A notícia de que o Governo se prepara para alterar as regras de acesso às carreiras mais altas da Função Pública (Técnico Superior), deixando de exigir a licenciatura aos candidatos, espelha o laxismo com que trata o factor humano em Portugal e deve preocupar-nos pelas consequências que acarreta sobre o futuro das pessoas em primeiro lugar e, as implicações que daí decorrem sobre a economia.
Ao que parece, a sociedade do conhecimento deixou de figurar nos discursos do Governo e do PS, o que se justifica pelo facto de as atitudes dos seus membros contrariarem a todo o momento tal princípio.
Não bastava já que aqueles que trocaram escolas públicas conceituadas, com largo e prestigiado historial, por escolas privadas que nunca deveriam ter visto aprovados alguns dos seus cursos, fossem apresentados ao país pelo Ministro que tutela o ensino superior como exemplares de estudo em vez de reprovados socialmente pela opção pelo modelo “xico-esperto”.
Não bastavam já os indicadores da OCDE e de outros organismos internacionais a revelarem repetidamente a prolongada estagnação da produtividade do factor trabalho em Portugal, aos quais o Governo pretende responder com o aumento das habilitações literárias dos portugueses, fabricadas num punhado de meses para melhorar o desempenho estatístico, mas sem correspondência nas competências profissionais, com os consequentes perigos que tal resposta representa para o aumento do ainda elevado abandono escolar.
Não bastava já a constatação do facilitismo e do laxismo instalado em certas áreas e instituições do ensino superior, com a passagem de diplomas a que não correspondem as competências previstas em grau e quantidade, fruto desde logo da debilidade da entrada no sistema (médias de acesso miseráveis, insuficiente preparação do ensino secundário), mas também de algumas deficiências no funcionamento do mesmo.
Não bastavam já as preocupações com a adaptação ao processo de Bolonha, ameaçando resultar numa redução substancial da quantidade de conhecimento de base à preparação dos futuros profissionais de nível de qualificação superior, logo, numa desigualdade de acesso às carreiras técnicas da função pública entre os licenciados antes e depois de Bolonha.
Não bastava tudo isto e vemos agora que um Governo pejado de ex-defensores da necessidade do avanço de Portugal na sociedade do conhecimento, nos planos tecnológicos e na inovação, se rende ao facilitismo e à banalização, em vez de elevar a fasquia da exigência de acesso às carreiras técnicas de nível superior.
Convenhamos que as práticas deste Governo não são boas nem exemplares para a motivação dos nossos filhos, no que toca ao empenho, ao esforço, ao trabalho, à distinção e à excelência.
A ameaça é, pelo contrário, a de que a mediocridade se venha a instalar no futuro como normal.
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