Os autarcas que aproveitam a véspera das eleições para abrir ruas, construir rotundas e melhorar escolas são recompensados pelo seu oportunismo.
Esta é a principal conclusão de um estudo de uma equipa de investigadores da Universidade do Minho (em colaboração com um economista da Universidade de Cambridge) que analisou a relação entre a economia e a política nos municípios portugueses (entre 1979 e 2001).
O estudo foi apresentado hoje durante um seminário organizado pelo Instituto de Estudos Eleitorais da Universidade Lusófona do Porto, dirigido por Paulo Morais (ex-vice-presidente da Câmara do Porto).
Francisco José Veiga a sua mulher, Linda, juntaram-se a um académico de Cambridge e coligiram os resultados eleitorais das autárquicas e cruzaram-nos com os indicadores económicos dos municípios. O objectivo foi tentar derivar a relação de dois sentidos entre a margem de vitória dos políticos no poder e a dimensão da distorção eleitoralista da política orçamental em 275 municípios.
E os resultados comprovaram o que estes cientistas sociais já esperavam. Os autarcas oportunistas são recompensados pelo aumento das despesas de investimento feito nos meses que precedem as eleições. Mas o estudo revelou outros dados interessantes: que são os autarcas que prevêm uma eleição mais renhida aqueles que mais distorção eleitoralista provocam no orçamento da sua Câmara.
Aqueles que estão confortavelmente instalados no poder são mais relaxados nesta azáfama de inaugurações e obras.
Os investigadores também repararam que são os autarcas mais oportunistas são os eleitos por partidos à esquerda do espectro político. "Não consegui encontrar numa explicação científica para este dado. Se alguém me quiser ajudar a compreendê-lo, agradeço", afirmou Francisco José Veiga durante a sessão em que falou das relações entre economia e política nas autarquias.
"O oportunismo compensa", concluía o investigador da Universidade do Minho, que já antes tinha analisado o comportamento do eleitorado português nas autárquicas. A equipa que integrou, e que foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, também reparou que esta tendência de os autarcas gastarem o que têm, e por vezes o que não têm, na véspera das eleições se acentuou ao longo do período analisado (1979 - 2001).
Assim, como também se verifica que o Governo central tende a aumentar as transferências orçamentais nas vésperas de eleições (legislativas ou autárquicas), ajudando assim a amplificar o efeito de distorção do investimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário