2008-09-17

TRABALHAR MUITO E PRODUZIR POUCO EM PORTUGAL

Um treinador que recentemente (re)passou pelo Benfica, sempre que falava aos órgãos de comunicação social sobre o futuro e as metas da equipa que orientava, repetia sistematica e invariavelmente em cada intervenção, alguns termos e pequenas expressões:

«... pues, hay que trabajar, trabajar, trabajar, seguir trabajando ...»

A verdade é que com Camacho a equipa trabalhava e trabalhava e não obtinha os resultados desejados, nem alcançava os níveis correspondentes ao tempo de trabalho e esforço dispendido.

O futebol é um desporto de massas, onde a racionalidade conta muito menos que a emoção resultante do sentimento de pertença (clubismo) necessário à diferenciação social que eleva a auto-estima dos que fazem parte de certos grupos e têm como adversários outros grupos sempre considerados inferiores.

Por isso as opiniões dos adeptos benfiquistas se dividiam, na explicação da ineficácia de Camacho, entre a incapacidade deste em mobilizar as competências que os jogadores detinham individualmente enquanto membros de um colectivo e a verificação de algumas lacunas (de jogadores com apetências específicas para certas funções na equipa) de competências que necessitariam ser supridas pelo clube através da aquisição de mais (ou de outros) jogadores.

Portugal parece estar, em termos de produtividade do factor trabalho que sistematicamente é reportado pela OCDE, perante um dilema parecido ao do Benfica na era Camacho: o problema está nos fracos níveis de qualificação da população activa (objectivamente comprovados) ou na (não)mobilização adequada das competências existentes, incluindo o seu desperdício?

Os estudos mais recentes parecem confirmar que em Portugal se trabalha muito mas se produz pouco, isto é, marca-se o "ponto" muito cedo e depois passa-se uma boa parte do dia a "fazer figura de corpo presente".

O mal estará, por um lado, na atitude pouco responsável que tal desempenho encerra por parte daqueles que o corporizam mas também, por outro lado, na ausência de preocupação por parte dos responsáveis e dirigentes pelo facto de que os seus colaboradores assim procedam.

No fundo, muitos destes se revelam eles próprios incapazes de mobilizar as competências dos que com eles trabalham, ou porque também foram laxistas enquanto estiveram por baixo e perdem a legitimidade para exercer autoridade quando são chefias, ou porque se enredam em teias de conivência para com as prevaricações, ou porque consideram que não levantar ondas será a solução mais adequadas a quem está de passagem e poderá no futuro vir a exigir e cobrar igual atitude de outros para com o seu (não)desempenho.

É claro que esta descrição corresponde a uma imagem ou representação minha e não a um quadro fotograficamente registado, mas, a pintura não deixará de ser reconhecida por todos em alguma parte desta combinação de causas.

Certo certo é que, à semelhança do Benfica e de outros futebóis, parece evidente a necessidade de mudar um treinador e responsáveis técnicos que não são respeitados, mas também não deixará de ser verdade que não fazendo sentido mudar a equipa, há que levar os seus membros a reflectirem sobre a sua responsabilidade individual no desempenho colectivo, porque os milagres raramente (ou nunca para alguns) acontecem.

1 comentário:

Elvascidade disse...

É JÁ AMANHÃ . . .

www.cidadelvas.blogspot.com