Dos resultados eleitorais de 27 de Setembro de 2009, há um claro perdedor que é o Partido Socialista (PS), o qual vê fugir mais de meio milhão de votos (505.309), retrocedendo de um peso eleitoral de 45% para 36,5%, castigado pelo deficiente exercício de mandato com uma maioria absoluta.
Esta é uma questão determinante para a análise e a percepção da dimensão do falhanço do PS, pois o facto de ter beneficiado de condições excepcionais para exercer o seu mandato de governação, associado a uma total cooperação estratégica da Presidência da República, conduz a que só a incapacidade do PS em governar seja a única explicação plausível para o decréscimo de votação observado.
Convém aliás aqui proceder a alguma comparação do que foram os 2 mandatos do PSD em maioria absoluta, reeditada do primeiro, apesar das circunstâncias desfavoráveis que constituíram a falta de cooperação institucional do então Presidente da República Mário Soares, cuja actuação acabaria mesmo por degenerar em fase de hostilidade e guerra aberta ao Governo, instrumentalizando um órgão de soberania em benefício dos interesses particulares de um partido político que é o PS. Sócrates não conseguiu reeditar uma maioria absoluta de que beneficiou em condições excepcionalmente favoráveis, o que o torna desde logo, face a Cavaco, um governante diminuído.
Ao contrário da quebra de 20% na votação do PS, todos os restantes partidos vêem subir a sua votação e o seu peso eleitoral: o PSD é o que menos cresce dos maiores partidos com representação parlamentar (crescimento de 0,4% correspondendo a pouco mais de 6.000 votos); a CDU cresce também apenas 3% (em 14.163 votos) e que representa agora cerca de 8% da expressão eleitoral; enquanto o Bloco de Esquerda cresce 53% (mais 192.661 votos), representando agora quase 10%, contra os 6,4% anteriores e, por último o PP, que crescendo mais de 176.000 votos (+43%), vê o seu peso eleitoral subir acima dos 10% quando antes era de 7,3%.
Apesar de o PSD não conseguir capitalizar em seu benefício o descontentamento do eleitorado com o PS, ganha ainda assim 3 deputados dos 25 que o PS perdeu, enquanto a CDU ganha apenas 1 deputado, mas o Bloco duplica os seus (de 8 para 16) e o CDS de 12 para 21.
No distrito de Évora, o PS sofre uma quebra de votos de -33% muito superior à descida nacional e vê o seu peso eleitoral perder o posicionamento que tinha acima do nível nacional para uma posição inferior à do PS no país. Curiosamente, a CDU beneficia muito pouco desta perda do PS e vê os seus votos crescerem apenas 1%, enquanto que a estrondosa subida de 128% do Bloco e de 63% do PP se revelam totalmente desperdiçadas face ao objectivo que é a eleição de deputados no círculo distrital de Évora.
Ao contrário, o PSD, subindo 7% da sua votação no distrito de Évora, bem mais que o que cresceu no país, consegue recuperar o deputado perdido em 2005, sendo no fundo o único partido que ganhou alguma coisa com as mesmas eleições ao nível regional.
Daí que seja difícil entender e vislumbrar a suposta “esmagadora vitória” do Partido Socialista no distrito de Évora, quando os 3 deputados que havia para eleger foram distribuídos em partes iguais pelo PS, PSD e CDU, estando agora as mesmas forças igualmente representadas no parlamento.
Ao nível nacional e distrital de Évora, o PS assume assim um estatuto de partido perdedor que ganhou as eleições. Resta saber para quê e em benefício de quem? Enquanto a resposta à segunda questão se pode adivinhar, quanto à primeira será por certo mais difícil, sendo de conjecturar que mesmo ao PS seja difícil responder.
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