2007-04-14

ALQUEVA – O ELEFANTE PRECISA MUDAR DE COR

O retardamento que se faz sentir dos supostamente “miraculosos” efeitos das valências de Alqueva (EFMA) para o Alentejo, nomeadamente no que se refere a uma eventual transformação da região da noite para o dia, vêm dar algum crédito à oportunidade de reflexão sobre as reservas da probabilidade de que uma das regiões mais pobres da Europa, com deficientes estruturas, poucos trabalhadores e quadros qualificados, sem atractivos ambientais e turísticos diferenciadores (com excepção do lago criado pela albufeira da barragem, mas mesmo esse ameaçado pela contaminação dos esgotos da região, crescentemente denunciada pelos ambientalistas), se transfigure em área de turismo de alta qualidade, no curto prazo.
Um novo destino turístico que se pretenda posicionar nos mercados nacional, ibérico, europeu e mundial, partindo e surgindo do nada, levará anos a lançar e décadas a posicionar nos mercados, segundo muitos especialistas do sector. Mas, para além disso, toda a área de influência do Alqueva (concelhos de influência do EFMA), é uma área rural, um território de baixa densidade em várias dimensões e critérios, onde o investimento de raiz e cariz local é e foi quase nulo ao longo de várias décadas, (criação de empresas, de negócios e emprego), apesar dos instrumentos e apoio existentes (vejam-se os fracos resultados dos instrumentos de apoio à criação de emprego disponibilizados no âmbito dos vários QCA’s), situação que não se espera venha a mudar substancialmente nos próximos anos deste novo QREN, apesar do EFMA, pois tal não aconteceu igualmente nos últimos anos e décadas.
Para que alguns ganhos sejam conseguidos, urge uma correcta identificação do tipo de incentivos ou acções de base local necessários para que a região desenvolva e fertilize a emergência de iniciativas empresariais de pequena dimensão, negócios de natureza familiar, com vista ao fornecimento e complementaridade dos grandes investimentos e projectos turísticos previstos para o regolfo do Alqueva.
Ao nível da geração de emprego e sua relação com a disponibilidade de recursos humanos locais, será importante determinar de que forma a região pode beneficiar de alguma complementaridade e construção de capacidade de abastecimento local, de forma activa, agressiva e antecipada na oferta.

Mas também será importante desenvolver estratégias locais de adaptabilidade a um conjunto de iniciativas empresariais externas que possam servir ao escoamento e ocupação profissional de uma parte do maioritário perfil de RH que não será certamente absorvido pelos modernos e exigentes empreendimentos turísticos a construir, dada a sua natureza de marcado e adiantado envelhecimento demográfico, com elevado atraso e desfasamento no que se refere às qualificações profissionais e às habilitações escolares.

Uma outra questão determinante será a de conceber estratégias públicas e privadas de contorno à mais que constatada dificuldade de o Alentejo encontrar capacidade de resposta para preencher os milhares de postos de trabalho que se prevê sejam criados em resultado dos investimentos turísticos previstos para a área do EFMA. Em Junho de 2006, a APEA (Agência de Promoção Externa do Alentejo) estimava que nos próximos 10 anos, o turismo alentejano virá a precisar de, pelo menos, o dobro da mdo que neste momento trabalha no sector (cerca de 11.000 trabalhadores), dos quais apenas 20% têm formação profissional adequada. É certo que existe uma fileira de actividades com potencial de exploração regional em associação ao EFMA e que são as indústrias de energia renovável (nomeadamente solar), com os investimentos realizados em Serpa e previstos para Moura, gerando sinergias com os empreendimentos previstos, que beneficiarão da imagem de um destino saudável, ecológico, amigo do ambiente e sustentável.

Também é certo serem elevadas as expectativas quanto aos impactes do um conjunto de empreendimentos turísticos de grande porte, enquanto catalizadores da descolagem da economia regional alentejana. Mas, não deixará de ser conveniente recordar e ter-se em consideração que, o turismo sustentável deverá ser sempre uma prioridade para a oferta a construir, enquanto motor de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para a região. Uma estratégia de turismo sustentável deverá obrigatoriamente ter em linha de conta a necessidade de promoção das actividades tradicionais e de cariz local, que permitam valorizar a identidade regional e preservar os valores culturais e a sua salvaguarda para as gerações vindouras.

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