A propósito das eleições internas do PSD no próximo dia 28, leia-se a opinião de José António Saraiva, cuja análise termina de forma certeira:
E quais são os trunfos de Marques Mendes?
Basicamente, a credibilidade, a seriedade e a estabilidade.
Fora e dentro da máquina do Estado, Mendes já provou que é um político em quem se pode confiar e que é um homem sério.
E não há dúvida de que a estabilidade é um valor em si própria: um partido que ande sempre a mudar de líder não suscita a confiança de ninguém.Mendes tem um último trunfo a seu favor: está ainda fresca na memória a instabilidade vivida no PSD com Santana Lopes, e muitos militantes temerão que com Menezes esses tempos regressem.
Dito isto, pergunta-se: qual é a principal crítica que se faz a Marques Mendes?
Luís Filipe Menezes acusa-o de não fazer uma oposição agressiva.
Mas terá isso, neste momento, alguma importância?
Sócrates ainda está de pedra e cal no Governo, e tem o apoio de parte da direita (que aposta nele para fazer certas reformas que o PSD e o CDS não conseguiram levar a cabo).
Além disso, a situação difícil do país leva as pessoas a não estarem muitos disponíveis para quem só critica. A não terem paciência para quem constantemente protesta. Atacar o Governo nesta fase acaba, assim, por desgastar mais o líder da oposição do que o primeiro-ministro. Tem sido esse, aliás, um dos problemas de Marques Mendes.
As críticas de Menezes não fazem pois qualquer sentido.
A este respeito, é interessante observar um facto que nunca foi referido: os dois únicos líderes partidários que até hoje alcançaram maiorias absolutas sem coligações – Cavaco Silva e José Sócrates – nunca fizeram oposição. O primeiro subiu à liderança do PSD, rompeu a coligação com o PS e disputou eleições logo a seguir, sem ter tempo para estar na oposição. Conquistou primeiro uma maioria relativa e, um ano e meio depois, a maioria absoluta. O segundo, pouco depois de ser eleito líder do PS, foi surpreendido pela dissolução do Parlamento e pela consequente queda do Governo de Santana Lopes.
Nem Cavaco nem Sócrates se projectaram, portanto, através das críticas ao Executivo anterior. Bastaria isto para provar que não é por berrar muito que se chega ao poder.
O problema de Marques Mendes não é pois este – é outro. É não ter conseguido, até hoje, garantir a unidade do partido. Há sempre alguém (começando pelo próprio Menezes) a protestar, a discordar, a fazer declarações dissonantes.
Por outro lado, ainda não foi capaz de formar uma equipa forte, com nomes de peso, capaz de dar corpo às propostas do partido e de constituir uma espécie de ‘guarda de honra’ do líder. Mendes surge muitas vezes sozinho, parece não ter o apoio activo das grandes figuras do partido, e isso fragiliza-o.
Quando à frente do PSD estiver um líder que projecte uma imagem de serenidade, que não mostre ansiedade em regressar ao poder, que surja em público bem apoiado por um conjunto de pessoas com prestígio na sociedade e se mostre mais preocupado em fazer propostas construtivas do que em atacar o Governo, os portugueses acreditarão.
E é esta a questão fulcral: a confiança dos portugueses. Porque para o líder de qualquer partido não basta ser popular entre os militantes – é necessário ser respeitado pelo país. É importante, para um líder partidário, que os militantes do partido gostem dele. Mas muito mais importante é que os portugueses confiem nele – porque doutra forma não terá hipóteses de atingir o objectivo que verdadeiramente interessa: chegar a primeiro-ministro e ter êxito na função.
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