O recente caso da Universidade Independente é extraordinário na revelação de como os portugueses estão dispostos a, pacificamente, ver afundar o seu país e o seu futuro, às mãos da corrupção e do "salve-se quem puder", mesmo que não sejam todos, mas apenas os supostamente mais "espertos", por iludirem os outros, em benefício próprio.
Como se não tivesse já acontecido antes no caso Universidade Moderna, alguma utilização das entidades sem fins lucrativos como as cooperativas de ensino, neste caso, em alguns casos parece que apenas serviram para ludibriar alunos e suas famílias, bem como o Estado, à conta dos nossos impostos (pelo que não pagaram).
Isso mesmo reconhecia o ex-Vice-Reitor demitido da UI perante as câmeras da SIC-Notícias ao admitir que, não sendo uma entidade com fins lucrativos (e não podendo distribuir lucros pelos seus associados, neste caso cooperantes), não via como invulgar ou reprovável que a mesma entidade tivesse, dos excedentes financeiros amealhados, proporcionado algum conforto ao senhor reitor (com uma piscina) e ao seu filho (com uma vivenda, sem especificar se, neste caso, incluía piscina ou não).
Como reagiram os portugueses em geral? Mais uns a roubarem: o nosso fado diário. Já é vulgar, cada vez mais normal e aceitável.
Neste país, infelizmente, parece começar a desenhar-se a tendência de que, socialmente desviante é aquele que, estando dentro da norma, se desvia por essa normalidade do comportamento geral que foge à norma e que, apesar de cumprir as suas obrigações fiscais, as suas obrigações para com o Estado e com o sistema fiscal ou mesmo judicial, está efectivamente cada vez mais fora da norma (sentindo que aumenta a cada dia a probabilidade de vir a fazer parte dos 5% de margem de erro dos testes estatísticos, que confirmam a regra geral).
Pior ainda é que, nem a um indulto presidencial se arriscará alguma vez, por este andar, porque é cumpridor.
Mais Évora: Like a virgin
«Fátima Felgueiras considerou que «é normal e habitual que os partidos tenham contas paralelas» para as campanhas eleitorais.
De facto, parece que não só são normais os sacos azuis como também o “loteamento partidário” das autarquias por boys (como refere, hoje, no “Público” Vital Moreira), adjudicar obras a amigos ou ao próprio (como aconteceu com o presidente da junta de freguesia de Arcas, Macedo de Cavaleiros), alterar planos directores municipais em conformidade com os interesses de quem patrocina campanhas políticas (como acontece em muitas autarquias), etc., etc.
Nesse ponto a Fatinha tem razão.
Só os politicamente incompetentes respeitam a lei e querem a transparência nas suas actividades políticas.
Mas esses não são espectaculares nas campanhas, não dão vitórias ao seu partido, nem têm sucesso político. Obviamente, são completamente anormais!
27 Fevereiro, 2007 22:14»
É esta uma sociedade moderna ou uma anarquia em potência?
Aceitamos como normal que quem tem a mão na massa tenha que meter parte ao bolso?
Aceitamos hoje pacificamente que autarcas eleitos democraticamente gozem com toda a nação, exilados em férias no Brasil e recebendo o seu vencimento mensalmente, à custa dos nossos impostos e da degradação do sistema judicial?
Aceitamos pacificamente que autarcas eleitos democraticamente digam em tribunal coisas como as que constam nesta peça, como se fosse inevitável a corrupção dos autarcas pelos vários agentes económicos com interesses nos concelhos, com vista à alimentação das campanhas eleitorais?
Sim, porque os tais sacos azuis, mesmo que alimentados por beneméritos, dificimente se desvincularão de interesses latentes!
Aceitamos pacificamente que autarcas eleitos democraticamente para gerir o futuro dos destinos dos nossos concelhos comprometam este em troca da especulação imobiliária promovida por grupos económicos que alimentam os cofres dos partidos políticos e as suas campanhas eleitorais?
Permitimos aos partidos de poder como o PS que (contrariamente ao PSD de Marques Mendes) tenham sancionado este tipo de modelo de autarca? Foi Jorge Coelho a fazer campanha no local já com fortes suspeitas conhecidas e foi Sócrates a calar-se pelo PS nas últimas eleições?
VALE A PENA SER SÉRIO EM PORTUGAL?
Digam-me, por favor, O QUE RECOMENDO AOS MEUS FILHOS COMO MODELOS?
Que país é este? Moderno? Europeu? Desenvolvido? Tecnologicamente avançado?
Mas, sendo assim, quantos países da África sub-saariana e da América Latina não estaremos a promover à categoria de modernidade?
Será esse o desígnio português para o presente século?
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