2016-06-24

O TALENTO COMO ATIVO NO DESENVOLVIMENTO DOS TERRITÓRIOS


Vários especialistas têm vindo a destacar a emergência recente mas crescente da dimensão de gestão das qualificações e do talento dos recursos humanos, enquanto fator valorizador da construção, reforço e mudança da cultura organizacional das empresas, com impacto significativo na eficiência e produtividade empresariais.

Tal perspetiva, desde logo geradora de expetativas interessantes num mercado de trabalho que sempre observa dificuldades de absorção dos profissionais de gestão do capital humano, tem vindo a ser constatada com maior intensidade desde o início da crise (paradoxalmente ou talvez não), um pouco por todo o país, com maior foco no tecido empresarial de maior intensidade tecnológica.

A recente crise financeira e económica que afetou a Europa, acarretou uma substancial alteração da matriz económica nacional, reduzindo significativamente os setores tradicionais da atividade económica em número e dimensão empregadora de empresas, permitindo ganhos relativos de peso e mesmo a expansão de unidades integradas em sectores mais pujantes em tecnologia, competitivos à escala europeia e mundial.

A atração e consolidação de investimento estrangeiro em unidades de produção tecnologicamente avançadas e de prestação de serviços digitais cresceu aos poucos no país, durante e apesar da crise, com uma distribuição territorialmente mais equilibrada e beneficiando mesmo algumas das regiões com menor tradição industrial.

A tal movimento não terá sido indiferente a avaliação da capacidade dos territórios responderem, à escala regional, a elevadas e particulares exigências desses investimentos, em matéria de gestão das qualificações profissionais e dos talentos humanos. Ganharão aqui relevância, entre outras, as avaliações sobre a rede de instituições do ensino superior, a capacidade e diversidade da oferta formativa de caráter técnico e profissional, a implantação e recetividade do sistema regional de transferência de tecnologia, a existência e a dinâmica da gestão dos parques empresariais, assim como a ligação dos mesmos ao sistema de ciência regional, etc…

Foi a existência de várias e entrecruzadas redes de diversos tipos de atores que gerou confiança para que empresas e grupos internacionais de importância mundial como a Embraer, a Mecachrome e a Capgemini, entre outras, se instalassem no Alentejo e para que outras já existentes crescessem significativamente, atraindo áreas de produção instaladas noutros continentes, como é o caso da Tyco Electronics. São exemplos de casos de certo tipo de investimento, muito seletivo, porque muito exigente no que respeita à qualidade das qualificações profissionais e do talento humano que mobilizam no seu entorno, mas que confiaram na qualidade dos atores regionais do Alentejo e, no fundo, no talento institucional dos mesmos para responderem ao nível das exigências e dos desafios colocados.

Interessante foi a sensação experimentada, no seio dos atores institucionais regionais, de constatar a elevação da dimensão da qualidade das qualificações profissionais à condição de fator determinante e mais que isso, decisivo, na escolha da localização de investimentos tão exigentes e tão distantes do padrão a que estávamos habituados. E tudo isto, em plena crise económica e financeira, com um desemprego galopante e oriundo de atividades económicas igualmente distantes das emergentes na região.

É, pois, reconfortante assistir à afirmação, por parte de reputados especialistas da área da gestão do capital humano, de que este mesmo capital é efetivamente o “gatilho” do crescimento, diria que não apenas económico, mas principalmente regional e sustentável, como está em curso no Alentejo.

2016-06-17

CGD: UMA BOMBA-RELÓGIO


O governo apresenta à CE um plano de recapitalização pública de 4000M€ da CGD, a qual pode vir a aprovar com contrapartidas: um plano de reestruturação do banco que demonstre haver retorno financeiro dessa ajuda pública, como se de um investimento privado se tratasse. A Comissária Europeia que tutela a Direção Geral da Concorrência da CE (DG Comp), revela publicamente que, não havendo preconceitos sobre a propriedade pública dos bancos, significa essa neutralidade que a CGD deverá devolver ao Estado, que investe (o dinheiro dos contribuintes), o retorno lucrativo do capital.

Para o Ministro da Finanças, desvalorizando a mensagem de exigência de rentabilidade do investimento público (8% a 10% ao ano), a única preocupação recai sobre a negociação com a CE da classificação contabilística da capitalização: carregando sobre a despesa pública sem agravar o défice, ou dividindo pelas duas parcelas/rúbricas.

Indiferente à reestruturação exigida pela CE para que a CGD regresse à apresentação de lucros em vez de prejuízos como o fez nos últimos anos, o Ministro das Finanças aprova o crescimento do Conselho de Administração de 14 para 19 elementos (disparando 70% os custos daquele órgão), em sentido contrário à aceleração da redução de custos da empresa, tendo ainda o governo aprovado o decreto-lei que altera o estatuto do gestor público, para que os novos administradores da CGD possam ganhar mais do que o primeiro-ministro.

Não admira, pois, que a corretora Moody’s desconfie das intenções de um governo pouco credível em matéria de finanças públicas e ameace cortar o rating da CGD devido às incertezas que sente e adivinha, mais ainda quando o mesmo banco ainda não devolveu ao Estado a quem agora volta a pedir apoio, os 900M€ de capital emprestado em 2013, cujo prazo termina em 2017.

A desconfiança da Moody’s sobre a gestão financeira saudável da CGD (desembocando em notações de risco) não parece condenável à luz do historial daquele banco público, nem do branqueamento dos erros (ou propósitos) de gestão pelo governo do PS e forças partidárias apoiantes, se atendermos a que: a) Em 2010 a CGD aprovou um crédito de 11,5M€ à Fundação Social do Quadro Bancário (FSQB), a qual não existia por ter sido declarada nula pela justiça um ano antes. Recuperação? Responsabilização pela decisão? Desconhecidos … b) A CGD não dá lucros desde 2010 e, em cinco anos, acumulou perdas de cerca de 2000M€, sendo que, só em imparidades para crédito malparado, imóveis e cotadas, queimou cerca de 8500M€; c) o banco foi instrumentalizado por vários governos em negócios especulativos imobiliários e financeiros, tendo gerado nos últimos 10 anos um buraco maior do que o do BES e do BANIF juntos: Herdade da Comporta (do GES, com dívida superior a 100M€); empréstimos a Berardo para controle do BCP, ONGOING,  Portugal Telecom, …

Só a injeção de capital público que cubra os prejuízos causados por negócios de particulares parece poder sossegar a Moody’s, mas isso não parece perturbar nem o BE nem o PCP, já para não falar no PS. Os mesmos indignados sobre os casos BPN, BES e, o mais recente BANIF, sobre o qual a CE garante que a precipitação da decisão é da responsabilidade do atual governo das esquerdas.

Recusando um inquérito parlamentar à CGD, as forças da esquerda legitimam o assalto aos bancos desde que sejam públicos, ainda que os danos (aos contribuintes) tenham resultado da gestão subordinada ao compadrio político (contra o que se revoltaram nos bancos privados). O banco é público e o que é público é para delapidar, sem necessidade de responsabilizar quem o faz. Por isso, a banca deve ser gerida toda ela pelo Estado, porque nas mãos dos privados é um perigo para os cofres do mesmo Estado.

Ficamos sem palavras e, pior ainda, sem dinheiro para tanta falta de pudor que estamos a suportar.

2016-06-09

A INCOMPREENSÍVEL DEFESA DA DEPENDÊNCIA DO ESTADO


Parece significativamente consensual por toda a União Europeia que a promoção de um clima empreendedor que atraia investidores externos e mobilize o capital de risco em direção a novos e inovadores negócios, constitui uma oportunidade relevante para estimular e transformar o crescimento económico e a geração de emprego, sobretudo jovem, recuperando a Europa alguma da desvantagem nesta matéria face a outras economias, como a dos EUA.

Assim, justificam-se políticas públicas de incentivo do empreendedorismo, contributivas de uma maior coesão territorial e económica dos países europeus e das suas regiões, atraindo e fixando jovens, negócios e atividades económicas, que diminuam igualmente as assimetrias demográficas e contrariem as tendências de envelhecimento instaladas. Muito haverá a explorar por cá, na fixação das competências científicas e técnicas dos nossos jovens, diariamente assediados pela Europa Central e do Norte, a cujo chamamento têm dificuldade em resistir, pelas condições oferecidas por um lado e, por outro, pelo desejo de experimentação e teste das sensações e dos contextos identificados através das redes de conexão virtual.

Não poderão igualmente as políticas públicas abrandar os esforços dirigidos ao retorno destes quadros ainda jovens ao país de origem, após o enriquecimento de competências decorrente da experiência profissional internacional, com potencial de benefício para a promoção da qualidade e da criação de emprego e empresas. Mais uma vez, o apoio ao empreendedorismo tornar-se-á por certo determinante.

A considerar ainda atender ao estímulo da capacidade empreendedora de uma geração mais madura, que cresceu com o advento da internet e das tecnologias de informação e comunicação, considerada por muitos como a mais bem qualificada de sempre e marcada pela competição e pela inovação, mas que não escapou ainda assim aos efeitos da crise, vendo-se pressionada a regressar a casa dos pais em consequência das instabilidades laborais e financeiras, bem como da desestruturação familiar que afetou muitos casais dessa geração. O potencial de desenvolvimento de projetos empreendedores e geradores de empresas e empregos, explorando os espaços de localização empresarial municipais e associativos infraestruturados no país, por esta geração técnica e cientificamente qualificada não deverá ser desprezado pelas políticas públicas de promoção do emprego.

A continuidade da aposta na promoção do empreendedorismo parece óbvia e defensável, mas assim não parece ser entendido por uma certa esquerda radical que sustenta a atual governação de Portugal, que crescentemente vem a público condenar a promoção do empreendedorismo, considerando este ideologicamente justificador das situações de pobreza. Vá-se lá perceber o pretende esta gente com a condenação ao empreendedorismo por este acarretar risco, incerteza, precariedade, valorização da iniciativa individual, desejo de sucesso pessoal e liberdade de escolha… chegando à acusação de aproximação do país ao Bangladesh ao enveredar por esta via.

Pelos vistos, a autonomia na organização da vida profissional, a emancipação pessoal e profissional, a auto-regulação da relação laboral e gestão autónoma dos tempos de trabalho, a promoção da conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, são agora desvalorizados na diabolização do empreendedorismo (utopia neoliberal, dizem eles) promovido pelo anterior governo, o qual procurava estimular a iniciativa dos desempregados, alguns dos quais (seletivamente, apenas nos que têm potencial de competências a mobilizar) para que, pelos seus próprios meios e capacidades, possam desenhar uma solução e construir um caminho de saída para a situação em que se encontram.

Não é fácil entender estas posições, antes pelo contrário, é mesmo difícil e desesperante. Estimular o consumo como faz o atual governo, através do crédito bancário que gera maior endividamento para o país e compromete financeiramente o futuro das famílias, parece ser mais aliciante aos olhos desta esquerda radical. Não foi esse o caminho da Irlanda, agora novamente elogiada internacionalmente, exemplo que, curiosamente, alguma esquerda esquece e ignora propositadamente em Portugal.

2016-06-03

A IMORAL AGENDA DA ESQUERDA QUE SUSTENTA O GOVERNO DO PS




A atividade económica nacional está em queda há 5 meses, segundo o Banco de Portugal, atestando igualmente fracos e estabilizados níveis do consumo privado, ao mesmo tempo que o INE destaca o contributo negativo da procura externa e a desaceleração do investimento para o arrefecimento do crescimento do PIB nacional.

Indiferentes a tais indicadores, os estivadores nacionais decidiram esticar a corda intensificando o já longo período de greves, ameaçando causar em junho prejuízos de 300m€/dia (17,4M€ de prejuízos estimados só em Lisboa) aos operadores do porto de Lisboa. Estes, em desespero de causa face à incompreensível passividade do governo, condicionado pela agenda da esquerda radical que sustenta a sua exclusiva motivação de exercício do poder governativo, ameaçaram avançar com um processo de despedimento coletivo, por considerarem insustentável a sua sobrevivência económica e empresarial.

Os operadores do porto de Lisboa viram a sua atividade cair para metade de 2012 para 2015 e não suportam mais a intransigência de um sindicato com poderes agora reforçados pelo poder político junto de um governo que se manteve passivo demasiado tempo, evitando o recurso à requisição civil, indiferente à instabilidade reinante que mina a credibilidade internacional dos terminais do estuário do Tejo e afugenta operadores nacionais e estrangeiros para a nossa vizinha Espanha, ao aumento do custo de matérias-primas do setor agroalimentar, ao prejuízo causado aos exportadores, entre os quais os produtores de mármores e vinhos alentejanos.

A arrastada passividade permissiva do governo, evitando desagradar e conflituar com o sindicato dominado pela esquerda radical que sustenta a sua governação, para além de acarretar danos irreparáveis aos portos nacionais que levarão alguns anos a recuperarem os níveis de atividade que se perderam obteve como resposta, por parte dos estivadores, a defesa da nacionalização dos portos.

Nem mais, com um inacreditável descaramento e irresponsabilidade quanto às consequências da sua ação, os sindicatos dos trabalhadores da estiva, atiram a queimar tudo o que ainda mexe: o setor dá bastante lucro e por isso deveria ser público. A nacionalização do setor seria assim, a solução para os conflitos laborais, pois permitiria ao sindicato passar o tempo que quisesse em greve, causar ainda mais prejuízos do que agora e, tudo isso sem sanções para os grevistas, nomeadamente o despedimento, ainda que a atividade dos portos se reduza a zero. Os contribuintes pagam, de cara alegre, que é de esquerda, por isso, só pode ser bom.

Quando já pensava ser difícil ver-me surpreendido no atual quadro político nacional, eis que a criatividade das esquerdas não encontra limites, neste caso, ou no projeto de lei para permitir a mudança de sexo a partir dos 16 anos, bem como a mudança de identidade no cartão de cidadão, exigindo-se que o Estado garanta todos os procedimentos médicos necessários para a mudança de género, nem que tenha que contratualizar com o setor privado, parecendo que esta será uma causa muito mais nobre e prioritária para o BE do que o acesso ao ensino.

Tudo isto perante a passividade e concordância do PS, partido que, nas palavras do insuspeito António Barreto, “perdeu a alma e a cabeça”. Mas ganhou o governo. E Portugal?