2009-01-26

A CRISE NÃO DESCULPA O (DES)GOVERNO

A máquina propagandística do governo socialista procura insistentemente passar a mensagem de que a crise financeira internacional é a única e principal causa da degradação da situação económica e social que Portugal vive. Tal mensagem tem por pressuposto que sem a crise, Portugal estaria no caminho do sucesso, fruto da acção do governo neste mandato.

Tal pressuposto e, por conseguinte, a mensagem que nele se baseia, encerra uma boa dose de erro e de falácia.

A crise internacional serve, infelizmente, para por a nu o verdadeiro estado da economia portuguesa e a ineficácia das supostas (porque apregoadas) reformas estruturais da governação socialista no contributo para o seu reforço. Os pés de barro do anunciado equilíbrio das finanças públicas e do controlo do défice são agora bem visíveis a olho nu, revelando uma prática de sistemática e repetida desorçamentação, dívidas do Estado aos fornecedores particulares, retenção dos financiamentos do QREN para controlar a despesa acarretada pela contrapartida nacional nos projectos, entre outras artimanhas.

A coberto da desculpa da crise, o governo abre agora os cordões à bolsa e gasta o que reteve mais o que não tem, empobrecendo a prazo ainda mais o já sombrio futuro do país. Quando a crise financeira abrandar, levaremos muito mais tempo que os nossos parceiros europeus a recuperar, em boa medida pelo carácter fugaz e nada estrutural da governação socialista.

Em ano de eleições, o governo socialista tudo fará para que a crise sirva de cobertura aos seus objectivos eleitoralistas, esbanjadores e compensatórios da ausência de trabalho de fundo desde o início do mandato. Durante os últimos 3 anos os portugueses foram sujeitos a uma austeridade sem precedentes para reequilibrar as finanças públicas, reforçar a competitividade da economia do país, que assim enfrentaria melhor as eventuais crises externas mas, o fiasco é maior do que se esperaria.

Combatendo hoje a crise com o desequilíbrio das contas públicas e a ilusão de um efeito estruturante não comprovado dos grandes projectos de investimento público na economia e no emprego, a governação do país ficará bem mais difícil num futuro próximo, com ou sem crise financeira.

A Administração Pública continuará por reformar e a ineficiência do Estado agravar-se-á, a saúde estará mais degradada e responderá bastante menos que hoje, o mundo rural do interior estará menos povoado e este em irremediável desertificação, o sistema de educação-formação será ainda menos contributivo para a formação de competências, as quais se vão perdendo num mercado de emprego que permite a sua rápida erosão nos elevados níveis de desemprego, a produtividade estará nas ruas da amargura, a justiça garantirá níveis inferiores de confiança e minará o pouco que sobra da competitividade da economia na atracção de IDE.

O drama é que as soluções para estes problemas estruturais não se conseguem afirmar de um dia para o outro, não permitindo por isso adiamentos ou interrupções, sob pena de, mais tarde, exigirem respostas bem mais forçadas, abruptas e dolorosas para os portugueses, reiniciando a crise.

Com condições favoráveis à governação, só a falta de rumo e não a crise internacional explicará o incompreensível, embora não surpreendente, desgoverno socialista.

Sem comentários: