2008-03-30

UE: CADA SURPRESA MAIOR QUE A ANTERIOR

Há entidade públicas que, funcionando e sobrevivendo quase que exclusivamente à conta dos nossos impostos, não param de nos surpreender, sendo cada uma das suas opções mais incompreensível que a anterior.
Chama-se a isso falta de respeito por aqueles a quem deveriam servir (a razão de ser da sua existência), baseados numa suposta intelectualidade superior que, imaginamos, deve ser de origem divina...
Indiferentes aos apelos do contexto, sem diagnóstico, sem estratégia, sem o mínimo de rumo, algumas delas parece tudo fazerem em contrário ao que lhes é transmitido, aconselhado, diria mesmo exigido pela comunidade envolvente que suporta a sua existência (cada vez mais contestada por perda de legitimação funcional na região para cujo desenvolvimento deveriam contribuir).
Depois da brilhante ideia da licenciatura em Jazz, agora é o Design... O que virá a seguir?

Poderiam alguns defensores de um papel alargado (e justificado) de intervenção formativa das Universidades no desenvolvimento económico, social e cultural nacionais e regionais, invocar a justificação de uma oferta ampla e diversificada com vista a evitar uma excessiva focalização e dependência face às tendência conjunturais e mais materiais, cuja submissão conduziria a uma debilitação da função de formação de cidadãos para a construção social e para a transformação dessa mesma construção, na perspectiva da inevitável mudança social que há que acompanhar.
Mas, apesar de válido o argumento, exigiria o mesmo que a racionalidade da acção procurasse outros mecanismos de aceitação e legitimação, de forma a que, equilibradamente, se construisse uma parte de oferta formativa produtora de receitas que permitisse sustentar uma outra parte mais artística e cultural. O problema é que esta racionalidade na gestão da oferta, parece não existir, por falta de coragem ou por resistência deliberada e teimosa.
Enquanto isso, lemos (parece que só alguns) repetidamente na comunicação social que:
O sector turístico alentejano vai precisar de duplicar os 11 mil trabalhadores que actualmente preenchem os quadros das unidades hoteleiras para responder aos vários investimentos previstos para a região, nos próximos cinco a dez anos.
As micro, pequenas e médias empresas receiam, por isso, perder a mão-de-obra para os grandes projectos e reclamam uma "urgente formação" de pessoal, que pode passar pela instalação em Évora de uma escola de hotelaria.
A preocupação da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo (ARPTA) tem por base os cinco mil novos empregos previstos para os empreendimentos do Litoral Alentejano - Pinheirinho, Costa Terra e Tróia Resort -, a que se seguem mais seis mil para integrarem as 11 unidades territoriais previstas para Alqueva e para os cinco complexos que já obtiveram o estatuto de Potencial Interesse Nacional (PIN) projectados para Évora Herdade dos Almendres, Évora Safari Park, Herdade dos Padres, Herdade das Fuzeiras e Évora Resort. Este último é liderado por Jaime Antunes, um empresário que ambiciona transformar a capital do Alto Alentejo num destino de golfe, através de um investimento global de 800 milhões de euros.
E os empresários debatem-se já com a falta de mão-de-obra qualificada, uma vez que apenas 20% dos trabalhadores frequentaram cursos de hotelaria e turismo. "Corremos sérios riscos de ver as grandes unidades irem buscar pessoal às empresas pequenas, quando precisarem de 200 ou 300 trabalhadores", alerta Francisco Zambujinho, presidente da ARPTA.
O presidente da Região de Turismo de Évora, João Andrade Santos, garante que o plano turístico para o Alentejo projectado em 2002 falhou, justamente, "devido à falta de recursos humanos", aproveitando para reivindicar para Évora uma escola superior de hotelaria.
E a crescente procura parece justificá-la. Até Agosto, as 134 unidades hoteleiras do Alentejo tiveram uma receita de 40 milhões de euros, quando no período homólogo de 2006 não foram muito além dos 30 milhões.
A reflexão que deverá ser feita é a seguinte: com que argumentação poderão tais entidades continuar a pedir a mobilização dos actores sociais, económicos e políticos regionais em defesa da resolução da sua difícil situação financeira (cujas raízes merecem reflexão sobre os actos de gestão interna e a afirmação externa de utilidade no contexto regional), com vista à garantia da sua existência?
Confesso que começa a ser frustrante e mesmo irritante o desprezo com que alguns pedem ajuda, como se considerassem assistir-lhe um direito incontestável de existência: uma ilusão que poderão pagar caro no futuro, por falta de humildade.

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