2012-01-27

OS BOYS E OS ENTEADOS


Confesso não entender a voracidade de alguns órgãos de comunicação social para as nomeações que o actual governo tem vindo a fazer para a Administração Pública, nem o desconforto que o governo revela sobre esta matéria.

As coisas são bem simples: é este o governo que ganhou as eleições e que necessita de ter como colaboradores aqueles em quem confie para a execução das suas políticas e não outros, nomeadamente os que andaram na campanha eleitoral do PS, defendendo as medidas de política que o governo anterior aplicou e que conduziram o país à pré-falência.

Mais claro do que isto? Sim, pode contar-se o volume de nomeações anteriores e comparar com o actual, a cuja diferença a comunicação social parece pretender manter-se alheia. Serão estes os boys do PSD e do PP, por oposição aos anteriores, maioritariamente militantes e dirigentes do PS, mas que seriam mais competentes que os actuais e por isso não eram boys? Ou serão estes os enteados de uma máquina administrativa a cujo controlo o PS julga ter direito por razões não explicadas nem assumidas publicamente?

É verdade que o actual Primeiro Ministro assumiu perante os portugueses que os concursos de recrutamento de dirigentes da Administração Pública seriam de levar por diante. E certamente não deixará de o fazer, mas seria de esperar alguma tolerância perante os 6 meses de governação que até agora passaram, quando comparados com a não aplicação de tal promessa pelo PS durante 5 dos 6 anos do último período de governação, pois só em 2010 se decidiram (nomeadamente quando as sondagens começaram a deixar adivinhar o resto do filme) pela realização de concursos de recrutamento e, ainda assim, apenas para os níveis de direcção não superior.

E, mesmo sobre esses processos de selecção e recrutamento de dirigentes ocorridos em meados de 2010, muita história caricata ficou por contar, nomeadamente por daqueles que decidiram experimentar o sistema então montado.

É por isso que tenho dificuldade em entender o desplante de alguns dirigentes e ex governantes do PS, muitos deles destinatários e promotores de nomeações de boys do seu partido durante o anterior governo, sem respeito por qualquer critério que hoje exigem, mas que ainda têm a ousadia de, publicamente, fazerem as críticas que fazem, caindo num ridículo de que não se dão conta.

O governo actual, que herdou um país à beira da falência, consequência da irresponsabilidade dos que governaram, dos que os acompanharam e apoiaram e dos que beneficiaram indevidamente dessa (des)governação, não deve envergonhar-se da sua actuação em matéria de nomeações, porque o PS não é dono da Administração Pública, nomeadamente quando não governa, já nos bastando o que à mesma faz, descaradamente, quando é governo.

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