2016-07-22

PARTIDOS E AUTOCARROS COM PAREDES E TELHADOS DE VIDRO


Um grupo de cidadãos, liderado por uma sociedade de advogados apresentou ao Ministério Público queixa contra 3 autarquias locais (Câmaras Municipais) que denunciam terem utilizado bens públicos (neste caso autocarros) para interesses e fins partidários, nomeadamente o transporte de funcionários das mesmas autarquias, dispensados do serviço para uma manifestação organizada pela CGTP. A manifestação ocorreu em novembro de 2015, contra o anterior governo, constituído na sequência das eleições legislativas do mesmo ano, o qual cairia no parlamento nesse mesmo dia, fruto da coligação de votos das esquerdas.

O Ministério Público abriu inquérito às 3 Câmaras Municipais, todas elas do Alentejo e todas compostas por executivos CDU em maioria absoluta, estando a realizar as correspondentes investigações. A comunicação social dá conta de que a decisão de dispensa dos trabalhadores e a cedência dos autocarros das autarquias em causa são assumidas pelos responsáveis autárquicos (decididas ou ratificadas em reunião do executivo camarário), os quais equiparam o tratamento dado à CGTP ao que praticam com as associações dos seus concelhos, na isenção de taxas de uso dos transportes do município, assegurando não terem prejudicado o transporte escolar dos alunos do concelho.

Mas, algumas assumem que eventuais perturbações ao normal funcionamento dos transportes escolares que tenham ocorrido, se deveram sim à participação voluntária dos trabalhadores na ação de luta da CGTP. Ou seja, se bem entendo, caso os motoristas tenham optado pela ida à manifestação, as autarquias ficaram impossibilitadas de assegurar o transporte dos alunos, nesse dia e, o mesmo terá acontecido no que respeita às cantinas escolares, asseguradas pelas autarquias.

Mais ainda, são desvalorizadas as despesas públicas decorrentes do ato e é assumido que a prática continuará a observar-se para o futuro, sempre que a estrutura sindical dos trabalhadores das autarquias o solicite. A linguagem que alguns destes autarcas expressam à comunicação social, a propósito deste assunto, não lembraria a ninguém no início do século passado, mesmo na ex-URSS, curiosamente, vinda de alguns dos concelhos que menos investimento atraem, pelo que, as duas variáveis não deverão andar muito distantes.

Percebo das palavras revolucionárias e radicais utilizadas por alguns dos autarcas da CDU, que a suposta defesa dos direitos laborais dos trabalhadores das autarquias locais por uma central sindical controlada pelo PCP constitui um direito de maior valor do que o dos alunos que nesse mesmo dia viram os seus encarregados de educação serem informados pelas escolas da impossibilidade de terem transporte escolar, refeição na escola, ou prolongamento do horário com atividades extra-curriculares.

Porque se tratou de uma ação em nome da “rejeição das políticas de direita”, os autarcas da CDU não parecem revelar qualquer incómodo pelo prejuízo causado aos pais que, eventualmente tiveram que faltar aos seus empregos para ficarem com os seus filhos, pois tratar-se-á certamente de sacrifícios individuais e particulares que serão contabilizados como danos colaterais face a essa causa coletiva que preenche os seus discursos e que é a suposta defesa duma classe trabalhadora explorada pelo anterior governo e pela Troika capitalista.

Questões do domínio ético não se põem a estes autarcas, membros de uma CDU que todos os dias vem publicamente condenar a ética de Durão Barroso porque aceitou um emprego que dizem estar ao serviço do grande capital e da finança internacional, que acusam de manipular o modelo económico capitalista. Fosse esse emprego aceite em nome de um outro sistema, comunista, totalitário, usurpador de liberdades, do respeito pela propriedade privada, pelo indivíduo, pela livre escolha e pelos seus interesses particulares e ainda veríamos a estátua de Barroso em alguma rotunda de alguma destas autarquias ser inaugurada antes das eleições autárquicas do próximo ano.

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