas comunitárias há várias décadas.

Se não é essa a realidade que envolve Portugal, então que razões, de outro ou deste tipo como as que levaram o UK a optar por abandonar a U.E., poderiam mobilizar os portugueses a escolher igual caminho e o que ganhariam efetivamente, se muitos entendem que o próprio UK, uma das economias mais pujantes do mundo, terá muito mais a perder do que a ganhar com a saída? 

Os britânicos com maior poder económico, mais jovens, mais instruídos e residentes nas regiões mais urbanas, manifestaram a sua vocação europeísta, sendo os mais velhos, que menos tempo lidarão com as consequências da decisão tomada, aqueles cujo voto foi decisivo nos resultados do Brexit, entendendo que a permanência na U.E. prejudicava a estabilidade e o desenvolvimento da economia e da sociedade britânica. Ora, se tal dilema se colocasse em Portugal, como reagiria tal tipo de eleitorado, algum dele afeto ao BE, partido que se pronunciou já como favorável ao mesmo tipo de consulta popular?

Considerariam que o aumento da probabilidade de virmos a pedir um novo apoio financeiro aos nossos parceiros europeus se deve à U.E., mais do que à sistemática violação das regras de gestão das finanças públicas que assumimos cumprir mas que teimamos em desprezar, gerando mais dívida, mais défice e maior desequilíbrio orçamental, desconfiança dos mercados sobre a nossa capacidade de governação e possíveis cortes no financiamento internacional à nossa economia?

Considerariam que a estagnação da atração de investimento estrangeiro que experimentamos, do qual necessitamos para gerar riqueza e emprego em setores de tecnologia avançada se deve à U.E., mais do que à solução governativa que as esquerdas engendraram (algumas teimam mesmo na benevolência e admiração ao modelo político e económico venezuelano) e que afugenta os investidores internacionais?

Considerariam que o medíocre crescimento da nossa economia, sem influências na geração de emprego e na redução do desemprego, apesar dos milhões de €uros que diariamente recebemos em ajudas comunitárias, há 30 anos (desde 1986), se deve à U.E., mais do que à nossa incapacidade de promovermos as necessárias reformas estruturais que tornassem a matriz económica mais competitiva e sustentável?

Considerariam que a necessidade de recapitalização da nossa banca se deve à U.E., mais do que ao volume de crédito malparado e aos ruinosos negócios apoiados com manifesta instrumentalização política e financeira da banca, em detrimento de uma vocação económica politicamente relegada?

Considerariam que a fraca produtividade dos fatores da nossa economia, seja no trabalho seja no capital, se deve à U.E., mais do que à nossa incapacidade de gestão dos mesmos em benefício do crescimento do rendimento per capita, que teima em manter-se afastado da média da U.E.?

Os resultados das eleições em Espanha não apontam no sentido do populismo radical demagógico, mas sim da moderação e da opção pela responsabilidade, ou seja, dos partidos políticos situados ao centro do espectro ideológico e não nos extremos.
Confesso-me curioso para o que virá a acontecer em Portugal, nas próximas eleições legislativas, mais ainda se elas vierem a ser antecipadas, sendo que, até lá, bem que poderíamos contribuir, de forma séria e esforçada para uma União Europeia mais forte, governando com maior responsabilidade e diminuindo as fragilidades da nossa economia.

2016-07-01

O MERCADO DE TRABALHO E AS ESCOLHAS UNIVERSITÁRIAS DOS JOVENS

Se os mercados de trabalhos obedecem hoje a uma dinâmica cujas tendências são difíceis de antecipar mesmo no curto prazo, então as escolhas universitárias dos jovens não terão necessariamente que ser condicionadas excessivamente por aquela incerteza, antes abrindo espaço à vocação pessoal e às preferências dos próprios, que se prevê virem a permanecer menos tempo na profissão através da qual iniciam a sua carreira laboral.

Aproximando-se o momento de escolha de cursos e universidades a que se candidatam, jovens e suas famílias são o alvo de muitas notícias divulgando estudos sobre o grau de empregabilidade das várias ofertas das instituições de ensino superior. São fiáveis os estudos e deverão os mesmos condicionar as escolhas, ou apenas orientar as mesmas?

A indicação dos cursos que dão maior garantia de emprego aos recém-licenciados ou a daqueles que verificam taxas de desemprego mais elevadas entre os finalistas deve ser lida com alguma prudência. Se é verdade que as áreas das ciências da saúde e das TIC oferecem perspetivas de se manterem no longo prazo como geradoras de significativas e relevantes oportunidades no mercado de trabalho, face à expectável evolução da demografia e da mudança social e tecnológica, outras áreas há cuja volatilidade resulta em incertezas que devem ser equacionadas nas escolhas a fazer.

Os estudos e as notícias que os traduzem revelam pouca informação sobre as questões da sobrequalificação ou da subqualificação dos mercados de trabalho, não permitindo perceber com clareza o grau de correspondência entre as áreas de empregabilidade e as áreas de formação de base, sendo que alguma dessa dissonância é cada vez mais frequente nos mercados de trabalho, tendo em conta o elevado e crescente dinamismo dos mesmos.

Ora, se a tendência marcante é a de que os mercados de trabalho diminuam os prazos de alteração das suas estruturas e dos quadros relação entre a oferta e a procura, tal não deve ser ignorado na implicação de menor pressão sobre os jovens, permitindo-lhes escolherem áreas mais apetecíveis à sua vocação própria e menos condicionadas às tendências dos mercados, no momento. A consequência é a de que se torne cada vez mais relevante a capacidade de mobilização para o mercado, das competências adquiridas, a acrescentar, atualizar ou mesmo a reconverter a qualquer momento de desemprego, momentos esses que se poderão tornar mais frequentes e intermitentes no futuro.

Nada impedirá pois que as competências adquiridas em cursos de áreas como as artes, as ciências sociais ou o ensino, entre outras, possam ser mobilizadas com sucesso para atividades (existentes ou de emergência futura) algo distantes à primeira vista, desde que ajustadas e complementadas com outras competências a adquirir na fase pós-graduada ou de especialização. Bastará sim que haja vontade e flexibilidade para isso por parte do detentor das mesmas. A inflexibilidade, pelo contrário, ditará maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho, como acontece não raras vezes, por resistência à necessária adaptação à evolução social, que dita condições de maior volatilidade aos mercados de trabalho.
 
Há pois, hoje em dia, uma maior margem de liberdade na escolha das áreas de formação no ensino superior, atendendo à maior incerteza a que os mercados estarão sujeitos no futuro, condicionados por uma evolução tecnológica e social cujos ritmos serão por certo bem mais intensos que hoje e que no passado. É para a adaptação a essa permanente mudança que há que estar preparado, mobilizando, completando, atualizando, reciclando ou reconvertendo as competências de base, seja em que área do conhecimento for.

2016-06-24

O TALENTO COMO ATIVO NO DESENVOLVIMENTO DOS TERRITÓRIOS


Vários especialistas têm vindo a destacar a emergência recente mas crescente da dimensão de gestão das qualificações e do talento dos recursos humanos, enquanto fator valorizador da construção, reforço e mudança da cultura organizacional das empresas, com impacto significativo na eficiência e produtividade empresariais.

Tal perspetiva, desde logo geradora de expetativas interessantes num mercado de trabalho que sempre observa dificuldades de absorção dos profissionais de gestão do capital humano, tem vindo a ser constatada com maior intensidade desde o início da crise (paradoxalmente ou talvez não), um pouco por todo o país, com maior foco no tecido empresarial de maior intensidade tecnológica.

A recente crise financeira e económica que afetou a Europa, acarretou uma substancial alteração da matriz económica nacional, reduzindo significativamente os setores tradicionais da atividade económica em número e dimensão empregadora de empresas, permitindo ganhos relativos de peso e mesmo a expansão de unidades integradas em sectores mais pujantes em tecnologia, competitivos à escala europeia e mundial.

A atração e consolidação de investimento estrangeiro em unidades de produção tecnologicamente avançadas e de prestação de serviços digitais cresceu aos poucos no país, durante e apesar da crise, com uma distribuição territorialmente mais equilibrada e beneficiando mesmo algumas das regiões com menor tradição industrial.

A tal movimento não terá sido indiferente a avaliação da capacidade dos territórios responderem, à escala regional, a elevadas e particulares exigências desses investimentos, em matéria de gestão das qualificações profissionais e dos talentos humanos. Ganharão aqui relevância, entre outras, as avaliações sobre a rede de instituições do ensino superior, a capacidade e diversidade da oferta formativa de caráter técnico e profissional, a implantação e recetividade do sistema regional de transferência de tecnologia, a existência e a dinâmica da gestão dos parques empresariais, assim como a ligação dos mesmos ao sistema de ciência regional, etc…

Foi a existência de várias e entrecruzadas redes de diversos tipos de atores que gerou confiança para que empresas e grupos internacionais de importância mundial como a Embraer, a Mecachrome e a Capgemini, entre outras, se instalassem no Alentejo e para que outras já existentes crescessem significativamente, atraindo áreas de produção instaladas noutros continentes, como é o caso da Tyco Electronics. São exemplos de casos de certo tipo de investimento, muito seletivo, porque muito exigente no que respeita à qualidade das qualificações profissionais e do talento humano que mobilizam no seu entorno, mas que confiaram na qualidade dos atores regionais do Alentejo e, no fundo, no talento institucional dos mesmos para responderem ao nível das exigências e dos desafios colocados.

Interessante foi a sensação experimentada, no seio dos atores institucionais regionais, de constatar a elevação da dimensão da qualidade das qualificações profissionais à condição de fator determinante e mais que isso, decisivo, na escolha da localização de investimentos tão exigentes e tão distantes do padrão a que estávamos habituados. E tudo isto, em plena crise económica e financeira, com um desemprego galopante e oriundo de atividades económicas igualmente distantes das emergentes na região.

É, pois, reconfortante assistir à afirmação, por parte de reputados especialistas da área da gestão do capital humano, de que este mesmo capital é efetivamente o “gatilho” do crescimento, diria que não apenas económico, mas principalmente regional e sustentável, como está em curso no Alentejo.

2016-06-17

CGD: UMA BOMBA-RELÓGIO


O governo apresenta à CE um plano de recapitalização pública de 4000M€ da CGD, a qual pode vir a aprovar com contrapartidas: um plano de reestruturação do banco que demonstre haver retorno financeiro dessa ajuda pública, como se de um investimento privado se tratasse. A Comissária Europeia que tutela a Direção Geral da Concorrência da CE (DG Comp), revela publicamente que, não havendo preconceitos sobre a propriedade pública dos bancos, significa essa neutralidade que a CGD deverá devolver ao Estado, que investe (o dinheiro dos contribuintes), o retorno lucrativo do capital.

Para o Ministro da Finanças, desvalorizando a mensagem de exigência de rentabilidade do investimento público (8% a 10% ao ano), a única preocupação recai sobre a negociação com a CE da classificação contabilística da capitalização: carregando sobre a despesa pública sem agravar o défice, ou dividindo pelas duas parcelas/rúbricas.

Indiferente à reestruturação exigida pela CE para que a CGD regresse à apresentação de lucros em vez de prejuízos como o fez nos últimos anos, o Ministro das Finanças aprova o crescimento do Conselho de Administração de 14 para 19 elementos (disparando 70% os custos daquele órgão), em sentido contrário à aceleração da redução de custos da empresa, tendo ainda o governo aprovado o decreto-lei que altera o estatuto do gestor público, para que os novos administradores da CGD possam ganhar mais do que o primeiro-ministro.

Não admira, pois, que a corretora Moody’s desconfie das intenções de um governo pouco credível em matéria de finanças públicas e ameace cortar o rating da CGD devido às incertezas que sente e adivinha, mais ainda quando o mesmo banco ainda não devolveu ao Estado a quem agora volta a pedir apoio, os 900M€ de capital emprestado em 2013, cujo prazo termina em 2017.

A desconfiança da Moody’s sobre a gestão financeira saudável da CGD (desembocando em notações de risco) não parece condenável à luz do historial daquele banco público, nem do branqueamento dos erros (ou propósitos) de gestão pelo governo do PS e forças partidárias apoiantes, se atendermos a que: a) Em 2010 a CGD aprovou um crédito de 11,5M€ à Fundação Social do Quadro Bancário (FSQB), a qual não existia por ter sido declarada nula pela justiça um ano antes. Recuperação? Responsabilização pela decisão? Desconhecidos … b) A CGD não dá lucros desde 2010 e, em cinco anos, acumulou perdas de cerca de 2000M€, sendo que, só em imparidades para crédito malparado, imóveis e cotadas, queimou cerca de 8500M€; c) o banco foi instrumentalizado por vários governos em negócios especulativos imobiliários e financeiros, tendo gerado nos últimos 10 anos um buraco maior do que o do BES e do BANIF juntos: Herdade da Comporta (do GES, com dívida superior a 100M€); empréstimos a Berardo para controle do BCP, ONGOING,  Portugal Telecom, …

Só a injeção de capital público que cubra os prejuízos causados por negócios de particulares parece poder sossegar a Moody’s, mas isso não parece perturbar nem o BE nem o PCP, já para não falar no PS. Os mesmos indignados sobre os casos BPN, BES e, o mais recente BANIF, sobre o qual a CE garante que a precipitação da decisão é da responsabilidade do atual governo das esquerdas.

Recusando um inquérito parlamentar à CGD, as forças da esquerda legitimam o assalto aos bancos desde que sejam públicos, ainda que os danos (aos contribuintes) tenham resultado da gestão subordinada ao compadrio político (contra o que se revoltaram nos bancos privados). O banco é público e o que é público é para delapidar, sem necessidade de responsabilizar quem o faz. Por isso, a banca deve ser gerida toda ela pelo Estado, porque nas mãos dos privados é um perigo para os cofres do mesmo Estado.

Ficamos sem palavras e, pior ainda, sem dinheiro para tanta falta de pudor que estamos a suportar.

2016-06-09

A INCOMPREENSÍVEL DEFESA DA DEPENDÊNCIA DO ESTADO


Parece significativamente consensual por toda a União Europeia que a promoção de um clima empreendedor que atraia investidores externos e mobilize o capital de risco em direção a novos e inovadores negócios, constitui uma oportunidade relevante para estimular e transformar o crescimento económico e a geração de emprego, sobretudo jovem, recuperando a Europa alguma da desvantagem nesta matéria face a outras economias, como a dos EUA.

Assim, justificam-se políticas públicas de incentivo do empreendedorismo, contributivas de uma maior coesão territorial e económica dos países europeus e das suas regiões, atraindo e fixando jovens, negócios e atividades económicas, que diminuam igualmente as assimetrias demográficas e contrariem as tendências de envelhecimento instaladas. Muito haverá a explorar por cá, na fixação das competências científicas e técnicas dos nossos jovens, diariamente assediados pela Europa Central e do Norte, a cujo chamamento têm dificuldade em resistir, pelas condições oferecidas por um lado e, por outro, pelo desejo de experimentação e teste das sensações e dos contextos identificados através das redes de conexão virtual.

Não poderão igualmente as políticas públicas abrandar os esforços dirigidos ao retorno destes quadros ainda jovens ao país de origem, após o enriquecimento de competências decorrente da experiência profissional internacional, com potencial de benefício para a promoção da qualidade e da criação de emprego e empresas. Mais uma vez, o apoio ao empreendedorismo tornar-se-á por certo determinante.

A considerar ainda atender ao estímulo da capacidade empreendedora de uma geração mais madura, que cresceu com o advento da internet e das tecnologias de informação e comunicação, considerada por muitos como a mais bem qualificada de sempre e marcada pela competição e pela inovação, mas que não escapou ainda assim aos efeitos da crise, vendo-se pressionada a regressar a casa dos pais em consequência das instabilidades laborais e financeiras, bem como da desestruturação familiar que afetou muitos casais dessa geração. O potencial de desenvolvimento de projetos empreendedores e geradores de empresas e empregos, explorando os espaços de localização empresarial municipais e associativos infraestruturados no país, por esta geração técnica e cientificamente qualificada não deverá ser desprezado pelas políticas públicas de promoção do emprego.

A continuidade da aposta na promoção do empreendedorismo parece óbvia e defensável, mas assim não parece ser entendido por uma certa esquerda radical que sustenta a atual governação de Portugal, que crescentemente vem a público condenar a promoção do empreendedorismo, considerando este ideologicamente justificador das situações de pobreza. Vá-se lá perceber o pretende esta gente com a condenação ao empreendedorismo por este acarretar risco, incerteza, precariedade, valorização da iniciativa individual, desejo de sucesso pessoal e liberdade de escolha… chegando à acusação de aproximação do país ao Bangladesh ao enveredar por esta via.

Pelos vistos, a autonomia na organização da vida profissional, a emancipação pessoal e profissional, a auto-regulação da relação laboral e gestão autónoma dos tempos de trabalho, a promoção da conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, são agora desvalorizados na diabolização do empreendedorismo (utopia neoliberal, dizem eles) promovido pelo anterior governo, o qual procurava estimular a iniciativa dos desempregados, alguns dos quais (seletivamente, apenas nos que têm potencial de competências a mobilizar) para que, pelos seus próprios meios e capacidades, possam desenhar uma solução e construir um caminho de saída para a situação em que se encontram.

Não é fácil entender estas posições, antes pelo contrário, é mesmo difícil e desesperante. Estimular o consumo como faz o atual governo, através do crédito bancário que gera maior endividamento para o país e compromete financeiramente o futuro das famílias, parece ser mais aliciante aos olhos desta esquerda radical. Não foi esse o caminho da Irlanda, agora novamente elogiada internacionalmente, exemplo que, curiosamente, alguma esquerda esquece e ignora propositadamente em Portugal.