2008-08-02

TGV - SIM OU NÃO NESTE MOMENTO?

Ao contrário de muita da intoxicação mediática em torno do tema "obras públicas" que temos vindo a observar nos últimos tempos, a que não serão indiferentes os interesse de empresas de contrução de grandes obras públicas agora presididas por ex-ministros do ramo e ainda homens fortes do PS, convém distinguir desde logo 2 tipos de investimentos públicos que estão em causa: os fundamentais e os acessórios.

Nunca o PSD pôs em causa a importância da construção do novo aeroporto de Lisboa, mas sim a sua localização, logo com Marques Mendes, que conseguiu a inegável proeza de ter feito o Governo recuar numa localização que não tinha fundamentos maiores do que a que agora parece acordada.

Quanto ao TGV, a coisa afigura-se bem diferente.

A análise custos-benefícios do TGV, especialmente no que concerne ao troço Lisboa-Porto (para poupar meia hora de viagem), não está suficientemente consolidada, para além de que cada vez mais se avolumam as duvidas sobre a determinação espanhola em construir a rede Madrid-Lisboa neste momento.

Interessante é verificar como a linha Madrid-Barcelona só agora começou a funcionar, muitos anos depois da linha Madrid-Sevilha (a 4ª maior cidade espanhola), daí devendo ser tirados alguns ensinamentos para os planeadores da rede de alta velocidade portuguesa.

Sobre o carácter reprodutivo do investimento em grandes obras públicas, não podem os portugueses coinfiar em alguém que, como Mário Lino, não tem o mínimo de credibilidade nesta matéria que há muito se mantém no governo apenas para enriquecimento do anedotório nacional.

Mas também se poderia recordar a tradição dos Governos socialistas em fugir para a frente em vez de resolverem os problemas estruturais do país. De fogachos de rosa murcha, estão os portugueses fartos e a pagarem bem caro hoje.

Basta recordar a construção dos 10 estadios do Euro 2004, quando 6 chegavam, e sobravam. José Sócrates era ministro do governo Guterres e nunca se lhe ouviu uma palavra contra.

Porquê confiar agora?

Circula pela Web um mail com o seguinte teor, sobre esta matéria, intitulado: A QUEM VAI SERVIR O TGV ... ?

  1. AOS FABRICANTES DE MATERIAL FERROVIÁRIO,
  2. ÀS CONSTRUTORAS DE OBRAS PÚBLICAS E ...CLARO,
  3. AOS BANCOS QUE VÃO FINANCIAR A OBRA ...

OS PORTUGUESES FICARÃO - UMA VEZ MAIS - ENDIVIDADOS DURANTE DÉCADAS POR CAUSA DE MAIS UMA OBRA MEGALÓMANA ! ! !

Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio.

Comprado o bilhete, dá consigo num comboio que só se diferencia dos nossos 'Alfa' por não ser tão luxuoso e ter menos serviços de apoioaos passageiros.

A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder devista, demorou cerca de cinco horas.

Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos,emblemáticos pelos superavites orçamentais,seriam mesmo uns tontos.

Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantesrecursos resultantes da substantiva criação de riqueza.

A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.

Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.

O TGV é um transporte adequado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.

É por isso que, para além da já referida pressão de certos grupos quefornecem essas tecnologias, só existe TGV em França ou Espanha(com pequenas extensões a países vizinhos).

É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.

Tirar 20 ou 30 minutos ao 'Alfa' Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País.

Para além de que, dado ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.

Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se:

  • 1000 (mil) Escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma);
  • mais 1.000 (mil) creches(a 1 milhão de euros cada uma);
  • mais 1.000 (mil) centros de dia para os nossos idosos(a 1milhão de euros cada um).
  • E ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de eurospara aplicar em muitas outras carênciascomo, por exemplo,na urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.

Cabe ao Governo reflectir.

Cabe à Oposição contrapor.

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