Portugal está longe de sentir alguma
pressão insuportável de vagas migratórias ou de refugiados, que ameacem a
integridade do seu território, a estabilidade das suas fronteiras, ou mesmo a
coesão da sociedade portuguesa. Também não consta que tenha uma economia de tal
forma competitiva nem umas finanças públicas de tal forma equilibradas que se
vejam ameaçadas por países da União Europeia mais pobres do que nós e para os quais estejamos a
contribuir de forma líquida em ajudas comunitárias há várias décadas.
Se não é essa a realidade que envolve
Portugal, então que razões, de outro
ou deste tipo como as que levaram o UK a optar por abandonar a U.E., poderiam
mobilizar os portugueses a escolher igual caminho e o que ganhariam
efetivamente, se muitos entendem que o próprio UK, uma das economias mais
pujantes do mundo, terá muito mais a perder do que a ganhar com a saída?
Os
britânicos com maior poder económico, mais jovens, mais instruídos e residentes
nas regiões mais urbanas, manifestaram a sua vocação europeísta, sendo os mais
velhos, que menos tempo lidarão com as consequências da decisão tomada, aqueles
cujo voto foi decisivo nos resultados do Brexit, entendendo que a permanência
na U.E. prejudicava a estabilidade e o desenvolvimento da economia e da
sociedade britânica. Ora, se tal dilema se colocasse em Portugal, como reagiria
tal tipo de eleitorado, algum dele afeto ao BE, partido que se pronunciou já
como favorável ao mesmo tipo de consulta popular?
Considerariam
que o aumento da probabilidade de virmos a pedir um novo apoio financeiro aos
nossos parceiros europeus se deve à U.E., mais do que à sistemática violação
das regras de gestão das finanças públicas que assumimos cumprir mas que
teimamos em desprezar, gerando mais dívida, mais défice e maior desequilíbrio
orçamental, desconfiança dos mercados sobre a nossa capacidade de governação e
possíveis cortes no financiamento internacional à nossa economia?
Considerariam
que a estagnação da atração de investimento estrangeiro que experimentamos, do
qual necessitamos para gerar riqueza e emprego em setores de tecnologia
avançada se deve à U.E., mais do que à solução governativa que as esquerdas
engendraram (algumas teimam mesmo na benevolência e admiração ao modelo
político e económico venezuelano) e que afugenta os investidores
internacionais?
Considerariam
que o medíocre crescimento da nossa economia, sem influências na geração de
emprego e na redução do desemprego, apesar dos milhões de €uros que diariamente
recebemos em ajudas comunitárias, há 30 anos (desde 1986), se deve à U.E., mais
do que à nossa incapacidade de promovermos as necessárias reformas estruturais
que tornassem a matriz económica mais competitiva e sustentável?
Considerariam
que a necessidade de recapitalização da nossa banca se deve à U.E., mais do que
ao volume de crédito malparado e aos ruinosos negócios apoiados com manifesta
instrumentalização política e financeira da banca, em detrimento de uma vocação
económica politicamente relegada?
Considerariam
que a fraca produtividade dos fatores da nossa economia, seja no trabalho seja
no capital, se deve à U.E., mais do que à nossa incapacidade de gestão dos
mesmos em benefício do crescimento do rendimento per capita, que teima em manter-se afastado da média da U.E.?
Os
resultados das eleições em Espanha não apontam no sentido do populismo radical
demagógico, mas sim da moderação e da opção pela responsabilidade, ou seja, dos
partidos políticos situados ao centro do espectro ideológico e não nos
extremos.
Confesso-me curioso para o que virá a acontecer em Portugal, nas
próximas eleições legislativas, mais ainda se elas vierem a ser antecipadas,
sendo que, até lá, bem que poderíamos contribuir, de forma séria e esforçada
para uma União Europeia mais forte, governando com maior responsabilidade e diminuindo
as fragilidades da nossa economia.
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