Mais uma Universidade (privada) que, tal como outras anteriores, se encontra a braços com problemas de gestão, os quais, apesar de excepções sem dúvida inegáveis, resultam basicamente da diminuição da população em idade escolar por um lado e, por outro, da irracionalidade e completa irresponsabilidade dos Governos que permitiram a proliferação desregrada de instituições destinadas a cumprir (no longo prazo) um objectivo que se conseguiria em muito menos tempo.
Culpa da falência resultante da qualidade do ensino? Sem dúvida que em alguns casos haverá responsabilidade, mas, na maior parte deles tal não aconteceu, especialmente porque os docentes (com mestrado e doutoramento) eram comuns à falta de quadros próprios, pelo que não será de supor diferentes desempenhos profissionais dos mesmos em função da entidade empregadora, nem a mediocridade geral do sistema de ensino superior público e privado, por analogia.
Quem não se lembra dos famosos estudos prospectivos do Departamento de Prospectiva e Planeamento do Ministério da Educação na década de 1990 quando ainda não existia Ministério com tutela do ensino superior, projectando a população escolar e as necessidades de resposta à mesma, ajustadas às igualmente supostas necessidades de competências, para o horizonte de 2005?
Bastará consultar a bibliografia de muitos trabalhos académicos de então (década de 1990) para constatar a coincidência entre os autores de tais estudos e a sua participação em Governos que tomaram decisões completamente opostas aos estudos que haviam sustentado os seus programas de acção (ao menos para venda ao eleitorado em tempo de campanha eleitoral).
Em nome de quê? Do eleitoralismo sustentado na garantia de acesso generalizado ao ensino superior? Com que resultados? O aumento incontrolável dos jovens desempregados licenciados relativamente aos quais chegamos ao cúmulo da irresponsabilidade ao considerar a possibilidade da sua reconversão para outras profissões; ao encerramento das instituições do ensino superior cuja expansão se permitiu e estimulou, com consequências nefastas (senão mesmo irrecuperáveis) para o interior de um país cada vez mais litoralizado e dual.
Ainda assim, os maiores problemas para a faixa interior de um país onde se gastaram tantos milhões de contos e Euros ao longo de 3 Quadros Comunitários de Apoio na revitalização do mundo rural e na fixação de populações (medidas de insuficiente eficácia, como se constata), ainda está para vir mas, já não será demorado, porque o problema não afecta só os privados, também afecta as instituições públicas espalhadas pelo interior do país ao longo da década de 1980 para estimular a afirmação de pólos urbanos de média dimensão.
Como resolver a duplicação de capacidade instalada na produção de competências ao nível regional, entre Universidades e Politécnicos? Como reajustar (drasticamente porque já era para ontem) a oferta às necessidades do mercado de trabalho (ainda valerá a pena pensar em termos regionais?) que deverá ser encarado à escala global e não à escala local ou regional (que nunca teve expressão, apesar da teimosia dos académicos de uma esquerda já então mais que ultrapassada e hoje totalmente desprezada no espaço da fundamentação da decisão política)? Como resolver o problema dos quadros de pessoal (mestres e doutores) entretanto alargados ao sabor da maré?
Não me parece que existam respostas fáceis para a verdadeira crise em que se encontra o ensino superior (público e privado; universitário e politécnico) instalado nas cidades do interior português. Mas, uma coisa é certa: se tais estabelecimentos continuarem a sua atitude de clausura académica, de elitismo cultural e de de isolamento, face a uma sociedade civil onde perdura um quadro de agentes económicos que deles desconfia (por não sentir a necessidade da sua existência), o futuro desses estabelecimentos será sem dúvida muito mais incerto e conturbado.
A razão é simples e resume-se ao facto de, não podendo tais estabelecimentos continuar, para o futuro, a sobreviver com os recursos das propinas de alunos cujo número é cada vez menor, a legitimação da sua missão (a razão de ser da sua existência) num contexto envolvente (contribuintes individuais, colectivos e empresariais) que defenda, em articulação com um tecido institucional motivado em torno de um desígno de desenvolvimento regional, exige alguma abertura a que outros possam questionar e opinar não só quanto à sua continuidade (sustentada pelos impostos de todos nós) como à sua orientação.
Uma abertura de humildade que urge...
Sem comentários:
Enviar um comentário