2007-02-27

DO POUCO QUE MUDÁMOS EM 3 DÉCADAS, PARECE TER SIDO PARA PIOR...

O recente caso da Universidade Independente é extraordinário na revelação de como os portugueses estão dispostos a, pacificamente, ver afundar o seu país e o seu futuro, às mãos da corrupção e do "salve-se quem puder", mesmo que não sejam todos, mas apenas os supostamente mais "espertos", por iludirem os outros, em benefício próprio.
Como se não tivesse já acontecido antes no caso Universidade Moderna, alguma utilização das entidades sem fins lucrativos como as cooperativas de ensino, neste caso, em alguns casos parece que apenas serviram para ludibriar alunos e suas famílias, bem como o Estado, à conta dos nossos impostos (pelo que não pagaram).
Isso mesmo reconhecia o ex-Vice-Reitor demitido da UI perante as câmeras da SIC-Notícias ao admitir que, não sendo uma entidade com fins lucrativos (e não podendo distribuir lucros pelos seus associados, neste caso cooperantes), não via como invulgar ou reprovável que a mesma entidade tivesse, dos excedentes financeiros amealhados, proporcionado algum conforto ao senhor reitor (com uma piscina) e ao seu filho (com uma vivenda, sem especificar se, neste caso, incluía piscina ou não).
Como reagiram os portugueses em geral? Mais uns a roubarem: o nosso fado diário. Já é vulgar, cada vez mais normal e aceitável.
Neste país, infelizmente, parece começar a desenhar-se a tendência de que, socialmente desviante é aquele que, estando dentro da norma, se desvia por essa normalidade do comportamento geral que foge à norma e que, apesar de cumprir as suas obrigações fiscais, as suas obrigações para com o Estado e com o sistema fiscal ou mesmo judicial, está efectivamente cada vez mais fora da norma (sentindo que aumenta a cada dia a probabilidade de vir a fazer parte dos 5% de margem de erro dos testes estatísticos, que confirmam a regra geral).
Pior ainda é que, nem a um indulto presidencial se arriscará alguma vez, por este andar, porque é cumpridor.
Mais Évora: Like a virgin «Fátima Felgueiras considerou que «é normal e habitual que os partidos tenham contas paralelas» para as campanhas eleitorais.
De facto, parece que não só são normais os sacos azuis como também o “loteamento partidário” das autarquias por boys (como refere, hoje, no “Público” Vital Moreira), adjudicar obras a amigos ou ao próprio (como aconteceu com o presidente da junta de freguesia de Arcas, Macedo de Cavaleiros), alterar planos directores municipais em conformidade com os interesses de quem patrocina campanhas políticas (como acontece em muitas autarquias), etc., etc.
Nesse ponto a Fatinha tem razão.
Só os politicamente incompetentes respeitam a lei e querem a transparência nas suas actividades políticas.
Mas esses não são espectaculares nas campanhas, não dão vitórias ao seu partido, nem têm sucesso político. Obviamente, são completamente anormais! 27 Fevereiro, 2007 22:14»
É esta uma sociedade moderna ou uma anarquia em potência?
Aceitamos como normal que quem tem a mão na massa tenha que meter parte ao bolso?
Aceitamos hoje pacificamente que autarcas eleitos democraticamente gozem com toda a nação, exilados em férias no Brasil e recebendo o seu vencimento mensalmente, à custa dos nossos impostos e da degradação do sistema judicial?
Aceitamos pacificamente que autarcas eleitos democraticamente digam em tribunal coisas como as que constam nesta peça, como se fosse inevitável a corrupção dos autarcas pelos vários agentes económicos com interesses nos concelhos, com vista à alimentação das campanhas eleitorais?
Sim, porque os tais sacos azuis, mesmo que alimentados por beneméritos, dificimente se desvincularão de interesses latentes!
Aceitamos pacificamente que autarcas eleitos democraticamente para gerir o futuro dos destinos dos nossos concelhos comprometam este em troca da especulação imobiliária promovida por grupos económicos que alimentam os cofres dos partidos políticos e as suas campanhas eleitorais?
Permitimos aos partidos de poder como o PS que (contrariamente ao PSD de Marques Mendes) tenham sancionado este tipo de modelo de autarca? Foi Jorge Coelho a fazer campanha no local já com fortes suspeitas conhecidas e foi Sócrates a calar-se pelo PS nas últimas eleições?
VALE A PENA SER SÉRIO EM PORTUGAL?
Digam-me, por favor, O QUE RECOMENDO AOS MEUS FILHOS COMO MODELOS?
Que país é este? Moderno? Europeu? Desenvolvido? Tecnologicamente avançado?
Mas, sendo assim, quantos países da África sub-saariana e da América Latina não estaremos a promover à categoria de modernidade?
Será esse o desígnio português para o presente século?

2007-02-17

MESMO COM A DEMOCRACIA, POUCO MUDÁMOS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS.

«Portugal é dos países da Europa que mais recorre à «cunha».
Portugal é um dos países da Europa que mais recorre ao pequeno tráfico de influência ou ao chamado «puxar os cordelinhos» e à «cunha», revela hoje um estudo da European Social Survey 2004.
«Quando perguntado aos portugueses se têm à disposição contactos de familiares ou amigos para obter um serviço que não lhes é de direito, que depois desencadeia um acto ilícito, nomeadamente tráfico de influências, respondem que têm bastantes», afirmou o investigador Luís de Sousa do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e das Empresas (ISCTE).
«De facto, Portugal é o país que apresenta esse nível mais alto», sublinhou. O responsável pela vertente do «Capital Social e Corrupção» revelou também que existe «uma imagem de desconfiança generalizada da função pública com excepção dos países escandinavos».
Portugal insere-se «no grupo que diz que desconfia ou não expressa confiança, o que dá uma desconfiança tácita», explicou Luís de Sousa, justificando esta tendência com «algum nepotismo, favoritismo ou cunha que caracteriza a relação do funcionário público com o cidadão».
O estudo mostra também que os portugueses têm uma visão «mais negativa» da saúde relativamente à maior parte da dos outros países, sendo «mais hipocondríacos» do que a média europeia, constatou Manuel Villaverde Cabral, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais (ICS).
Responsável pela vertente de saúde e medicamentos do estudo, o sociólogo explicou que essa tendência não se vê «por irem mais ao médico ou tomarem mais medicamentos, mas por terem um sentimento de felicidade e bem-estar geral bastante negativo».
«Quanto mais negativa é a avaliação da situação económica e política do país, mais negativa é a avaliação do sistema de saúde», disse.
O estudo da European Social Survey foi realizado em 24 países dentro e fora da União Europeia e pretendeu avaliar quais as tendências dos hábitos e dos comportamentos dos seus cidadãos.
Este segundo inquérito, depois do de 2002, foi realizado na Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Islândia, no Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Irlanda, Hungria, República Checa, Polónia, Eslovénia, Eslováquia, Estónia, Espanha, Grécia, Ucrânia e Portugal.
Diário Digital / Lusa 09-02-2007 13:43:37»
É caso para perguntar se ainda alguém se espanta com os resultados obtidos ou se alguém estaria à espera de outros.
É que a matriz cultural portuguesa, tal como de muitos outros povos, especialmente os latinos (europeus e americanos), teima em não mudar, antes acentuando muitos dos seus traços mais negativos.
Tudo isto apesar dos milhares de milhões de escudos e euros que já usámos a convencer-nos que somos modernos, só porque agora vivemos em cidades e antes no mundo rural, porque temos mais que um telemóvel e o ordenado dos próximos meses empenhado à banca devido ao exagero da frequência dos shoppings e ao "renting" do automóvel.

Mas, alguns valores, ao que parece cada vez valem efectivamente menos, havendo mesmo alguns deles que tendem a esmorecer nas escolhas dos portugueses (trabalho, mérito, esforço, ...) em detrimento de outros que se afirmam a olhos vistos: o facilitismo, a influência das relações sociais para influenciar decisões profissionais e conseguir benefícios, a aceitação da corrupção como banal, dos privilégios aos mais poderosos, ...

Veja-se como, na década de 70, Geert Hofstede, o mundialmente conhecido antropólogo de origem holandesa, identificava muitos desses traços como afirmados já no íntimo dos portugueses e de outras nações, culturalmente próximas.
O estudo de Hofstede, Director de Recursos Humanos da IBM, sobre gestão inter-cultural, incidiu sobre atitudes e valores relacionados com o trabalho nas diferentes culturas nacionais e reflectidos nas respectivas estruturas organizacionais, estabelecendo uma serie de índices culturais através de analises estatísticas de entrevistas detalhadas com funcionarios da IBM em 53 países.

Segue-se artigo de Arménio Rego sobre uma das dimensões culturais identificadas, publicado em: http://dn.sapo.pt/2006/03/17/economia/portugueses_machos_femininos.html

«Portugueses: machos... ou femininos?
Somos femininos! Também o são os escandinavos.
A feminilidade é uma característica cultural com implicações para a vida organizacional e societal. Nas sociedades masculinas prevalecem a orientação para os resultados, o sucesso e a competição. Os homens e as mulheres têm papéis bem distintos: o homem deve ser forte, impor-se e interessar-se pelo sucesso material. Da mulher espera-se que seja mais modesta, terna e preocupada com a qualidade de vida. As culturas femininas valorizam o bem- -estar e a qualidade do relacionamento interpessoal.
Espera-se que homens e mulheres sejam modestos, ternos, preocupados com a qualidade de vida, a preservação do ambiente e a ajuda aos outros.
Os dados de Hofstede são claros: Portugal é feminino. Em entrevista à Exame, em 1997, o autor sublinhava:
"Portugal é um país tipicamente latino, pertencendo, por isso, ao grupo mais feminino. No entanto, reconheci imediatamente que os portugueses diferem dos outros países latinos e, ao contrário dos espanhóis, não matam os seus touros. Os portugueses tendem a ser mais simpáticos para as pessoas e são bons negociadores, tentando sempre encontrar uma via pacífica. Por isso, resolvem muitos problemas negociando, e não guerreando."
O recente projecto multinacional GLOBE (Global Leadership and Organizational Behavior Effectiveness) reitera: somos menos assertivos do que a média e os níveis de igualitarismo sexual são superiores à média das mais de 60 sociedades estudadas. Estudos nacionais e internacionais sobre o perfil motivacional português reforçam o dado: somos afiliativos.
Em suma: (1) comunicamos de modo indirecto; (2) procuramos ser "diplomáticos"; (3) nem sempre dizemos o "não" que gostaríamos de afirmar!; (4) valorizamos as relações interpessoais e as amizades; (5) valorizamos mais a boa relação com o superior do que a transparência e a justiça dos procedimentos. Pela vertente mais negativa, somos propensos ao "amiguismo".
E, dado que também valorizamos a "distância de poder", acabamos por reverenciar desmesuradamente as figuras de autoridade e por dizer aos nossos líderes o que eles desejam ouvir! A nossa feminilidade também ajuda a explicar por que os sistemas de recompensa do mérito, ao introduzirem factores "agressivos" de competição e diferenciação, são dificilmente implantáveis e geram, por vezes, efeitos perversos.
Será a feminilidade um "defeito"? Não é. Os países escandinavos são mais femininos do que Portugal e atingiram níveis invejáveis de desenvolvimento económico. E, tal como reflectem os seus elevados índices de desenvolvimento humano (ONU), conciliaram o crescimento económico com uma forte orientação para a qualidade de vida, o equilíbrio social e a qualidade ambiental.
Ao contrário, alguns países fortemente masculinos alcançaram forte crescimento económico, mas acompanhado de grandes bolsas de exclusão social e problemas ambientais acentuados. O facto de sermos femininos não nos torna, pois, menos capazes. Podemos melhorar os índices de desenvolvimento económico sem nos descaracterizarmos.
Do que precisamos é de mais orientação para o rigor, o planeamento e a organização. Necessitamos de premiar o mérito, criando transparência nos processos - para que a inveja deixe de ser uma pecha nacional. Urge criar sistemas de responsabilização individual a todos os níveis, para que a culpa "não morra solteira" e as responsabilidades pelas nossas asneiras não sejam diluídas por entre o colectivo da acção.
Podemos melhorar o nosso desenvolvimento económico canalizando-o para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses, num clima de harmonia que evite os focos de distúrbio e as maleitas sociais mais perversas.
Podemos conciliar a competição com a cooperação - gerando coopetição! Afinal, para que serve o desenvolvimento económico se não for acompanhado da realização pessoal e de maior felicidade? O País e os portugueses têm virtudes assinaláveis. Que elas sejam orientadas para a melhoria económica e o bem-estar.»
Segundo os quatro indicadores disponíveis (o 5º só está disponível nalguns países), Portugal é uma sociedade “colectivista” e “feminina”- o que beneficia o posicionamento pretendido e, pelo menos no caso deste último parâmetro, comprova modernidade.
Pelo contrário, os dois indicadores restantes - “distância hierárquica” e “controlo de incerteza” - são francamente negativos: Portugal tem uma estratificação organizacional ainda muito vertical e apresenta neste estudo a 2ª mais alta necessidade de “controlo de incerteza” (revela um verdadeiro pavor dos portugueses face a cenários de incerteza hierárquica, com regras pouco definidas).
Estes dois dados prendem-se com características nacionais que estão na base de alguns problemas estruturais: falta de iniciativa, burocracia, processos estratificados e morosos de decisão, infantilidade e irresponsabilidade (necessidade de alguém acima que manda, a quem se pede, que é responsável).
Parece evidente (só por teimosia não se reconhecerá) que Hofstede, G. (1991), Cultures and Organizations: Software of the mind. London: McGraw-Hill (há uma edição em português) identificou bem (a partir dos inquéritos realizados em Portugal) o que se faz em Portugal no dia-a-dia, para matar o tempo: desenvolver jogadas de bastidores, valorizar a cunha mais do que o mérito, intrigar para que os que nos passam à frente por esforço próprio, inteligência ou dedicação ao trabalho sejam penalizados (nivelamento por baixo), integrar grupos que protejam e distribuam benesses a troco de uma lealdade por vezes cega, para além de bajular os chefes (lamber as botas como se diz na gíria).
Apesar de conscientes desta realidade, ou talvez mais conscientes do que parecem, os portugueses resignam-se a uma matriz que aceitam ser difícil de mudar, pelo enraizamento cultural que evidencia, patente na inveja pessoal que diariamente mina as relações profissionais, com repercussões na produtividade do trabalho e na competitividade das empresas, organizações e da economia, na mediocridade do desempenho profissional que é no entanto premiado devido às relações pessoais de confiança pela ligação a grupos externos à dimensão profissional, pela penalização das relações entre pessoas que não pertençam aos mesmos grupos políticos, deteriorando as relações pessoais, preferindo a lealdade passiva seguidista à competência empenhada e autónoma.
Por tudo isto e muito mais que não conseguimos mudar nos últimos 30 anos, antes acentuámos (desde os primeiros anos do ensino), sofremos e continuaremos a sofrer consequências do nosso não desenvolvimento.
São estes (os culturais) alguns dos factores responsáveis pelas questões organizacionais e procedimentais que impedem a valorização dos fundos comunitários em benefício do desenvolvimento do país.
Não o entender, ou melhor, entender e assobiar para o lado, é comprometer o futuro de todos pensando apenas em cada um, no desenrrascanso individual, no salve-se quem puder e no fechar da porta por quem vier atrás: a negação do princípio da sustentabilidade da sociedade.
Não serão muitos os anos necessários até constatarmos que não haverá mais portas para fechar, apesar de continuarem a existir muitos à procura delas.

Para terminar, mais um artigo sobre o tema, disponível em: http://dn.sapo.pt/2006/01/27/economia/por_nos_tratamos_dr_engo.html «Por que nos tratamos por Dr. ou Eng.º? Uma das características mais visíveis da cultura portuguesa - e certamente da cultura de gestão portuguesa - é a propensão para o uso de títulos académicos.

O uso de títulos (Dr., Eng.º.) é certamente mais praticado em algumas organizações do que noutras, mas, na comparação com outros países da União Europeia (UE), os portugueses são pródigos no uso de títulos. É aliás frequente, nas situações em que se conhece menos bem o interlocutor, colocar um cauteloso Dr. antes do nome. Na dúvida, antes a mais que a menos.

Esta propensão nacional para a utilização dos títulos pode naturalmente ter diversas explicações, mas uma das mais plausíveis pode ser encontrada no monumental trabalho de campo desenvolvido por um sociólogo holandês, Geert Hofstede.

O seu livro Culture's Consequences, originalmente publicado em 1980, é uma obra de referência dos estudos de gestão transculturais.

Neste trabalho, Hofstede tomou a cultura como variável independente ("causadora" de outras variáveis) e procurou analisar as suas implicações para o funcionamento da sociedade e das organizações.

O trabalho deste ex-director da IBM sugeriu que as diversas culturas nacionais podem ser caracterizadas de acordo com um conjunto de quatro dimensões individualismo/colectivismo, evitamento da incerteza, masculinidade/feminilidade e distância hierárquica.

Destas dimensões, a última, distância hierárquica, é particularmente relevante para a resposta à questão que aqui se discute.A distância hierárquica reflecte o grau de deferência que os indivíduos projectam sobre os seus superiores hierárquicos, assim como a necessidade de manter e respeitar um certo afastamento (social) entre um líder e os seus subordinados.

Nos países e regiões de elevada distância (e. g., Portugal, Espanha, América Latina, Ásia e África), superiores e subordinados consideram-se desiguais por natureza. A distância emocional entre chefias e subordinados é elevada. Detecta-se uma grande reverência pelas figuras de autoridade, e atribui-se grande importância aos títulos e ao status.

Ao contrário, em países com baixa distância hierárquica (e. g., EUA, Grã-Bretanha e países não latinos da Europa), a dependência dos subordinados relativamente aos chefes é limitada. Os primeiros não sentem desconforto considerável por contradizer os segundos. Uns e outros consideram-se iguais por natureza.

Nos países com distância hierárquica tendencialmente mais elevada, o uso de símbolos de status representa portanto uma forma de explicitar e de assinalar o reconhecimento das distâncias entre pessoas pertencentes a diferentes escalões sociais ou organizacionais. A distância tende a aumentar a dificuldade de comunicação franca entre líder e equipa.

Por exemplo, observava recentemente um gestor do Norte da Europa expatriado em Portugal que, quando perguntava aos elementos da sua equipa se estavam de acordo com ele, a resposta era sempre afirmativa. Surpreendido com tão consistente e persistente acordo retomou a discussão perguntando se estavam mesmo de acordo ou se estavam a procurar ser obedientes.

A resposta é fácil de adivinhar.

Miguel Pina e Cunha Director de MBA da Universidade Nova de Lisboa»

DESEMPREGO ATINGE RECORDE DOS ÚLTIMOS 20 ANOS

A Comissão Política Distrital de Évora do PSD, reunida no dia 14 de Fevereiro, vem denunciar os graves erros das políticas económicas e sociais do Governo PS, por nomeadamente agravarem o desemprego e as condições de vida dos Alentejanos e dos Portugueses em geral.
A publicação dos resultados trimestrais da taxa de desemprego verificadas no 4º trimestre de 2006 atingiu o valor de 8,2% o mais alto dos últimos 20 anos. Verifica-se que no Alentejo aquele valor é de 9,2% e em Évora ainda é superior, afectando principalmente os jovens licenciados.
É altura de perguntar ao Governo onde estão os 150.000 postos de trabalhos prometidos em campanha.
O número de desempregados é o dobro dos valores registados em média nos anos 90 e início de 2000. A agravar esta situação vai o Governo dispensar mais de três mil jovens, que em Março concluem os 12 meses de estágio na função pública. Assim, e depois da formação e da experiência adquirida, que absorveu 35,6 milhões de euros de verbas comunitárias, todos os jovens vão regressar ao desemprego.
Como a maioria desses estagiários se inscreverá nos centros de emprego, então é de prever um aumento de cerca de 1% do número de desempregados apurados pelo IEFP.
Um Governo que encerra serviços de urgência, que diminui as comparticipações dos medicamentos aos idosos e faz subir os seus preços, que contribui para o agravamento do desemprego, não é justo, e obriga-nos a criticar toda a argumentação falaciosa e demagógica, em particular dos seus deputados eleitos pelo círculo de Évora, bem como toda a estrutura dirigente do PS local que, por inabilidade e o logro político a que conduzem o Distrito, e a Região, devido à política "apenas" economicista dos socialistas.
É imperioso inverter este rumo de desgovernação, em que um Governo que se diz de esquerda está a matar o Estado social e a contribuir para o agravamento generalizado da vida dos Portugueses.
Évora, 16 de Fevereiro de 2007
A COMISSÃO POLÍTICA DISTRITAL DE ÉVORA DO PSD
(António Costa Dieb - Presidente)

UNIVERSIDADES: e a prata da casa?

2007-02-13

DEMORA A CONVENCER ...

Também houve tempos em que acreditei que seria possível mudar substancialmente a face e o perfil da região pelos efeitos do empreendimento. Era novo, estudante, aprendiam-se na escola a teorias da dependência que tinham feito furor na América Latina e que os nossos teóricos marxistas para cá importaram literalmente (e que ainda hoje ventilam na sua forma mais pura como se não tivesse sequer existido o advento do termo globalização) e, por último mas igualmente importante, a PAC ainda nem sequer estava no papel, muito menos a sua reforma.
Não foram necessários muitos anos para me convencer do erro em que laborava o meu convencimento.
Bastou constatar que os agricultores alentejanos não exigiam a construção do EFMA, antes abandonavam o cultivo nos perímetros de rega existentes, mesmo os pequenos: Divor, Caia, Odivelas, etc...
Só os trabalhadores agrícolas em agonia devido à seca, os seus sindicatos ligados às forças políticas dominantes na região e o PS que pretendia engolir o PC no Alentejo, se revelavam os verdadeiros defensores, uns por interesse, outros por ingenuidade e outros por teimosia.
Agora, como tudo o resto parece perdido, ao menos uns complexos turísticos , não é? Como podem alguns vir dizer que estão desencantados? Com o quê, se nunca houve encantamento?
Anda tudo a dormir...

2007-02-04

NOZES PARA QUEM NÃO TEM DENTES

O apelo do Presidente da Câmara de Évora à votação no Templo Romano de Évora como uma das supostas maravilhas nacionais é curioso, pelo facto de fazer referência, no final do texto, à celebração do 20º aniversário da classificação como Património da Humanidade, pela UNESCO.
O pitoresco do texto é precisamente esses facto: que quase não tenham existido durante o ano que passou (2006), iniciativas da Câmara Municipal a valorizarem esse evento, tendo perdido oportunidade da sua ampliação.
É indiscutível que sem o estatuto de património da humanidade da UNESCO, Évora seria hoje uma cidade bem pior do que aquela que hoje temos, pelos efeitos que foram induzidos sobre o turismo (hotelaria, restauração, comércio e transportes), com benefícios na dinâmica económica e empresarial local, fundamental numa cidade do interior do país sem qualquer vocação económica competitiva (agrícola, industrial ou comercial), que cresceu e ainda hoje se mantém demasiado dependente dos serviços desconcentrados da Administração Pública.
Mas, a verdade é que o estatuto de “Cidade Museu” alcançado em 1986, quando o “cluster” do turismo (urbano e cultural) ainda era incipiente em Portugal, deveria ter permitido um efeito de alavancagem de Évora na dianteira entre as cidades portuguesas, que tal oportunidade procuraram e vieram a secundar.
No entanto, 20 anos depois, constatmos sim que várias outras cidades, partindo de condições menos vantajosas, ultrapassaram Évora, imprimindo maior dinâmica à condição (mundial) que lhe foi reconhecida e daí tirando maiores dividendos:
  • Não adormeceram à sombra de um estatuto passivo de “cidade-museu”;
  • Não se limitaram a garantir aquilo a que a UNESCO obrigou: aceitáveis níveis de conservação e recuperação dos seus monumentos classificados;
  • Aproveitaram o estatuto da UNESCO enquanto vantagem para aumentar a atracção e a fixação turística, através de iniciativa própria que falta em Évora: condições de acolhimento, informação e sinalização turística, animação urbana e cultural;

Continua assim por preencher uma condição essencial para que Évora possa efectivamente fertilizar um estatuto que lhe foi atribuído: a implicação dos eborenses em geral e dos seus agentes económicos em particular, de forma a ampliarem tal estatuto pela sua acção quotidiana motivadora.

Tal não aconteceu em 1986 nem foi conseguido em 20 anos, deixando aos eborenses apenas um legado, que herdaram, sem mais.

E, convenhamos, não bastará à CME apelar à mobilização dos eborenses à votação no virtual "big brother dos monumentos", para esconder a sua incapacidade quotidiana de concretização real.

2007-02-01

O CLUSTER DAS NOVELAS ALENTEJANAS TEM FUTURO

Parece estarem resolvidos os principais problemas de desenvolvimento do concelho e da cidade de Évora, nomeadamente no que às condições de mobilidade diz respeito.
Os turistas que chegam diariamente à cidade, vindos dos 4 cantos do mundo, encontram excelentes condições de acolhimento, iniciação e orientação dos percursos de exploração turística da cidade e do concelho.
Basta ver como o Rossio de S. Brás já está "excelentemente" requalificado, sendo agora (desde há 5 anos) um cartão de visita da cidade:
Sobra assim tempo, em Évora e noutras partes do distrito, para o show mediático cujo vício as novelas por cá deixaram em tempos, a alguns agentes partidários e autárquicos, os quais se deixaram enredar pela inexplicável cretinice que constitui a eleição das 7 maravilhas de Portugal pelo sistema que está estabelecido, levando a que os bairrismos e a afectividade toldem e prejudiquem uma apreciação histórica, cultural, arquitectónica, geográfica, social e económica justa e objectiva dos vários lugares de interesse nacional.
Mais deplorável ainda parece o facto de que agentes e actores institucionais e/ou políticos de cidades e vilas com estatuto nacional, internacional e mesmo mundial já afirmado e reconhecido, se prendam e se permitam deixar expor o estatuto conquistado a uma espécie de "big brother" cujo único objectivo visível será o da mediatização e aumento das audiências televisivas à custa da exploração dos sentimentos de pertença local em torno da discussão sobre o tema: "a minha terra é mais maravilhosa que a tua".
Confundir esta discussão, claramente apalhaçada, com o trabalho de promoção turística que cabe a uma região enquanto destino turístico integrado que deve afirmar-se como um todo em mercados amplos, soa a politiquice barata e a falta de saber-estar e saber-conviver democraticamente com as restantes forças políticas quando com elas e para elas se perde a razão, por culpa de alguma intolerância e sectarismo.
Não tendo nada nem qualquer interesse empatado numa disputa que já está resolvida, cuja solução e desfecho foram sancionados pelos tribunais, fiquei mais atento ao grau de coerência dos argumentos em torno da discussão sobre quem mais contribui para a elevação da sua terra ou local a maravilha de Portugal.

Veja-se o contributo que alguma(s) entidade(s) oficial local ou distrital deu esta semana para, durante 2 dias, embelezar o Templo Romano de Évora e várias das ruas da sua envolvente, permitindo o estacionamento de várias dezenas de autómóveis (imobilizados desde as 8.30 horas até às 18 horas) dos quadros de um operador turístico com estabelecimento no Centro Histórico.

Como se os mesmos não pudessem ter-se deslocado de autocarro do adjacente concelho onde dormiram, para o local da reunião de trabalho, em Évora.

No entanto, talvez por distracção, não vi nenhuma referência, nos vários comunicados de imprensa da semana, vindos de vários quadrantes e actores, a este contributo para a excelência de Évora que, pelos vistos, ainda precisa de elevar um dos seus monumentos a maravilha nacional, como se não beneficiasse já de um estatuto mundialmente consagrado, que ultrapassa a dimensão nacional.

Antes vi argumentos novelísticos, na linha daquilo que é o show mediático de alguns partidos no exercício do poder locail: muito espectáculo, pouca e má obra.