Continua, em crescendo, a pressão sobre o líder do PSD para que altere o seu discurso, na oposição, com vista a inverter as continuadas perdas de posição nas sondagens eleitorais e a deslocação das preferências de voto para os partidos do governo, nomeadamente para o PS e BE.
Interna
e externamente ao PSD, adversários e analistas elencam os riscos de Passos
Coelho repetir resultados eleitorais semelhantes aos de Manuela Ferreira Leite,
em 2009, quando tomou a mesma opção e proporcionou a segunda maioria a
Sócrates, ao seguir a estratégia de apresentar ao eleitorado a imagem real da
situação do país e os cenários negros que podem vir a traduzir as consequências
económicas e financeiras negativas de uma governação socialista rendida à
chantagem da esquerda radical.
O
governo e os partidos da esquerda que o apoiam, desafiam o PSD a apresentar
propostas concretas para o próximo Orçamento de Estado, em vez de esperar
apenas pelo vaticinado afundamento da economia e das finanças do país e em consequência,
por um provável novo resgate financeiro, que determinaria nova dose de
austeridade, reforçada, a aplicar pela governação das forças agora na oposição.
Mas, Passos Coelho repete a todos o aviso de que não vai mudar de discurso,
nomeadamente nos alertas sobre os riscos das opções da atual governação, ainda
que se tenha escusado, até agora, a apostar decididamente em recordar ao
eleitorado as suas opções alternativas de governação e que constituem o ativo
de esperança que lhe permitiria, distintivamente, valorizar a sua capacidade de
evitar hoje os problemas do país que poderá vir a ter que resolver no futuro.
A
recusa de substituição do discurso realista assenta assim na desvalorização das
possíveis consequências do mesmo nos resultados eleitorais, caso o mesmo venha
a revelar-se suficientemente preocupante e assustador aos olhos do eleitorado,
que poderá não estar disponível para o aceitar, em alternativa ao otimismo
exagerado, mas, tranquilizador do governo. Passos Coelho diz que salvar o país
é mais importante que os resultados eleitorais, mas, a preocupação de muitos,
conscientes da elevada probabilidade de concretização dos cenários previstos no
discurso realista é a de que, sem ganhar eleições (agora necessariamente com
uma maioria bem expressiva), não há forças políticas nem protagonistas que
tenham oportunidade de salvar o país. Manuela Ferreira Leite que o diga.
O
discurso realista, enquanto veículo de protesto da verdade, é sem dúvida
necessário e justificado na responsabilização do eleitorado pelas opções que
faz (ou de que se abstém) nas urnas, mas deve contar-se com as inúmeras vezes,
tornando-se facilmente em regra, em que somos derrotados a combater o erro e a
demagogia diante do eleitorado. Também não deixa de fazer sentido que o
discurso realista, coerente, repetida e prolongadamente assumido sirva o
propósito de afirmar uma verdade que, sabemos, conquista lentamente e não de
rompante, mas, há contar com a surpreendente vitalidade da demagogia, do
populismo e da ilusão, que o eleitorado alimenta, por preguiça, interesse ou
anomia social e política.
Compreender
o sentir da maioria do eleitorado, ou seja, das pessoas comuns, com vista a
adaptar o discurso, não àquilo que querem ouvir, mas àquilo que estão preparados
para ouvir, à data, tornar-se-á crucial para vencer as próximas eleições
legislativas, independentemente de quando as mesmas ocorram. Alertar para os
riscos que estamos a correr, continua a justificar-se, mas, sem um complemento
de propostas construtivas com vista a evitar esses riscos e a vencer com
mobilização e empenho os desafios daí decorrentes, constitui em si mesmo um
risco não menos elevado de assustar o eleitorado com o anúncio da catástrofe.
E, isso não salvará o país, porque entregará a continuidade da governação aos
menos capazes, mas mais convincentes.
Os
partidos políticos existem para conquistar e exercer o poder, como referiam as
leis de Duverger. Não há exercício sem conquista. Não se salva o país na
oposição. O PS é exímio na aplicação interna dessa lei da sociologia política,
o BE e até o PCP, também já perceberam que, para mudar alguma coisa, terão que
participar no sistema ou aceitar o mesmo, ainda que a contragosto.
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