2007-04-16

A FALTA DE PUDOR NÃO TEM LIMITES

Diário Digital «Todos esses relatórios, obviamente, fazem parte e são referidos no relatório da Inspecção-Geral do Ensino Superior, têm de se confrontar com outros, mas nunca o CNAVES ou a Inspecção propuseram ao Governo o fecho ou o encerramento da Universidade», disse o ministro. Mariano Gago pediu a compreensão dos jornalistas por não responder a questões sobre a UNI, considerando que «este não é o momento certo», assegurando que, caso contrário, não se coibiria de exprimir a sua opinião. «Neste momento é minha estrita obrigação não intervir nesta matéria sobre a qual tenho de tomar decisões», justificou. «É a própria Universidade que tem de responder às questões colocadas e há inspectores no terreno. Eu devo facilitar a vida dos inspectores e não dificultá-la». Segundo a Rádio Renascença, desde 2000 que relatórios elaborados pelo CNAVES apontavam deficiências no funcionamento de licenciaturas como Engenharia Civil, Engenharia Electrotécnica e Administração Regional Autárquica. No caso de Engenharia Civil, entre as deficiências apontadas estavam a ausência de um corpo docente com efectiva presença na Universidade, disciplinas de admissão inadequadas e falta de controlo nas transferências de alunos.»
Só num país do faz de conta se aceita que um Ministro que tutela a mesma pasta que já antes tutelou, não assuma responsabilidades pelos erros que cometeu antes quando tomou conhecimento em devido tempo das deficiências de funcionamento do sistema e permitiu ainda assim a sua continuidade, com agravamento.
A hipocrisia com que veio defender os interesses dos alunos da UNI e encontrar uma solução que seria impensável (à laia dos seus colegas ex-ministros de Guterres que lamentam hoje o excessivo endividamento das famílias que nunca travaram enquanto responsáveis pela defesa do consumidor), permitindo uma total bagunça nas transferências de cursos e de universidades daqui em diante, é notável.
Quem chama a isto uma solução para o problema... Vou ali e já volto.
Solução e evitar a desgraça que se vai abater sobre o futuro destes alunos e sobre todo o corpo docente e funcionários daquela universidade agora encerrada, teria sido o estancamento do problema quando este foi detectado e deu indícios de se poder avolumar. A isso se chama coragem política, que o ministro não teve e, um ministro sem coragem política, ... não sei como se designa.
Mas, à boa maneira da enraizada escola guterrista, agora exposta na forma como Sócrates lidou com as dúvidas sobre as suas qualificações, fechar os olhos foi e continua a ser o lema de quem está no poder, não para melhorar o país, mas para melhorar a sua vida e dos seus, para usufruir e conservar o poder, apenas com esse objectivo, custe o custar, mesmo que seja o país a pagar.
Só uma amostra de país permite este estado de coisas e não pede responsabilidades, antes as aceita e acha normal, porque, afinal, há sempre a desculpa sobre a desconfiança generalizada de que todos fazem...
Ter sentido de nacionalidade e sentimento de pertença a uma nação implica muito mais do que usar frases feitas para invocar o estéril, implica uma atitude de exigência quanto à qualidade da prestação politica dos eleitos pela defesa dos interesses do futuro do país. E o seu castigo.
Mas, mostram as últimas semanas que, atitudes e comportamentos (nomeadamente dos titulares de cargos políticos) são, infelizmente em Portugal, cada vez menos coincidentes. Com a permissão dos portugueses e a infelicidade do futuro do nosso país.

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