2012-04-14

ACERTAR O PASSO NA VELOCIDADE DA FERROVIA


O ex-Ministro de Guterres responsável pelo logro financeiro das SCUT, João Cravinho, talvez influenciado pelo desastre a que se deixou conduzir pelo excessivo otimismo dos estudos que apontavam para a viabilidade financeira daquele investimento, revelava no início de 2009 que o país só teria a ganhar em desistir da ligação Lisboa/Madrid em alta velocidade (TGV), um projeto ruinoso. Mas, em meados de 2010, a esquerda parlamentar (incluindo o PS) chumbava na AR a proposta de suspensão do TGV apresentada pelo PSD e PP, negando assim até ao limite os sinais de uma crise financeira internacional por demais identificados e antecipados que estivessem os seus efeitos sobre a economia nacional.

Reconhecendo que os estudos encomendados pelos Governos assumem em regra como primeira preocupação a justificação sustentadora das opções políticas tomadas, ignorando que na prática as coisas nem sempre se expressam na mesma linha dos resultados de exploração estimados (ex. das SCUT, do Aeroporto de Beja, Estádios do Euro 2004), Cravinho adivinhava assim a desgraça decorrente da ilusão socrática em que assentava o projeto TGV, na linha de toda a governação socialista que pintou a negra realidade do país de uma cor rosa durante os últimos 7 anos.

O resultado da comprometedora sangria de recursos bancários que tais projetos de investimento público acarretou para a economia nacional sente-se hoje, apesar de o PSD denunciar desde a campanha eleitoral de 2009 a necessidade de reverter os mesmos para a atividade das empresas em geral e das PME’s em particular, onde eram efetivamente necessários e continuam a ser hoje, mas que agora infelizmente não estão mais disponíveis.

Uma boa parte da subida do desemprego a que assistimos neste início de 2012 deve-se ao encerramento de empresas pela quebra do consumo interno, mas também pela fuga do IDE (investimento direto estrangeiro) que Portugal não consegue mais fixar e tem cada maior dificuldade em captar, para países onde os bancos reservam o dinheiro disponível para financiar as empresas produtivas mais do que para o crédito à habitação: que hoje aí temos de sobra para as próximas gerações e que dela menos necessitarão pelo decréscimo populacional previsto pelas projeções demográficas conhecidas.

Apesar de ter sido demonstrada à exaustão a falência do investimento no TGV (sem rentabilidade económica nem repercussões imediatas sobre o desemprego e os mercados de trabalho regionais), aqui e na vizinha Espanha onde estão a ser desativados ramais recentemente construídos, bem como evidenciada a impossibilidade da sua construção pela ausência de recursos financeiros internos para fazer face ao empréstimo a contrair junto do BEI (Banco Europeu de Investimento), o PS continua a ignorar tais evidências da mesma forma que continua a negar as suas responsabilidades perante a atual crise para onde conduziu o país e os portugueses, vindo a terreiro clamar contra a alteração do projeto pela qual o atual governo se decidiu, como se as contas públicas depois da governação do PS fossem cor-de-rosa e não negras como realmente são.

A propaganda do PS assenta em que o TGV criaria emprego e ajudaria à recuperação económica do país, mas o que os portugueses hoje conhecem e sentem na pele, é o estado a que o país chegou com tantas outras propagandas socialistas em 12 anos de guterrismo e socratismo: défice descontrolado, dívida pública galopante, um endividamento externo alarmante, desemprego crescente e, pedido de ajuda financeira externa.

O Governo em exercício optou por abandonar a Alta Velocidade e substitui-lo por uma modalidade de Velocidade Alta, dando prioridade a um eixo ferroviário de mercadorias entre o porto de Sines e a fronteira franco-espanhola, por Madrid, apostando na competitividade das exportações portuguesas e espanholas. Estranha-se assim que o PS, partido sustentador do anterior Governo, que ao longo de 7 anos abundância de crédito à economia e aos investimentos públicos, não construiu as infraestruturas necessárias à sustentação do investimento estrangeiro no Alentejo (veja-se o caso da Embraer), venha agora através dos seus peões menores invocar os enormes prejuízos do abandono do TGV para a perda de competitividade territorial do Alentejo, que deveriam saber não se resolver apenas com comboios, tal como não se resolveu com autoestradas.

Alheios às medíocres performances do poder local marcadamente socialista no que toca à (não) dotação do Alentejo dos fatores de competitividade territorial necessários a um desenvolvimento consentâneo com outras regiões do país, bem como às reiteradas quebras de solidariedade dos governos socialistas para com o Alentejo (ex. da não construção do Hospital Regional de Évora), vários dirigentes socialistas locais e nacionais ainda se atrevem a criticar o atual Governo e o Tribunal de Contas pelo abandono do investimento no TGV, afirmando que há dinheiro para o concretizar e que “perdemos” 1.200M€ (de um empréstimo, logo, a devolver ao BEI).

A irresponsabilidade e leviandade dos ex-governantes socialistas é de tal monta que afirmam não se criar emprego, prejudicando os setores da construção e dos serviços e que tal significa que este Governo afunda, por esta, via, a economia do país e que não tem modelo de desenvolvimento económico.

Parece mais que nunca evidente qual o modelo de desenvolvimento que o PS tinha em mente para este país e que levou à prática nos últimos 15 anos: a construção de infraestruturas públicas mal planeadas e que hoje são verdadeiros elefantes brancos, endividando o país até ao limite de pedir ajuda financeira internacional. Emprego? Sim, algum, artificial (subsidiado pelos empréstimos contraídos), sem sustentação económica, que hoje bate à porta dos centros de emprego, porque se esgotou nas fases da construção desses projetos que não geraram riqueza, mas apenas endividamento.

O que resta para o futuro? Uma crise que temos que vencer e ultrapassar, mas sem demagogias, com transparência, com trabalho e com esforço, como este governo está a fazer e para cujo sucesso precisa de empenho, dedicação e tudo o mais, mas não precisa dos demagogos que até há um nos atrás enganaram os portugueses como se as finanças públicas estivessem bem, em vez de pedirem ajuda um ano antes, em condições mais vantajosas para todos e com menos sacrifícios.

Basta de falta de responsabilidade e de falta de vergonha dos que nos afundaram até há um ano atrás! Mais respeito por aqueles que todos os esforços desenvolvem para nos tirarem do buraco onde nos meteram.