Iniciou-se recentemente um novo ciclo autárquico no Alentejo a vigorar até 2013, marcado pelo recuo da CDU em várias autarquias que os eleitores trocaram pelo PS, sendo unicamente possível proceder por enquanto a uma avaliação “ex-ante” do que nos espera, em função dos discursos proferidos pelos novos protagonistas, aquando da sua tomada de posse.
Ora, os elementos de preocupação que é possível identificar a partir dessa análise prendem-se com a verificação de um tom de discurso concertado, cinzento, impreciso e mesmo acusatório, proferido por vários dos novos autarcas que, na senda dos seus congéneres já instalados, deixam antever que a desilusão já antes verificada em muitos concelhos se estenderá como uma mancha a outros agora conquistados pela mesma força política.
Boa parte desses discursos apontam como prioridades do mandato autárquico preocupações tão despropositadas e distantes das prioridades do seu próprio programa eleitoral, como a construção de novas instalações da GNR em concelhos onde os registos anuais da criminalidade cabem num 1/4 de página dum bloco de formato A5, como se tal constituísse o pilar central e imprescindível da acção autárquica em prol do desenvolvimento local durante os próximos 4 anos.
Queiram desculpar, mas mais não consigo vislumbrar em tal discurso outro propósito que não seja o desviar das atenções para a falta de soluções, de competência ou de coragem política para agarrar os problemas principais que requerem a concentração quase exclusiva da acção autárquica neste mandato, entre elas a prestação de ajuda às famílias e às empresas para enfrentarem a crise que assola este país e agrava a débil situação dos concelhos de uma região pobre como o Alentejo, através dos instrumentos fiscais na esfera autárquica como a redução do IRS para as famílias, do IMI e da Derrama para as empresas.
Mas, curiosamente, sobre isso, nem uma palavra dos novos autarcas alentejanos, como se a crise tivesse sido banida do país em consequência do milagre das rosas observado nas urnas da maioria dos concelhos alentejanos em 11 de Outubro.
Tal não é verdade, porque a crise está aí e afecta mais população e empresas alentejanas a cada dia que passa, bastando recordar que os números do desemprego relativos a Setembro de 2009 dão conta de um crescimento do desemprego (no Alentejo) em quase 20% desde o início do ano, havendo concelhos, mais industriais como Vila Viçosa onde o mesmo cresceu quase 60%, ou mais terciários como Évora onde o crescimento do desemprego registado foi de 32% em igual período.
Esquecendo ou tentando iludir a crise económica e a crise de soluções de governação nacional e local para enfrentar a mesma, os discursos de alguns dos novos autarcas viram-se para a suposta complicação da “situação financeira” que encontram nos municípios onde iniciam o mandato, enquanto desculpa e justificação para o eventual condicionamento (abandono seria o termo mais adequado) dos planos de actividades que aí vêm e dos milagrosos investimentos que irresponsavelmente prometeram ao eleitorado durante a campanha eleitoral.
Ora, esta música já nós ouvimos antes em iguais circunstâncias, com os resultados que bem conhecemos, infelizmente. Quem não se recorda da mesma invocação de dívida usada em Évora a seguir à eleições autárquicas de 2001 para se desculpar da não concretização do ilusório rol de promessas feitas aos eleitores e impossíveis de concretizar, como bem constatámos durante os últimos 8 anos?
Tal como em Évora, muitos eleitores dos concelhos de vários cantos do Alentejo sofrerão durante este ciclo variadas desilusões sobre as promessas feitas durante a campanha eleitoral, mas não cumpridas pelos autarcas vencedores, que não se contiveram em devido tempo. Cabe aos mesmos eleitores afinarem a audição e refinarem a concentração, na próxima vez que ouvirem os vendedores de ilusão, chamando-os à razão, através do voto.
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