Dificilmente poderia imaginar que os chavões dos economistas e sociólogos conceptores defensores das teorias da dependências (do desenvolvimento) durante as décadas de 1970 e 1980, pudessem ainda vir a fazer sentido num país que, no século XXI, gasta diariamente milhões de € em nome de uma modernidade atrasada porque ambientalmente irresponsável e insustentável.
Espanha tem muito do seu território urbano do litoral perfeitamente ordenado e infra-estruturado para um turismo de qualidade, a par de outro tanto que não o está, fruto da ganância do turismo de massas, como Benidorm, Torremolinos e outros destinos deste tipo, objecto de construção desenfreada.
Preocupados com o desordenamento existente e a necessidade de reposicionar a oferta espanhola em segmentos de mercado que permitam enriquecer o valor económico da cadeia turística, o Ministério do Ambiente espanhol (se não for esta a designação correcta, não andará muito longe), está disposto a derrubar parte substancial da construção realizada nas últimas décadas, com vista ao reordenamento urbano do litoral espanhol, o que abrange cidades como Benidorm.
Ora, perante esta tomada de consciência de Espanha, um dos mais importantes destinos turísticos no mundo, sobre as tendências da procura e da oferta mundial de turismo, o que aprendeu o nosso Primeiro-Ministro nas cimeiras com o seu congénere espanhol? Que deve secundar cegamente todos os erros dos espanhóis (com as décadas de atraso a que nos habituou em tempos relativamente aos modelos franceses, uma esquerda supostamente intelectual), carregando PIN's (Projectos de Interesse Nacional) para o Algarve e Alentejo.
Para o Algarve, apresentou 10 novos empreendimentos turísticos de luxo, os quais, segundo o mesmo, estiveram 10 anos presos na burocracia estatal, certamente por restrições ambientais sérias e tecnicamente fundamentadas, aplicadas por ele próprio enquanto Ministro do Ambiente do último Governo socialista. Mas agora, por magia de um suposto interesse nacional, as restrições ambientais já não contam e os projectos podem ser viabilizados.
A hipocrisia e a irresponsabilidade da argumentação vai ainda mais longe: a do seu contributo para um Algarve que se pretende destino turístico de luxo, quando o que seria necessário fazer para tal contributo efectivo, seria sim, pelo contrário, a requalificação urbanística da região com o consequente demolição de boa parte da construção ali existente.
O litoral alentejano, por seu turno, por via dos mesmos PIN, deixará em breve de constituir a última faixa preservada da orla costeira portuguesa, vendo significativas manchas de terreno reclassificadas para a construção turística, quando antes estavam classificadas em REN.
Será este o caminho de um desenvolvimento sustentável, ou a sustentabilidade ambiental também foi parar à gaveta?
Sem comentários:
Enviar um comentário