Cavaco Silva promete continuar vigilante e ser exigente com o Governo, imagina-se que seja quanto ao desempenho e quanto à verdade do discurso. Óptimo, é mesmo isso que os portugueses esperam e o que desejam como atitude do próximo Presidente da República, em relação a qualquer Governo, indiferente à cor política do mesmo. Ao assumi-lo, Cavaco Silva confirma o elevado sentido de responsabilidade e espírito de serviço público que se lhe conhecem.
Para o bem e para o mal, Cavaco cumpre sempre o que promete nas suas campanhas eleitorais, indiferente aos que esperavam mudanças não anunciadas. Não há margem para enganos e ilusões. Claro e objectivo, para que conste.
Dos outros candidatos, nada se ouve sobre a função e o exercício do cargo, que vá para além dos ataques pessoais, do discurso cerrado em torno de cada passo e cada palavra de Cavaco. Uma total ausência de ideias, de propostas, mas também de decoro e vergonha em bastantes situações, têm marcado uma campanha que só descredibiliza alguns dos seus actores principais.
Nem merece palavras aquela palhaçada do rally pelos buracos mais escondidos de uma ilha, que o nosso generoso sistema político financia ainda assim com dinheiro dos contribuintes portugueses. Os mesmos incómodos aos contribuintes geram outros candidatos que se acantonam no seu concelho como se de uma eleição autárquica se tratasse, visitando creches, jardins-de-infância, lares de idosos e centros de dia, explorando indecorosamente imagens de meninos e velhos para fins eleitorais, incluindo jovens deficientes.
O mais surpreendente tem vindo, no entanto, do candidato oficialmente apoiado pelo PS, a quem nenhuma ideia se tem ouvido sobre coisa nenhuma, quando tanto havia para referir sobre o estado a que a governação recente conduziu o país, seja na educação, no desemprego, nas falências das empresas, na fuga do investimento directo estrangeiro, na dívida pública, no desperdício do Estado, no buraco do Serviço Nacional de Saúde, no encerramento dos centros de saúde, e por aí fora.
Em vez disso, entretém-se aquele candidato na deriva diária sem sentido definido, a não ser o do ataque pessoal a Cavaco Silva: o episódio do presidente Checo, o Estado social que acusa Cavaco de debelar, as escutas que trouxeram a tensão com o Governo, o BPN e as explicações em falta, a entrada do FMI que Cavaco deve travar, até à forçada instabilidade política que jura ter adivinhado.
Algumas dessas tiradas revelaram-se mesmo inesperadas e incompreensíveis, como a da ideia peregrina de aconselhar Cavaco a suspender a campanha para que possa ajudar Portugal. Por um lado, parece reconhecer que o Governo se revela incapaz de cumprir com sucesso a sua missão e que a entrada do FMI no país estará mesmo iminente. Por outro lado, a proposta do candidato da pouco santa aliança PS/BE acaba também por assumir que Cavaco Silva pode efectivamente ajudar o país nos moldes em que o próprio o tem vindo a anunciar aos portugueses durante a campanha, confirmando assim a autenticidade e eficácia da mesma.
Cavaco Silva ganhará assim à primeira volta estas eleições tal como aconteceu antes, pelo facto de fazer uma campanha positiva, dizendo ao que vem e o que se pode esperar dele, sem ataques aos seus adversários, e sem atropelos a ninguém, incluindo ao trabalho que o Governo deveria estar a fazer para tentar evitar que o fundo de estabilização europeu seja accionado ou que a vinda do FMI seja necessária.
Quem sabe, sabe, mas nem os repetentes aprendem.
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