O apelo do Presidente da Câmara de Évora à votação no Templo Romano de Évora como uma das supostas maravilhas nacionais é curioso, pelo facto de fazer referência, no final do texto, à celebração do 20º aniversário da classificação como Património da Humanidade, pela UNESCO.
O pitoresco do texto é precisamente esses facto: que quase não tenham existido durante o ano que passou (2006), iniciativas da Câmara Municipal a valorizarem esse evento, tendo perdido oportunidade da sua ampliação.
É indiscutível que sem o estatuto de património da humanidade da UNESCO, Évora seria hoje uma cidade bem pior do que aquela que hoje temos, pelos efeitos que foram induzidos sobre o turismo (hotelaria, restauração, comércio e transportes), com benefícios na dinâmica económica e empresarial local, fundamental numa cidade do interior do país sem qualquer vocação económica competitiva (agrícola, industrial ou comercial), que cresceu e ainda hoje se mantém demasiado dependente dos serviços desconcentrados da Administração Pública.
Mas, a verdade é que o estatuto de “Cidade Museu” alcançado em 1986, quando o “cluster” do turismo (urbano e cultural) ainda era incipiente em Portugal, deveria ter permitido um efeito de alavancagem de Évora na dianteira entre as cidades portuguesas, que tal oportunidade procuraram e vieram a secundar.
No entanto, 20 anos depois, constatmos sim que várias outras cidades, partindo de condições menos vantajosas, ultrapassaram Évora, imprimindo maior dinâmica à condição (mundial) que lhe foi reconhecida e daí tirando maiores dividendos:
- Não adormeceram à sombra de um estatuto passivo de “cidade-museu”;
- Não se limitaram a garantir aquilo a que a UNESCO obrigou: aceitáveis níveis de conservação e recuperação dos seus monumentos classificados;
- Aproveitaram o estatuto da UNESCO enquanto vantagem para aumentar a atracção e a fixação turística, através de iniciativa própria que falta em Évora: condições de acolhimento, informação e sinalização turística, animação urbana e cultural;
Continua assim por preencher uma condição essencial para que Évora possa efectivamente fertilizar um estatuto que lhe foi atribuído: a implicação dos eborenses em geral e dos seus agentes económicos em particular, de forma a ampliarem tal estatuto pela sua acção quotidiana motivadora.
Tal não aconteceu em 1986 nem foi conseguido em 20 anos, deixando aos eborenses apenas um legado, que herdaram, sem mais.
E, convenhamos, não bastará à CME apelar à mobilização dos eborenses à votação no virtual "big brother dos monumentos", para esconder a sua incapacidade quotidiana de concretização real.
Sem comentários:
Enviar um comentário