O texto da notícia refere ainda que:
«... Itália só alcançará o rendimento per capita da Alemanha em 2014 e que Grécia e Portugal demorarão ainda mais anos a faze-lo».
«Segundo o Deutsche Bank a educação é o factor que mais prosperidade trouxe a Espanha, com mais investimento no ensino secundário e universitário e 37% dos espanhóis entre os 25 e os 34 já com cursos superiores, comparativamente aos 20% mantidos pela Alemanha durante várias décadas.»
«O motor do aumento do rendimento per capita não assenta nos investimentos nem no desenvolvimento demográfico, explica o estudo referindo-se a Espanha, mas sim no capital humano do país.»
Um país com índices de envelhecimento não muito diferentes de Portugal, sem preocupações de recurso à imigração como tábua de salvamento (embora ela exista e seja importante, não é perspectivada como nuclear), concentrou-se no essencial, que é a valorização dos recursos humanos ou, o capital humano, como referem os economistas, que é capital para a produtividade do factor trabalho e para a competitividade da economia.
Tal exige uma planificação estratégica, o mesmo é dizer traçar um rumo de longo prazo e não se desviar dele a não ser por razões de força maior, rumo esse que é aceite enquanto caminho de um desígnio nacional assumido e partilhado entre as principais forças político-partidárias, as quais que se encarregam de garantir a manutenção de um "core" necessário à sua consecução, quando estão no Governo (do país).
Colocar Espanha entre os primeiros e mais influentes países do mundo é um objectivo de há muito estabelecido, que funciona como mobilizador de vontades, esforços e empenho de todos os diversos tipos de agentes, aos mais variados níveis de acção de localização institucional e geográfica, sendo o turismo, a cultura e o futebol apenas alguns dos campos mais visíveis do exterior.
Tenho alguma dificuldade em aceitar uma explicação substancial dos resultados pelo factor autonomia regional, como muitos pretendem logo à primeira vista argumentar, justificando dessa forma aquilo que consideram ser a solução derradeira para o sucesso do modelo de desenvolvimento português.
Por um lado, porque algumas comunidades autonómicas espanholas, como por exemplo a nossa (do Alentejo) vizinha Andaluzia, tem quase a dimensão territorial e populacional de Portugal, pelo que não nasceu assim do nada e totalmente desprovida de recursos de sustentação, como se quer fazer crer que é possível a algumas das mais pobres regiões europeias como o Alentejo. Veja-se como se posiciona a Espanha enquanto destino turístico europeu e mundial e atente-se no facto de os recursos turísticos da Andaluzia permitirem, só a esta região, dispor de uma oferta quase tão ampla e diversificada como um país inteiro seu vizinho, que é Portugal.
Por outro lado, trata-se de reflectir sobre que investimentos temos andado a fazer em capital humano quando, observando as estatísticas da OCDE elas nos indicam que Portugal é um dos países daquele grupo que mais despesas per capita realiza com a educação e formação dos seus recursos humanos mas que a mesma despesa não tem repercussões na produtividade do factor trabalho nem na produtividade total dos factores económicos. Ou seja, o dinheiro gasto esfuma-se sem resultado que se veja, em vez de se multiplicar.
Ora, é sabido que as opções relativas às áreas profissionais de aposta dos operadores do sistema de educação e formação profissional está bastante descentralizada em Portugal, sendo os organismos regionais da administração pública e os estabelecimentos de ensino da rede pública e e outras redes associadas a esta, que definem as suas opções de oferta, as quais, à partida, deveriam ser suficientemente sustentadas por uma forte componente técnica de associação e ancoragem aos sistemas regionais e locais de emprego e respectivos mercados de trabalho.
O mesmo sucede com a autonomia universitária, já que é a este nível que a Espanha parece ter descoberto a chave de alavancagem económica, resultado em boa medida de uma apurada e estudada aposta no capital humano, o que nos deverá levar, relativamente ao panorama nacional, mas desde logo no que ao nível regional diz respeito, a procurar respostas para algumas questões:
- Sendo as Universidades e Institutos Politécnicos portugueses suficientemente autónomos para proporem a abertura (e encerramento) dos cursos que consideram necessários (ou não) na sua envolvência, porque não tem tal produção de recursos o mesmo efeito multiplicador que em Espanha?
- Porque cresce todos os meses o número de desempregados recém-licenciados em Portugal?
- O que justifica ainda hoje, 20 anos depois da criação de uma rede pulverizadora de estabelecimentos de ensino superior pelo interior do país, a sua existência, nos mesmos moldes que lhe deram origem, face às alterações dos territórios de implantação, nomeadamente em termos empresariais e demográficos?
- O que justifica tão ampla diversidade da oferta formativa dos estabelecimentos de ensino superior nos territórios do interior, atingindo com frequência as duas ou três dezenas de cursos em estabelecimentos sitos na capital de pequenos distritos, por oposição a uma especialização distintiva associada às potencialidades de fertilização económica dos ambientes territoriais circundantes?
- Até quando estarão os recursos financeiros nacionais em condições de aguentar a alimentação de uma oferta formativa sobordinada à lógica de um acesso democratizado e igualitário à educação, mais que à racionalidade da repercussão do investimento, enquanto capital que replica noutros tipos de capital do sistema económico?
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