O
governo apresenta à CE um plano de recapitalização pública de 4000M€ da CGD, a
qual pode vir a aprovar com contrapartidas: um plano de reestruturação do banco
que demonstre haver retorno financeiro dessa ajuda pública, como se de um
investimento privado se tratasse. A Comissária Europeia que tutela a Direção
Geral da Concorrência da CE (DG Comp), revela publicamente que, não havendo
preconceitos sobre a propriedade pública dos bancos, significa essa
neutralidade que a CGD deverá devolver ao Estado, que investe (o dinheiro dos
contribuintes), o retorno lucrativo do capital.
Para o
Ministro da Finanças, desvalorizando a mensagem de exigência de rentabilidade
do investimento público (8% a 10% ao ano), a única preocupação recai sobre a
negociação com a CE da classificação contabilística da capitalização: carregando
sobre a despesa pública sem agravar o défice, ou dividindo pelas duas
parcelas/rúbricas.
Indiferente
à reestruturação exigida pela CE para que a CGD regresse à apresentação de
lucros em vez de prejuízos como o fez nos últimos anos, o Ministro das Finanças
aprova o crescimento do Conselho de Administração de 14 para 19 elementos
(disparando 70% os custos daquele órgão), em sentido contrário à aceleração da
redução de custos da empresa, tendo ainda o governo aprovado o decreto-lei que
altera o estatuto do gestor público, para que os novos administradores da CGD
possam ganhar mais do que o primeiro-ministro.
Não admira,
pois, que a corretora Moody’s desconfie das intenções de um governo pouco
credível em matéria de finanças públicas e ameace cortar o rating da CGD devido às incertezas que sente e adivinha, mais ainda
quando o mesmo banco ainda não devolveu ao Estado a quem agora volta a pedir
apoio, os 900M€ de capital emprestado em 2013, cujo prazo termina em 2017.
A
desconfiança da Moody’s sobre a gestão financeira saudável da CGD (desembocando
em notações de risco) não parece condenável à luz do historial daquele banco
público, nem do branqueamento dos erros (ou propósitos) de gestão pelo governo
do PS e forças partidárias apoiantes, se atendermos a que: a) Em 2010 a CGD
aprovou um crédito de 11,5M€ à Fundação Social do Quadro Bancário (FSQB), a
qual não existia por ter sido declarada nula pela justiça um ano antes.
Recuperação? Responsabilização pela decisão? Desconhecidos … b) A CGD não dá
lucros desde 2010 e, em cinco anos, acumulou perdas de cerca de 2000M€, sendo
que, só em imparidades para crédito malparado, imóveis e cotadas, queimou cerca
de 8500M€; c) o banco foi instrumentalizado por vários governos em negócios
especulativos imobiliários e financeiros, tendo gerado nos últimos 10 anos um
buraco maior do que o do BES e do BANIF juntos: Herdade da Comporta (do GES,
com dívida superior a 100M€); empréstimos a Berardo para controle do BCP, ONGOING, Portugal Telecom, …
Só a
injeção de capital público que cubra os prejuízos causados por negócios de particulares
parece poder sossegar a Moody’s, mas isso não parece perturbar nem o BE nem o
PCP, já para não falar no PS. Os mesmos indignados sobre os casos BPN, BES e, o
mais recente BANIF, sobre o qual a CE garante que a precipitação da decisão é
da responsabilidade do atual governo das esquerdas.
Recusando
um inquérito parlamentar à CGD, as forças da esquerda legitimam o assalto aos
bancos desde que sejam públicos, ainda que os danos (aos contribuintes) tenham
resultado da gestão subordinada ao compadrio político (contra o que se
revoltaram nos bancos privados). O banco é público e o que é público é para
delapidar, sem necessidade de responsabilizar quem o faz. Por isso, a banca
deve ser gerida toda ela pelo Estado, porque nas mãos dos privados é um perigo
para os cofres do mesmo Estado.
Ficamos
sem palavras e, pior ainda, sem dinheiro para tanta falta de pudor que estamos
a suportar.
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