Alguma
esquerda política nacional tem vindo a passar a mensagem de que o Brexit
recente terá efeitos benéficos no funcionamento da União Europeia, a partir
daqui. Mas, o que aí vem será melhor do que a situação atual? Conseguiremos daí
colher benefícios?
Não
parece que o Brexit tenha tido por móbil a ausência de solidariedade
intraeuropeia e que a mesma seja intensificada a partir de agora. Também não
será de esperar um aumento do respeito pela especificidade dos países do sul, podendo
sim acontecer o reforço dos poderes do eixo franco-alemão em nome de uma maior
coesão económica, aumentando a clivagem entre as diferentes velocidades
económicas da U.E.. O núcleo dos países fundadores do projeto europeu já
começou a reunir de emergência à margem dos restantes, deixando Portugal e
Espanha de fora, entre outros. O centro da Europa parece tornar-se ainda mais
central e distante da periferia.
Caminharemos
para uma União Europeia mais forte, mais solidária e mais coesa, ou, ficaremos
apenas pelos juramentos políticos de reforma das instituições europeias a par da
aceleração a caminho de mais Europa? A Europa pode desequilibrar-se ainda mais
a favor dos países que defendem o reforço da integração europeia sustentada em
mais transferências de poder para as instâncias comunitárias e, os défices
democráticos da U.E. poderão agravar-se em vez de se diluírem.
Não
acredito que a crise que a U.E. vive com o Brexit resultará em mais dinheiro e
mais tolerância para as contas dos países do sul. Os eleitorados dos países do
centro e norte da Europa querem e exigem precisamente o contrário, mais dureza
no tratamento, indiferentes à especificidade dos países mais pobres. Mostram-se
recetivos a uma nova U.E. que inclua poder de veto da CE sobre os orçamentos
nacionais que violem as regras e a execução das políticas orçamentais. A
recuperação da soberania perdida e da subsidiariedade não se avistam pois, para
já, no quadro de um aprofundamento em curso da integração económica e política
da U.E.
A
diminuição do compromisso europeu, o regresso dos nacionalismos e protecionismos
não podem nunca ser soluções alternativas credíveis, globalmente competitivas e
sustentáveis, antes tornam aquele compromisso no bode expiatório para os
fracassos das políticas domésticas, incapazes (mas não impedidas) de proceder
às reformas estruturais que incentivem o investimento, gerem mais crescimento
económico, promovam a criação de mais e melhor emprego, diminuam o desemprego e
equilibrem as contas públicas. Curioso que sejam os países do sul, que recebem
mais ajudas financeiras à sua economia e há mais anos, os que mais culpam os
outros pelas suas dores.
Adiarmos
a consolidação das nossas contas públicas, enquanto compromisso europeu
acarretará melhorias para a nossa economia e para a confiança dos nossos
credores e investidores externos? Afastar-nos-á do caminho do próximo resgate
financeiro, a somar aos 3 anteriores, dos quais apenas um aconteceu depois da
adesão de Portugal à U.E.?
Diminuir
o nosso compromisso europeu aumentará a disponibilidade dos parceiros europeus
em contribuírem para um pacote de fundos mais volumoso a atribuir a Portugal
neste e num próximo quadro comunitário de apoio? Teremos deixado de precisar
desses fundos para modernizarmos a nossa economia e estaremos dispostos a
apostar em alguma milagrosa receita socialista que nos coloque num patamar
venezuelano?
A
poeira esquerdista em torno do Brexit, em Portugal, tem criado a ilusão de que
temos condições de escolher entre uma prosperidade autónoma e soberana e um
suposto empobrecimento dependente, no seio da U.E.. Ora, a demagogia não pode
toldar o nosso discernimento na escolha entre o soberano abismo dos radicais e
os custos necessariamente suportáveis de um processo integrador que teremos que
acompanhar na primeira linha, sob pena de não conseguirmos alcançar nenhuma das
velocidades da U.E. e deixarmos de ser rebocados.
Gritemos
então por Portugal primeiro, sejamos nacionalistas, soberanos, individualistas,
mais comprometidos com o que se passa cá dentro, ou seja, tratemos primeiro da
resolução dos nossos problemas, que apenas de nós dependem, equilibrando as
nossas contas públicas, através de uma rigorosa execução orçamental. Será que é
o que estamos a fazer?
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