2006-03-15

MUDAM-SE OS TEMPOS... E AS REACÇÕES

Algo de estranho se passa nas nossas "pequenas" comunidades do início do século XXI relativamente à década passada, afectando comportamentos e atitudes dos seus actores e agentes, sendo por estes transformadas e alteradas substancialmente na regulação do seu funcionamento pois, onde antes era possível observar a possibilidade e a avidez de discussão de ideias, encontramos hoje indiferença generalizada ou, quando muito, resistências à discussão, arrumando-a o mais rapidamente possível.
Onde antes era possível discutir ideias, discutem-se hoje coisas, banalidades. Onde antes era possível discutir ideias e coisas, discutem-se hoje pessoas, fazem-se ataques pessoais, sem qualquer respeito, responde-se ofensivamente ao mensageiro que não faz parte do nosso grupo de interesse, com o objectivo de fazer esquecer o assunto que esteja no cerne da mensagem.
Não acredito que a idade amoleça, mas acredito que a mesma acarreta o conservadorismo relativamente ao que se conquistou ao longo da vida. Da mesma forma, acredito que mesmo as pequenas comunidades do interior português são hoje marcadas por um maior grau de individualismo e menor solidariedade colectiva, em resultado das ameaças que cada um dos actores sente pairar sobre as circunstâncias que o rodeiam e que procurará evitar que o afectem a ele, tal como já afectam outros à sua volta.
A participação em grupos é mais diversificada mas também mais selectiva e menos livre, sendo maior o número de clubes a que se pertence, do que de grupos propriamente ditos. Em qualquer deles, o seguidismo face à inquestionável doutrina aceite aquando da admissão, é cada vez mais evidente, trocando-se a demissão da participação por protecção na defesa conjunta dos direitos adquiridos e de interesses materiais, que ameaçam esvaír-se.
Estamos perante um aumento generalizado da ansiedade, que leva não só a uma posição mais frequente de auto-defesa, de alerta aos sinais, como mesmo de aumento da agressividade para aqueles que questionem as nossas posições ou que julguemos que o possam vir a fazer.
Sinais dos tempos, com os quais há que contar, justificando a personalização de algumas investidas que noutros tempos não seriam compreensíveis nem justificáveis e que mesmo hoje não têm necessariamente que ser expectáveis.

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